Aulas de Giriraj Swami em Português

Porque Eu Gosto de Todos [[novo]]

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Acerca dos Seis Gosvamis, diz-se: dhiradhira-jana-priyau priya-karau nirmatsarau pujitau—são populares entre as pessoas amáveis e os malfeitores, porque não são invejosos de ninguém; tudo o que fazem é do agrado de todos.

Numa caminhada matutina, em Los Angeles, no ano 1973, Srila Prabhupada demonstrou as mesmas qualidades. Ele reciprocou de uma maneira tão perfeita com cientistas, pregadores, administradores, distribuidores de livros e até com os meus pais, que todos ficaram contentes e satisfeitos.

Srila Prabhupada foi atencioso com todos. Certa manhã,  os meus pais, tendo vindo visitar-me desde Chicago, juntaram-se a nós para um passeio no Parque Cheviot Hills. Prabhupada saudou a minha mãe, “Oh, Sra Teton, está tão jovem.” Ela ficou contente—e todos ficaram contentes. No final do passeio, dirigimo-nos ao parque de estacionamento de carros e o meu pai olhou atentamente para o Rolls Royce que os devotos tinham colocado à disposição de Prabhupada. Srila Prabhupada, sempre humilde, quase que acanhado, explicou, “Os meus discípulos alugaram-no para mim.” E o meu pai respondeu imediatamente, “Oh, não, o senhor merece. O senhor merece.” Então, Srila Prabhupada convidou-o, “Pode vir no carro comigo.” Mas o meu pai respondeu, “Não, não, estamos com o nosso.”

Depois de nos termos ido embora (e como me foi relatado posteriormente), o assistente de Srila Prabhupada disse a Sua Divina Graça, “Srila Prabhupada, todos as pessoas gostam muito do senhor.” Srila Prabhupada respondeu, “Sim, porque eu gosto de todos.”

 

 

Written by nityananda108

Fevereiro 25, 2014 at 7:27 am

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Serviço ao Homem e Serviço a Deus (do livro Watering the seed)

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Antes de conhecer Srila Prabhupada,  já tinha o desejo de servir a humanidade. Então ouvi  de Srila Prabhupada  sobre a importância do serviço ao Senhor Krsna. Porém, a interrogação manteve-se-Como é que o serviço a Deus se relaciona com o serviço ao homem ?

Em Maio de 1969, depois de uma semana a escutar Srila Prabhupada, tive a oportunidade de lhe colocar essa questão.

Srila prabhupada tinha acabado de concluir a sua aula:

sa vai pumsam paro dharmo

  yato bhaktir adhoksaje

ahaituky apratihata

  yayatma suprasidati

 “Sem realização espiritual,não é possível ter uma mente pacífica. Se quiseres ter paz na mente, paz no mundo, paz na tua sociedade, paz na tua familia, não será possível simplesmente através da acumulação de dinheiro e do avanço material. Mas se te aperfeiçoares um pouco que seja na vida espiritual, imediatamente te tornarás feliz. . . .

“Se tiverem perguntas, podem colocá-las.”

“Falou de serviço ao Senhor Krishna,” perguntei. “ Mas como é que isso se relaciona com o serviço à humanidade?.”

“Porque é que tu e os outros vêm cá?” Srila Prabhupada respondeu. “Não estamos a prestar serviço? Libertar as pessoas da existência material e trazê-los à consciência de Krishna é o melhor serviço.

“O que significa servir? Significa aliviar o sofrimento. E a consciência de Krsna traz o melhor alívio, como se confirma no Bhagavatam [1.2.6]: ‘ O melhor serviço, a melhor religião, a melhor filosofia é aquela que nos ensina a servir a Deus.’ E à medida que a pessoa se aproxima do serviço a Deus, isenta de qualquer motivo, fica imediatamente satisfeita (yayatma suprasidati).

“Com cinco anos de idade, Dhruva Maharaja foi insultado pela sua madrasta. Ele queria o reino de seu pai. Sua mãe aconselhou-o, ´Só Deus pode ajudar-te.´   Dhruva partiu imediatamente para a floresta para encontrar Deus. Mas quando  teve uma visão de Deus, disse, ´Meu Senhor, não desejo nada. Estou plenamente satisfeito. Vim à procura de alguns pedaços de vidro partido mas agora encontrei a jóia mais valiosa.´ Quando descobre a sua relação eterna com Deus, a pessoa sente, ´Não tenho nenhum pedido a fazer.´ Levá-la a ter este sentimento ´Não tenho mais nenhuma exigência, estou plenamente satisfeito´ é o melhor serviço.

O que é isso a que chamamos serviço material? Imagina que estou com fome e tu dás-me de comer; não ficarei com fome de novo? Claro que o movimento da consciência de Krsna também dá de comer. Mas damos alimento para que a pessoa fique satisfeita para sempre. Nem mais fome nem mais exigências. ´Estou plenamente satisfeita´ (svamin krtartho ’smi). ´Não tenho mais nada a pedir´ (varam na yace). É simplesmente uma ilusão pensar que podemos satisfazer a nossa fome materialmente. América é materialmente avançada mas, estão satisfeitos? Existem tantos jovens frustrados, hippies. Porém, as pessoas desavergonhadas pensam, ´Se nos tornarmos tão ricos como a América, seremos felizes.´ Através de arranjos materiais, nunca seremos felizes.

“Verdadeira felicidade manifesta-se quando aprendemos a amar a Deus, e isso pode ser alcançado sem melhorias materiais. Onde quer que estejamos, em qualquer condição de vida, podemos simplesmente cantar Hare Krsna e desenvolver tal amor. Então,  poderemos dizer, ´Agora estou plenamente satisfeito. Não quero nada mais. Não mais roubar, nem meter mais as mãos nos bolsos dos outros, nem mais enganar. Como não tenho nenhum desejo, porque terei que enganar?´ ”

As palavras de Srila Prabhupada entraram profundamente no meu coração. Apesar de estar orgulhoso da minha honestidade, tinha uma debilidade. Tinha desenvolvido o hábito de tirar coisas das lojas, subtraindo pequeninas coisas de aqui e de acolá. Mas a afirmação de Srila Prabhupada “não roubar mais” fez-me realizar o quão verdadeiramente desqualificado era-e como poderia ser salvo pela consciência de Krsna.

yam labdhva caparam labham

  manyate nadhikam tatah

yasmin sthito na duhkhena

  gurunapi vicalyate

Srila Prabhupada continuou, “Talvez conheças a história.  Uma pessoa santa  estava sentada num lugar solitário, quase nua. Alexandre o Grande perguntou-lhe, ´Posso fazer alguma coisa por ti?´ Ela respondeu, ´Por favor desvia-te. Estás a fazer sombra. Isso é tudo.´ Que poderia fazer Alexandre o Grande a uma pessoa que estava plenamente satisfeita?

yam labdhva caparam labham

  manyate nadhikam tatah

yasmin sthito na duhkhena

  gurunapi vicalyate

Encontrarás no Bhagavad-gita [6.22] que  se uma pessoa está situada na posição transcendental, não tem mais nenhuma exigência e não se perturba mesmo na maior das dificuldades. Isto é vida-estar satisfeita em todas as circunstâncias. E esta paz só pode ser alcançada através da consciência de Krsna.”

Fiquei satisfeito. Não havia necessidade de procurar mais. Srila Prabhupada podia responder a qualquer pergunta.

A única maneira de permanecer em paz e feliz na vida, era seguir Srila Prabhupada e tornar-me consciente de Krsna. E a melhor maneira de servir os outros era dar-lhes consciência de Krsna.

Srila Prabhupada tinha mostrado o caminho perfeitamente. Agora, só tinha que o seguir.

Written by nityananda108

Julho 10, 2013 at 4:27 pm

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A Fé de Srila Prabhupada no Santo Nome

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Uma palestra dada por Giriraj Swami num retiro de japa a 9 de Abril de 2009 no Palácio de Srila Prabhupada, Nova Vrindaban, Virginia Ocidental.

Enquanto cantávamos, olhei para a pintura de Srila Prabhupada na parede, pintada a partir de uma fotografia dele de 1966, e pensei em como ele tinha vindo ao mundo ocidental para nos dar o santo nome. Veio, seguindo a instrucção de seu mestre espiritual, com plena fé no santo nome, pensando que, se as pessoas como nós , simplesmente cantassem o santo nome tudo o resto surgiria.

Srila Prabhupada tinha um irmão espiritual que se chamava Niskincana Krsnadasa Babaji, que Prabhupada dizia ser um paramahamsa, uma alma liberada. Babaji Maharaja aproximou-se a outro irmão espiritual de Prabhupada,  que tinha sido enviado por Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura para pregar na Inglaterra , mas que não tinha tido muito êxito e que finalmente tinha regressado à India, e disse-lhe, “Tu foste para o Ocidente, e Swami Maharaja [Bhaktivedanta Swami—porque os discípulos de Srila Bhaktisiddhanta também se referem a seu guru maharaja como “Srila Prabhupada”] foi para o Ocidente. Tu expuseste os ensinamentos  do Senhor Caitanya e Swami Maharaja expôs os ensinamentos do Senhor Caitanya. Tu deste a conhecer o Hare Krsna maha-mantra e Swami Maharaja deu a conhecer o Hare Krsna maha-mantra. Entretanto Swami Maharaja teve um êxito espectacular e os teus resultados foram insignificantes. Qual é a razão?” Então o próprio Babaji Maharaja deu a resposta: “Porque Swami Maharaja tinha fé plena no santo nome de Krsna e tu não.”

Esta é uma afirmação muito forte e um ponto extremamente significativo. Prabhupada tinha fé plena no santo nome e com essa convicção veio para o Ocidente, deu-nos o santo nome e animou-nos a cantar.

Há uns anos atrás, outro irmão spiritual, Dr Oudh Bihari Lal (O. B. L.) Kapoor, inciado com o nome  Adi Kesava dasa, tinha-se encontrado com Prabhupada em Mathura. No asrama de grhastha Srila Prabhupada tinha sido um quimico ou farmacêutico. O Dr. Kapoor perguntou-lhe, “Tu és um farmacêutico; conheces muitas fórmulas. Sabes qual é a fórmula para desenvolver amor a Deus?” Srila Prabhupada respondeu, “Sim, sei qual é.” [risos] Dr. Kapoor retorquiu, “Podes dizer-me qual é?”  Prabhupada disse, “Sim. Trnad api su-nicena, taror iva sahisnuna/ amanina mana-dena, kirtaniyah sada harih.” A fé de Srila Prabhupada no santo nome existia desde o começo. Serviu de base à sua viagem para o Ocidente, no seu serviço ao seu mestre espiritual e a todos nós.

Em Mathura, na cerimónia de sannyasa de Srila Prabhupada e enquanto o sacerdote conduzia o fogo de sacrificio e recitava vários mantras, Krsnadasa Babaji cantava o santo nome. Ele saboreava verdadeiramente o santo nome. Numa noite, em Ekadasi, Sua Santidade Bhakti Bhrnga Govinda Swami levou-me até ele. Estava sentado num pátio de um asram onde estava muito escuro—talvez houvesse uma luz muito ténue vinda de uma lâmpada num canto—e ali estava ele a recitar japa e a saborear. Podia-se perceber que ele estava a degustar, a saborear. Na verdade, estava a beber o néctar do santo nome. Então, durante um interlúdio na cerimónia, Krsna Dasa Babaji liderava o kirtana , e quando chegou o momento de encerrar a cerimónia com a recitação de mantras, o sacerdote gesticulou em direcção a ele e disse-lhe, “ Podes acabar agora o kirtana.” Mas quando o sacerdote se concentrou de novo na cerimónia, Prabhupada acenou discretamente a Babaji Maharaja e disse, “Continua a cantar. Continua a cantar.” [risos] Babaji Maharaja, enquanto contava esta história, comentou, “Nesse momento, pude perceber que ele seria o líder do movimento Hare Krsna.” Srila Prabhupada tinha essa fé profunda.

Logo depois de me ter unido ao templo de Boston, os devotos enfrentaram-se com uma crise financeira. Nessa altura não se fazia regularmente hari-nama-sankirtana, nem se distribuiam livros na rua. Só haviam programas vespertinos no templo às segundas, quartas e sextas feiras e a festa de confraternização aos Domingos da parte de tarde. Prabhupada tinha dito aos devotos que, se necessário, poderiam arranjar empregos. Satsvarupa dasa, o presidente do templo, era um assistente social e o seu ordenado da assistência social, era o única receita que o templo tinha. Entretanto, à medida que o departamento de arte se desenvolvia e mais devotos se uniam ao templo, essa receita tornou-se insuficiente.

Os devotos, que eram muito rendidos, reuniram-se e um deles, Patita-pavana, disse que tinha trabalhado nos correios antes de se unir ao movimento e que poderia ir trabalhar para lá. Outro disse que conhecia uma mercearia no fundo da rua e que talvez pudesse conseguir um trabalho nessa loja. Os devotos voluntariaram-se para ajudar de todas as maneiras possiveis. De repente, um devoto chamado Nanda Kishora levantou a sua mão. Ele era muito humilde, aliás como a maior parte dos devotos. Ele citou uma carta de Srila Prabhupada. Todas as cartas de Srila Prabhupada eram aceites como documentos importantes, instrutivos para todos. Sempre que chegava uma carta, todos os devotos se reuniam e o destinatário abria-a e lia-a,  e todos os outros escutavam. Portanto Nanda-Kisora citou uma carta de Srila Prabhupada: “Se sairem em sankirtana todos os vossos problemas serão resolvidos—espiritualmente e materialmente.” Todos concordaram; “Sim, isso é o que devemos fazer.”

No dia seguinte fomos para as ruas cantar—nem sequer tínhamos BTGs para distribuir—e pedíamos doacções às pessoas. Voltámos, contámos o laksmi e vimos que tínhamos amealhado sete dólares. Nessa altura sete dólares era algo substancial. O processo pareceu promissor e decidimos fazer o mesmo no seguinte dia. Saímos à rua, fizemos a mesma coisa, talvez com mais entusiasmo e convicção, regressámos e contámos o laksmi: doze dólares. Pensei, “Isto está a ficar interessante. O que Prabhupada disse é verdade.” Saímos no terceiro dia, regressámos e contámos dezanove dólares.  Então, ficámos sem dúvida alguma de que o que Prabhupada tinha dito era verdade. E começámos a sair todos os dias. “Se cantarem Hare Krsna, todos os vossos problemas serão resolvidos—materialmente e espiritualmente.” Srila Prabhupada tinha essa fé.

Eventualmente mudámo-nos da pequena lojinha do número 95 na Avenida Glenville para uma mansão bastante grande na Rua North Beacon no número 40. Era a primeira propriedade que pertencia à ISKCON, a primeira que os devotos compraram. Srila Prabhupada estava muito entusiasmado e disse que a imprensa deveria mudar de Nova York para Boston. Os devotos começaram a imprimir os livros de Prabhupada e um dos primeiros foi o Fácil Viagem a Outros Planetas. Ele dirigiu todos os aspectos das publicações inclusivé a apresentação dos livros. Ele dava os títulos aos livros e neste caso especifico instruiu-nos sobre o que queria  para a capa: Numa parte deveria aparecer o universo material—o espaço exterior com as diferentes estrelas e planetas—e na outra parte deveria aparecer o céu espiritual com alguns planetas Vaikuntha e, em grande plano, Goloka Vrndavana com Radha e Krsna. Também queria que houvesse um devoto que estivesse a voar no espaço desde o universo material até ao céu espiritual, com dhoti, kurta, sikha e japa mala. A capa deveria retratar o tema do livro sendo que através da bhakti-yoga, através da recitação de japa, poderemos viajar mais além do universo material até ao céu espiritual, até Goloka Vrndavana. O cantar é o nosso bilhete que nos leva de volta a Deus.  Prabhupada ficou muito satisfeito quando, mais tarde, os devotos lhe mostraram a capa. Então disse, “Sim, através das contas.” [risos] Cantar o santo nome é muito poderoso. Srila Prabhupada tinha essa fé.

Depois fomos para a India e, estando lá, Prabhupada surpreendeu-nos. Iniciámos o hari-namasankirtana, como faziamos no Ocidente, mas eventualmente Prabhupada disse-nos para parar. Disse que não deveríamos fazer muito sankirtana na rua, porque na India os mendigos vão para a rua cantar para pedir dinheiro e ele não queria que as pessoas pensassem que éramos mendigos. Ele introduziu o programa de membros vitalícios, dizendo que tinha sido concebido para que se pudesse distribuir os seus livros. Também animou a execução de programas em grandes pandals (tendas muito grandes), a que chamou “Festivais Hare Krsna.” O primeiro foi realizado em Bombaim e o segundo seria em Calcutá. Nessa altura Calcutá estava a ser agitada pelo partido comunista e por um grupo de jovens comunistas chamados Naxalites, cujo programa era aterrorizar pessoas abastadas. Costumavam raptar os filhos das pessoas ricas e exigir grandes somas de dinheiro. Não era incomum dispararem sobre as pessoas ricas na rua e matarem-nas. Era uma situação infernal e algumas pessoas mais ricas dessa altura fugiram de Calcutá para Delhi, e para outros lugares.

Nesta atmosfera Srila Prabhupada queria que organizassemos um grande programa de pandal e enviou Tamal Krishna Goswami e a mim para lá, desde Bombaim. Antes do programa começar, Prabhupada recebeu uma mensagem, “Foge ou morre.” Parecia um grande drama, mas o autor da carta tinha cortado as letras dum jornal, para que ninguém pudesse detectar quem a tinha escrito, colou-as num papel e enviou-a. No dia anterior ao programa tinha havido uma conferência de imprensa e o humor de muitos jornalistas era agressivo. Um deles desafiou Prabhupada, “Qual é o benefício deste programa de pandal? Poderia gastar o dinheiro ajudando as pessoas pobres.” Prabhupada respondeu, “Qual é o benefício? O benefício será  o de ouvir. As pessoas terão a oportunidade de escutar.” E continuou, “Este arranjo monumental  deriva da escuta.  Fui para o Ocidente falar e alguns jovens escutaram-me, e devido a que me escutaram, vieram para cá para instalar este grande programa.” Sempre destemido, Srila Prabhupada persistia na sua missão.

Havia um costume, neste tipo de programas de pandal,  que o chão fosse quase todo coberto com daris (tapetes indianos), e nos lados houvessem cadeiras para os convidados. No nosso pandal as cadeiras estavam reservadas para  os VIPs que tinham sido convidados,  para os membros vitalícios e para todos os que tivessem pago uma rupia. Logo na primeira noite, antes do programa começar, um grupo de Naxalites criou um grande tumulto: “Porque é que  algumas pessoas estão sentadas nas cadeiras e outras têm que se sentar no chão? Todo o mundo deve sentar-se no chão.” Estavam à procura de uma oportunidade para começarem uma briga. Enquanto Prabhupada estava no palco com as deidades e os discípulos, estes Naxalites começaram a gritar e a perturbar de uma forma deliberada. Depois agarraram numas cadeiras e começaram a fazer barulho com elas para acabar com o programa. A atmosfera estava bastante tensa porque estes Naxalites podiam actuar de uma forma inesperada; podiam tornar-se violentos. Não os queríamos agitar ainda mais mas, a menos que parassem, Srila Prabhupada não poderia discursar porque estavam a fazer um grande distúrbio.

Olhávamos todos para Srila Prabhupada—Que é que fazemos? De repente ele inclinou-se para o microfone, e…começou a cantar: “Govindam adi-purusam tam aham bhajami.” Cantou as orações Govindam e de alguma maneira a perturbação chegou ao fim com os jovens a colocarem as cadeiras no chão e a sairem silenciosamente. Pareceu um milagre.

O seguinte programa de pandal foi em Delhi e estando aí, Srila Prabhupada foi convidado para ir a Madras mas já tinha planeado levar os seus discípulos pela primeira vez a Vrndavana. Contudo, ele queria que alguém fosse a Madras, mas ninguém queria ir porque preferiam ir com Prabhupada a Vrndavana. De alguma maneira tive a ideia que o segredo da Consciência de Krsna  estava em seguir a ordem do mestre espiritual e satisfazê-lo, por isso, voluntariei-me.

Em Madras, estive a maior parte do tempo sózinho. Pedia ajuda regularmente, mas era difícil conseguir que os devotos viessem. Nessa altura uma canção tornou-se moda. Nos seus significados, Srila Prabhupada menciona algumas canções de cinema, que são as mais populares na India. O refrão desta canção em particular (e não me lembro de todos as palavras) era “Dam maro dam . . . Hare Krsna Hare Rama. Hare Krsna Hare Rama. Hare Krsna Hare Rama.” Nessa altura, em Madras, não tínhamos nenhum centro por isso ficavamos na casa de diferentes pessoas. Como escutava regularmente esta canção acabei por perguntar ao meu anfitrião qual era a sua tradução. Fiquei sem saber se ele tinha compreendido mal a minha pergunta ou se estava a ser polido mas o que me disse foi, “Por cada respiração, Hare Krsna Hare Rama”—o que parecia muito bonito. [risos] Por algum tempo, ficámos com a impressão que esse era o significado da canção mas,a seu devido tempo, soubemos qual era o verdadeiro significado: “Por cada “passa” que dou, Hare Krsna Hare Rama.”

De Madras fomos para Calcutá, e em Calcutá, o filme que tinha essa canção estava a passar nos cinemas. Na verdade, não sabiamos qual era o conteúdo do filme, mas por essas alturas sempre que o musical ou o filme Hair passava nalgum teatro ou cinema os devotos congregavam-se à frente das salas de espectáculo para fazerem hari-nama-sankirtana e distribuirem livros porque havia uma cena em que se cantava o maha-mantra Hare Krsna completo. Portanto, pensámos, “Oh, o filme Hare Rama Hare Krsna será uma grande oportunidade.” [risos] Então fizemos hari-nama e distribuimos livros no exterior do cinema. Entretanto, quando os espectadores começaram a entrar no cinema pensei, “Vou dar uma vista de olhos só para ficar com uma ideia de que é que o filme trata.” Então, entrei justamente quando o filme estava a começar. Era uma coisa impressionante; um ecrã grande e os amplificadores com o som alto. O filme começou com imagens do oceano, com as ondas do oceano a bater na praia. O narrador com uma voz profunda e ressoante, entoava, “Durante séculos a cultura espiritual da India permaneceu dentro do país, mas um homem. . .”—e mostrava a fotografia de Srila Prabhupada—“levou a cultura espiritual através dos oceanos. Então mostrava o Ratha-yatra de Londres. E, naquele ecrã gigantesco era muito impressionante. Então pensei, “Uau! Isto é incrivel!” Logo a seguir mostrava um grupo de hippies a fumar erva e haxixe e a cantar Hare Krsna Hare Rama. Estavam vestidos tal como os hippies, com rapazes e raparigas misturando-se livremente. Era muito mau—o tema do filme era que Srila Prabhupada estava a degradar a cultura sagrada indiana ao dá-la aos hippies que simplesmente a utilizavam incorrectamente cantando Hare Krsna Hare Rama,  fumando “erva” e fazendo sexo livremente e outras coisas do género.

Foi um golpe baixo. Mais tarde, Srila Prabhupada disse que o governo estava por trás desse filme porque tinham medo que o movimento se tornasse muito popular e queriam que as pessoas não se atraíssem por ele. Os comunistas que estavam no governo também espalharam rumores que pertenciamos à CIA. Foi a mesma situação. Eles sabiam que não eramos da CIA mas espalharam esses rumores porque queriam que as pessoas não adoptassem a consciência de Krsna. Pensavam que a vida espiritual mantinha as pessoas apáticas. Mas na realidade eram eles, que queriam manter as pessoas apáticas. Entretanto, alguns amigos sugeriram que fizessemos uma queixa em tribunal contra Dev Ananda, porque tinha sido ele que tinha escrito, dirigido e actuado no filme. Naquela altura ele era uma grande estrela de cinema e o filme estava completamente identificado com ele. Então um bem-querente perguntou a Srila Prabhupada, “O senhor conhece Dev Anand?” Srila Prabhupada respondeu, “Sim, e eu urino na cara dele.” [risos]

Agora voltamos ao mesmo ponto—a fé de Srila Prabhupada no santo nome.

Prabhupada disse, “A longo prazo este filme vai ajudar-nos porque eventualmente as pessoas esquecerão o dam maro dam e só se lembrarão de Hare Krsna Hare Rama.” E foi o que aconteceu. De Calcutá fui para Bombaim e especialmente os meninos da rua—existem tantos meninos da rua que  ficam nas esquinas a mendigar ou a vender revistas—sempre que nos viam,  cercavam-nos,  punham as mãos junto  à boca como se estivessem a fumar haxixe e cantavam, gozando connosco, “Dam maro dam, dam maro dam . . .” A maior parte das vezes nem chegavam a cantar “Hare Krsna Hare Rama”—só “Dam maro dam.” Era uma praga. Onde quer que fossemos estes pequeninos rodeavam-nos e gozavam connosco: “Dam maro dam.

Esta situação difícil continuou por algum tempo mais. Então, provavelmente depois de uma ano após a música ter surgido—e era extremamente popular—o ênfase mudou. As duas partes—a “Dam maro dam” e a “Hare Krsna Hare Rama”—tornaram-se iguais. Eventualmente, tal como Srila Prabhupada tinha predito, a “Dam maro dam” foi completamente esquecida. Era uma vibração sonora mundana e não tinha nenhum atractivo mas o Hare Krsna Hare Rama era transcendental e sempre fresco. Depois de se terem esquecido do “Dam maro dam” quando  nos viam, as pessoas riam-se e diziam, “Hare Krsna Hare Rama.” E isso aconteceu realmente.

Pouco tempo depois Srila Prabhupada assumiu o projecto de Juhu e essa é toda uma outra história. Depois da primeira estadia e programa de Srila Prabhupada, e enquanto ele e os devotos esperavam na sala reservada aos VIPs no aeoroporto, escutava-se um kirtana tumultuoso com canto e dança extáticos. Prabhupada disse, “Se continuarem a ter kirtanas como este, o nosso projecto será um êxito.”

Mais tarde, alguns devotos imprimiram selos como os dos correios (sem valor postal) com uma fotografia de Radha-Krsna e as palavras Hare Krsna, para serem coladas nos envelopes. Srila Prabhupada escreveu-me, “Estas duas palavras `Hare Krsna,` devem aparecer em todo o lado.”

Noutra altura, Srila Prabhupada estava no terraço de um dos edifícios antigos de habitação que já existiam quando os devotos compraram a propriedade, e um devoto chamado Haridasa  abanicava-o. Às sete horas Prabhupada olhou para o seu relógio e disse, “Haridasa, estás a ouvir o som de kirtana vindo do templo?” Haridasa esforçou-se por ouvir mas não ouviu nada. “Não Srila Prabhupada.” “Não estás a ouvir o som do kirtana vindo do templo?” “Não.” “Essa é a questão,” disse Srila Prabhupada. “Não há kirtana no templo e deveria haver.” Então perguntou a Haridasa, “Onde estão todos os  devotos?”  Haridasa sugeriu que deveriam estar na cidade a coletar e que ainda não teriam regressado. Prabhupada disse, “Essa não era a minha intenção, que os devotos saíssem a colectar todo o dia e noite. Podem sair às nove e voltarem às cinco e depois cantar e dançar diante das deidades. De outro modo tornar-se-ão como os karmis.

De seguida perguntou a Haridasa, “Sabes qual a razão de termos tido êxito e o Sr. Nair não? Nair estava bem estabelecido em Bombaim, enquanto nós eramos completamente novos. Ele era muito rico enquanto nós não tinhamos dinheiro nem receitas regulares. Sendo propietário do Free Press Journal, um dos três jornais diários em Bombaim, e antigo presidente da Câmara, ele conhecia muitas pessoas e era muito influente, enquanto nós não conhecíamos quase ninguém e não tínhamos práticamente nenhuma influência. Mas nós triunfámos e ele não. Porquê?” Então Srila Prabhupada deu a resposta: “Nós actuávamos para agradar a Krsna e ele, para o seu ganho pessoal. E porque tentámos satisfazer a Krsna, Krsna misericordiosamente reciprocou e triunfámos—por Sua graça.

 “Portanto, quando os devotos chegam, devem cantar e dançar diante das Deidades, para o Seu prazer. Ao agradarmos as Deidades, pela misericórdia d´Elas, pela misericórdia de Krsna, triunfaremos—não através da nossa força e esforço independentes.” Realmente, Srila Prabhupada tinha essa fé em Krsna, no santo nome, nas Deidades—que se cantarmos sinceramente para agradar Krsna, Krsna ficará satisfeito e triunfaremos.

O ultimo episódio que contarei, aconteceu no final quando Srila Prabhupada  já estava bastante doente, em 1977. Srila Prabhupada tinha um devoto fiel, Sri P. L. Sethi—assim como Hanuman está para Rama ele estava para Prabhupada. Ele era completamente dedicado e tinha muita fé. Antes de se  encontrar com Prabhupada estava associado a um grupo que se chamava Radha Madhava Prema Sudha Sankirtana Mandala. Eles cantavam o maha-mantra Hare Krsna e o guru deles vivia em Vrndavana. Aqueles que viviam em Bombaim eram todos casados. A cada Domingo faziam um akhanda-hari-nama-sankirtana de doze horas, um kirtana contínuo e sem paragens desde as seis da manhã até às seis da tarde, seguido de duas horas de canções de Vraja.

Então o Sr. Sethi deu a sugestão de em vez de fazer o kirtana na casa de um dos devotos, como   era costume, porque não fazê-lo em Hare Krsna Land. Fizemos então o arranjo diante das Deidades no templo pequeno, ao lado do novo complexo que estava nos  últimos pormenores de finalização, justamente debaixo das acomodações novas de Srila Prabhupada. Apesar da construção ainda não estar acabada e o elevador não funcionar Srila Prabhupada insistiu em ficar lá. Doente como estava,  escutava o kirtana ora reclinado ora deitado. Estes devotos que estavam no templo queriam vê-lo mas eram muitos e Srila Prabhupada não estava com forças para descer e também seria uma grande imposição encontrar-se com todos eles.

A uma certa altura ficaram tão impacientes que sairam do templo e fizeram o kirtana debaixo da varanda de Prabhupada. Finalmente o Sr Sethi ajudou Prabhupada a caminhar até à varanda e Prabhupada lançou o olhar sobre eles.  Estavam em êxtase. Ficou lá por algum tempo e depois voltou para dentro. Um dos pontos altos aconteceu quando uma senhora começou a cantar, “Jaya radhe jaya radhe radhe, jaya radhe jaya sri radhe. Jaya krsna . . .” Mais tarde o Sr. Sethi informou-nos que enquanto Srila Prabhupada escutava aquela canção, lágrimas rolavam pela sua cara.

No dia seguinte subi para ver Srila Prabhupada. “Aquele kirtana foi maravilhoso,” disse ele. “Devemos convidar a todo o grupo para que venham viver connosco em Hare Krsna Land. Diz a todos que cuidaremos deles. Não precisam de trabalhar. A única coisa que têm que fazer é kirtana continuo.” Fiquei sem saber o que fazer. [risos]Então ele disse, “Pelo menos os nossos devotos devem fazer kirtana doze horas ao dia; das seis da manhã até às seis da tarde.” Tínhamos sido instruídos por Srila Prabhupada no sentido de servir e expandir a missão e em Juhu estavamos verdadeiramente atarefados na finalização do templo e nas preparações para a abertura oficial. Não conseguia imaginar os devotos cantando doze horas cada dia no templo. Por isso, disse, “Srila Prabhupada temos tanto serviço para fazer. Como podemos fazer tudo isso?” Então Prabhupada disse, “Está bem, mas pelo menos uma vez por semana, aos Domingos.” Quando Prabhupada falou daquela maneira eu disse, “Sim,” porque me senti aliviado—só um dia, doze horas. Mais tarde, Tamal Krishna Goswami comentou que Srila Prabhupada tinha feito um regateio transcendental. Se ele tivesse começado com, “Doze horas cada Domingo,” poderíamos ter argumentado, “Oh, isso é muito. Talvez quatro horas.” Mas como ele começou com doze horas cada dia e sete dias na semana, quando finalmente disse doze horas, um dia à semana, ficámos aliviados. “Oh sim, isso podemos fazer .” [risos]

A partir daí fazíamos um kirtana contínuo de doze horas. E acontecia justamente o que Prabhupada tinha dito—que todos os problemas seriam resolvidos, materialmente e espiritualmente. Eu era o presidente do templo e tinha que lidar com muitos problemas. Tinhamos que construir o complexo do templo, tratar com as autoridades civis, organizar os programas do templo, cuidar dos devotos e também sobreviver na India, com todas as doenças e dificuldades. Quando os devotos se aproximavam de mim na Segunda, Terça e por vezes na Quarta-feira, eu tratava dos problemas. Mas quando chegava a Quinta-feira, já estávamos nas proximidades do hari-nama de doze horas e sabia—e aconteceu sempre, sem falhar—todos os problemas seriam resolvidos. Ou o problema se resolvia automáticamente ou então o devoto realizava que o suposto problema não era verdadeiramente um problema ou então tinha alguma compreensão ou inspiração de como lidar com ele. Portanto, a partir de Quinta-feira costumava dizer, “Está bem, dá-me uns dias para pensar sobre o tema,” [risos]mas eu sabia, “Vamos esperar até Domingo—faremos o kirtana de doze horas—e o assunto ficará resolvido.” E acontecia constantemente. Era verdadeiramente maravilhoso.  Esse era o sentimento e convicção de Srila Prabhupada. Desta maneira, devemos entregar-nos plenamente ao processo, satisfazer a Krsna através do nosso cantar. Na verdade, qualquer coisa que façamos deve estar impregnado com o sentimento de satisfazer ao guru e a Krsna.

Por isso, se cantamos Hare Krsna sinceramente, Krsna fica satisfeito, e através da Sua satisfação e misericórdia seremos bem sucedidos em todos os aspectos. Desde o inicio eu pensava, “Prabhupada está a escutar o meu canto, por isso, devo cantar bem para que ele fique satisfeito.” Na equipa de Radha-Damodara, Visnujana tinha uma fotografia muito grande com a orelha de Srila Prabhupada e ele cantava com essa ideia que Srila Prabhupada escutava o canto do seu japa; ele cantava para satisfazer a Srila Prabhupada. Por isso, todos estes temas vão de mãos dadas: serviço ao guru, serviço ao santo nome, cantar o santo nome, satisfazer a Krsna, satisfazer a Srila Prabhupada e ser bem sucedido—materialmente e espiritualmente.

Hare Krsna.

Written by nityananda108

Agosto 14, 2009 at 10:20 am

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Maratona de Dezembro

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Mensagem da Maratona de Dezembro

“Podem Acontecer Milagres”
Por Giriraja Swami

prabhupadagita

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No decurso de servir ao mestre spiritual, a Srila Prabhupada, somos
colocados em situações que não são muito congeniais com o nosso conforto
material. Invariavelmente, nessas situações, sentimos mais profundamente
essa união com o mestre espiritual e,  dessa maneira, sentimo-nos ainda mais
extáticos em consciência de Krsna do que quando estamos em situações
confortáveis.

Ao fazer algo materialmente dificil ou desagradável, podemos sentir-nos mais
unidos com o mestre espiritual. Sua Santidade Sacinandana Swami deu uma
palestra maravilhosa na qual explicava que, quando uma pessoa recebe uma
ordem do mestre espiritual e tenta executá-la, acontecem coisas
maravilhosas. Krsna, ajuda. No seu livro A Arte da Transformação,
Sacinandana Swami escreve, ” Devemos fazer algo extra para Krsna, enquanto
executamos serviço devocional. Devemos aceitar alguns riscos e afastar-nos
da nossa lokika-sraddha, dessa sraddha mundana baseada na experiência
sensorial e naquilo que as pessoas possam dizer. Se confiarmos nas
escrituras, poderemos ver milagres acontecerem à nossa volta. Quero
partilhar convosco um desses milagres. Os devotos disseram-me, `Sai e
distribui livros!´ Pensei`Não, esse serviço não, por favor, qualquer outro
serviço está bem,  mas não esse serviço. Sou um devoto muito jovem,e  um
pouco sensível. Não posso ir ter com esses tigres e leões da rua.´ Os devotos
disseram, `Não, não, tem um pouco de fé. Por te renderes a Ele, Krsna
dar-te-á tudo o que precisares e manterá tudo o que tiveres.´ E eu
segui-lhes o conselho. Distribui livros e Krsna ajudou.”

Existem muitos devotos, em diferentes partes do mundo, que aceitam riscos
para expandir o movimento da consciência de Krsna. E muitos desses países
não são nada favoraveis a esta missão. Contudo, os devotos aproximam-se a
muitas pessoas que, de outra forma, não teriam possibilidade de conhecer
este processo-bhakti-yoga-e animam-nas a cantar os santos do Senhor Krsna. E
muitas delas tornam-se krsna-bhaktas. Podemos ver que os devotos aceitam
riscos às custas do seu conforto pessoal-e até arriscam  as suas próprias
vidas. Estas coisas acontecem. Se aceitarmos a missão do mestre espiritual dentro
do nosso coração e aceitamos riscos para essa missão, Krsna ajudará de
maneiras maravilhosas e inesperadas.

E Krsna provê. Amoghalila Prabhu, o meu irmão espiritual, foi um brahmacari
durante muitos anos que depois se casou. Ele conseguiu um doutoramento e,
durante dois ou três anos, trabalhou como professor adjunto. Aos
fins-de-semana saía a distribuir livros; esse ânimo esteve sempre com ele.
Ele distribuiu livros desde o seus primeiros dias como brahmacari.
Sempre teve muito entusiasmo para a distribuição de livros e rapidamente
apercebeu-se que podia manter a sua familia através da dedicação plena à
distribuição de livros. E gostava muito mais da distribuição de livros.
Finalmente tomou a decisão, “Vou acabar com este assunto de ser professor e
distribuir livros integralmente.” Nos primeiros momentos a esposa ficou um
pouco céptica, porque achava que essa actividade não era muito dignificante
mas quando se apercebeu que a familia não experimentava desconfortos, acabou
por aceitar. E Amoghalila está sempre inspirado e animado porque está sempre
a distribuir livros e a pregar.

Portanto, meus queridos devotos, durante esta maratona de Dezembro, devemos
fazer o esforço por sair das nossas zonas de conforto e arriscar-nos um
pouquinho para distribuir estes livros. Vamos tão só arriscar-nos um
pouquinho por Srila Prabhupada e Sri Caitanya Mahaprabhu, e veremos que os
resultados serão completamente auspiciosos e gloriosos.

Muitíssimo obrigado.
Hare Krsna

Written by nityananda108

Dezembro 29, 2008 at 6:58 pm

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Gita Jayanti

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Instruções para a Nossa Vida-do Bhagavad-gita
Uma palestra dada por Giriraj Swami
Gita Jayanti
Dezembro 20, 2007
Juhu, Mumbai

 

Hoje é a data auspiciosa do Gita Jayanti, o dia em que o Senhor Krsna falou
o Bhagavad-gita a Arjuna no campo de batalha de Kuruksetra, no dia de
Moksada Ekadasi. Para começar, leremos dois versos do Gita que nos darão
algumas instruções para as nossas vidas.

Lemos do Bhagavad-gita Tal Como Ele É, Capítulo Nove: “O Conhecimento Mais
Confidencial.”

VERSO 30

api cet su-duracaro
bhajate mam ananya-bhak
sadhur eva sa mantavyah
samyag vyavasito hi sah

SINÓNIMOS

api-mesmo; cet-se; su-duracarah-uma pessoa que cometa as acções mais
abomináveis; bhajate-está ocupada em service devocional; mam-a Mim;
ananya-bhak-sem desvio; sadhuh-um santo; eva-decerto; sah-ele;
mantavyah-deve ser considerado; samyak-completamente; vyavasitah-situado em
determinação; hi-decerto; sah-ele.

TRADUÇÃO

Mesmo que alguém cometa as acções mais abomináveis, se estiver ocupado no
serviço devocional, deve ser considerado santo, porque está devidamente
situado em sua determinação.

SIGNIFICADO por Srila Prabhupada

A palavra su-duracara usada neste versoé muito significativa e devemos
compreendê-la apropriadamente. Quando é condicionada,  a entidade viva tem
duas espécies de actividades: uma é condicional e a outra, constitucional.
Quanto à protecção do corpo ou ao acatamento às leis da sociedade e do
Estado, concerteza há diferentes actividades relativas à vida condicional,
mesmo para os devotos, e essas actividades chamam-se condicionais. Além
destas, a entidade viva que está plenamente consciente de sua natureza
espiritual e se ocupa em consciência de Krsna, ou no serviço devocional ao
Senhor, realiza actividades que se denominam transcendentais. Essas
actividades são executadas em sua posição constitucional, e chamam-se
tecnicamente serviço devocional.

COMENTÁRIO por Giriraj Swami

Aqui Srila Prabhupada explica, seguindo a ideia de Srila Bhaktivinoda
Thakura, que os devotos ao viverem neste mundo material, também devem levar
a cabo actividades relacionadas com a existência material, nomeadamente em
relação com a sociedade, governo, etc. Tais actividades não podem ser
evitadas porque estamos neste mundo material. Temos que viver em sociedade,
viver num determinado país. No grhastha-asrama tem que se ter um trabalho,
pagar impostos. Tem que se fazer muitas coisas, que são executadas no mundo
material. Quando formos para o mundo espiritual não precisamos de ir para um
escritório,  pagar os impostos ou executar funções sociais.

E existem actividades que começam com sravanam kirtanam visnoh smaranam que
são executadas tanto aqui como no mundo espiritual. Ouvimos acerca de Krsna.
Cantamos sobre Krsna e lembramos-nos de Krsna. Quando formos para o mundo
espiritual ocupar-nos-emos nessas mesmas actividades.

Srila Prabhupada continua:

SIGNIFICADO (continuação)

Acontece que, no estado condicionado, às vezes o serviço devocional e o
serviço condicionado ao corpo andam lado a lado. Mas nesse caso também, às
vezes essas actividades opõem-se umas às outras. Na medida do possivel, o
devoto tem muita cautela em não fazer nada que possa abalar a sua condição
saudável.

COMENTÁRIO

Por exemplo, uma pessoa está ocupada num tipo particular de trabalho, nalgum
negócio, e para cumprir com o seu negócio tem que se associar com
não-devotos. No sastra, a associação com os não-devotos é desencorajada e a
associação intima com eles é proibida. Entretanto,  devido a que ela tem que
ganhar a sua vida,  tem que se associar com todo o tipo de pessoas e essa
associação contamina. Isto é para dar um exemplo de quando as actividades
condicionais são opostas às constitucionais. Se a pessoa é afortunada, o seu
trabalho será executado na associação dos devotos. Na verdade, Srila
Prabhupada animava os devotos a abrirem negócios onde pudessem ocupar outros
devotos, para que não tivessem que se associar extensivamente com os
não-devotos. Melhor do que isso é viver numa comunidade auto-suficiente de
devotos. Assim, não temos que ir em absoluto, para um escritório ou para uma
loja. Não precisamos de interagir muito com o mundo material. Produzimos o
nosso alimento, protegemos as vacas, obtemos o leite e deste modo dependemos
da natureza e das vacas. Não precisamos de nos envolver com a civilização
materialista.

Por vezes, as actividades condicionais vão paralelas às actividades
constitucionais e por vezes são opostas, e o devoto é muito cauteloso em não
fazer nada que abale a sua condição saudável. Por outras palavras, ele é
consciente que tem que interagir, no decurso de seu trabalho e de uma forma
ou de outra, com pessoas materialistas mas é muito cuidadoso em não se
relacionar mais além de um certo limite , porque se o ultrapassa, a
associação dessas pessoas afectará a sua consciência de Krsna e abalará a
sua condição saudável.

SIGNIFICADO (continuação)

Ele sabe que a perfeição das suas actividades depende da sua progressiva
realização na consciência de Krsna. Entretanto, às vezes pode-se ver que um
devoto consciente de Krsna comete algum acto que social ou politicamente é
tido como abominável. Mas essa queda passageira não o desqualifica. No
Srimad-Bhagavatam, afirma-se que se alguém cai mas está sinceramente ocupado
no serviço transcendental ao Senhor Supremo, o Senhor, estando situado em
seu coração, purifica-o e perdoa tal abominação. A contaminação material é
tão forte que mesmo um yogi plenamente ocupado no serviço do Senhor às vezes
cai na armadilha. Porém, a consciência de Krsna é tão forte que essa queda
ocasional é corrigida de imediato. Por isso, o processo do serviço
devocional é sempre um sucesso. Ninguém deve zombar de um devoto que
acidentalmente se afastou do caminho ideal, pois, como se explica no próximo
verso, essas quedas ocasionais cessarão no seu devido tempo, logo que ele se
situar em completa consciência de Krsna.

COMENTÁRIO

Estes dois versos dão-nos dois tipos de instruções-a primeira é sobre o que
acontece com o devoto que cai e a outra é sobre como os outros devem ver o
devoto que cai.

Se o devoto que cai está plenamente ocupado em serviço devocional…
Qual o significado de “plenamente ocupado”? Já dissemos que enquanto o
devoto está no mundo material, tem que executar algumas actividades
condicionais, caso contrário estaria plenamente ocupado em serviço
devocional. Ele utiliza o tempo dsponível para cantar e escutar sobre Krsna,
lembrar-se d´Ele e servi-Lo de diferentes maneiras. Tal pessoa deve ser
considerada santa mesmo que tenha uma queda. Geralmente a queda involve o
deslize para a actividade pecaminosa. Entretanto zombar de um devoto aparece
noutra categoria que é pior que o pecado. Aparece na categoria de aparadha,
vaisnava-aparadha. Vaisnava-aparadha é muito pior que a queda na actividade
pecaminosa e por tais ofensas o nosso serviço devocional pode ser
severamente perturbado.

Vemos uma falta num devoto e escarnecemos  dele. Falamos dele ou dela de uma
forma negativa. Tais actos caem na categoria de nama-aparadha, sadhu-ninda,
vaisnava-aparadha. Isso é muito mais sério e prejudicial que um deslize na
gratificação dos sentidos. Podemos pensar que somos superiores-“Oh, esse
devoto caiu na gratificação dos sentidos, fracassou em dar o bom exemplo”-e
criticar o devoto, mas essa critica ao devoto pode ser mais séria que o
fracasso do devoto em actuar apropriadamente. E constantemente incorremos na
mesma critica. Por isso não fazemos muito progresso. Constantemente
encontramos defeitos nos devotos, criticamos os devotos, por isso, apesar de
cantarmos as voltas, de lermos o Bhagavad-gita, de irmos ao templo, de
fazermos serviço, porque depreciamos constantemente os devotos, mesmo que
casualmente-até pode ser que o façamos sem estar conscientes-não
progredimos. Pode até acontecer perdermos a nossa posição em serviço
devocional. Portanto, esta é uma lição muito importante do Srimad
Bhagavad-gita.

SIGNIFICADO (continuação)

Portanto, quem está  em consciência de Krsna e se ocupa com determinação no
processo de cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare, Hare
Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare deve ser considerado como estando na
posição transcendental, mesmo que ele pareça ter caído por acaso ou
acidentalmente. As palavras sadhur eva “ele é santo” são muito enfáticas.
Elas são uma advertência aos não-devotos .  .  .

COMENTÁRIO

É normal que os não-devotos zombem dos devotos. Mas os verdadeiros devotos,
os verdadeiros Vaisnavas, apreciam os outros devotos mesmo que esses
devotos, casualmente, dêem um passo em falso. Infelizmente os devotos
neófitos têm algumas caracteristicas em comum com os não-devotos, por isso,
por vezes também criticam. Mas é normal que os não-devotos façam isso, por
isso Srila Prabhupada explica que este aviso é para eles.

SIGNIFICADO (continuação)

Elas são uma advertência aos não-devotos, para que não zombem de um devoto
por ter tido uma queda acidental; ele ainda deve ser considerado santo,
mesmo que tenha acidentalmente caído.

COMENTÁRIO

Esta expressão, “devoto neófito” é frequentemente expressa em sânscrito como
bhakta-praya, “quase um devoto,” porque os neófitos estão na plataforma
material. Eles cantam e tentam progredir, mas porque estão na plataforma
material não são considerados, no sentido estrito da palavra, verdadeiros
devotos. A partir da minha perspectiva, sendo um devoto introspectivo,
quando leio estas coisas devo pensar, “Oh, sou como um não devoto.” Mas os
outros, desde a sua perspectiva, não devem cair nessa noção de “eles são
bhakta-prayas, quase devotos; não são verdadeiros devotos, por isso posso
criticá-los,” porque os neófitos, apesar de estarem mais ou menos na
plataforma material, se estão ocupados no processo da bhakti-yoga, entram na
categoria de sadhu. Devem ser considerados santos. Ridicularizá-los é uma
ofensa. Por isso, devemos ser cautelosos.

Internamente, devemos sentir que não somos devotos. É irónico, mas são os
neófitos que pensam que são devotos, bons devotos; e são os devotos
avançados que sentem que não são devotos. Tomemos o exemplo de Caitanya
Mahaprabhu. Ele disse que não tinha nem sequer uma gota de amor por Krsna.
Ele chorava de dia e de noite por Krsna, com o sentimento de Radharani em
separação de Krsna, mas dizia, ” Não tenho nenhuma gota de amor por Krsna.”
“Porquê? Estás sempre a chorar por Krsna.” “Isso é só uma exibição, para
impressionar os outros. Se realmente eu tivesse amor por Krsna não
continuaria a viver. O facto de Eu viver sem Ele, prova que não tenho amor
por Ele.” Portanto, quando alguém está no estágio mais elevado,
maha-bhagavata-claro está que Caitanya Mahaprabhu era mais que isso-ele
sente que não é um devoto e vê que todos os outros são devotos. E o neófito
pensa, “Oh, eu sou um devoto. Os outros, não são verdadeiramente devotos.”
Eles pensam que são devotos e que os outros não  são. Pensam que estão a
seguir o processo adequadamente, enquanto que os outros não. Temos que
ultrapassar este estágio. Para tal temos as instruções do Bhagavad-gita que
servem para elevar-nos.

SIGNIFICADO (continuação)

Elas são uma advertência aos não-devotos, para que não zombem de um devoto
por ter tido uma queda acidental; ele ainda deve ser considerado santo,
mesmo que tenha acidentalmente caído. E a palvra mantavyah dá ainda maior
ênfase. Se a pessoa não seguir esta regra e zombar da queda acidental do
devoto, então, estará desobedecendo à ordem do Senhor Supremo. A única
qualificação do devoto é estar firme e exclusivamente ocupado em serviço
devocional.

COMENTÁRIO

O Sri Caitanya-caritamrta, que tem como base o Srimad-Bhagavatam e o
Bhagavad-gita, enumera as vinte e seis qualidades de um devoto, e uma delas
é krsna-eka-sarana, “rendição exclusiva a Krsna.” Isto é o que o
Bhagavad-gita quer dizer aqui com bhajate mam ananya-bhak, “ocupado em
serviço devocional sem nenhum desvio.” Srila Prabhupada explica no
significado, “A única qualificação de um devoto é estar firme e
exclusivamente ocupado em serviço devocional.” Isso é krsna-eka-sarana. Essa
é a única qualificação. E em relação com as outras vinte e cinco? Mesmo que
ele não tenha as outras vinte e cinco qualidades, se tiver esta qualificação
especifica krsna-eka-sarana, é considerado um devoto. E se alguém tiver as
vinte e cinco mas não tiver esta qualidade de estar única e exclusivamente
ocupado em serviço devocional,  não é considerado um devoto mesmo que tenha
todas as outras qualidades. Por exemplo, uma das qualidades de um devoto é a
humildade mas,  se vemos que um devoto não a tenha não devemos concluir,
“Oh, este devoto não é humilde; esta pessoa não é humilde portanto não é um
devoto.” Se ela está plena e exclusivamente ocupada no serviço do Senhor é
um devoto. Pode ser que ainda não tenha essa qualidade-aparecerá à medida
que pratica o processo-mas se pensarmos, “Oh, ele não é humilde, não me
prestou respeitos. Não é um devoto”,  estamos a cometer uma ofensa.

SIGNIFICADO (continuação)

No Nrsimha Purana, há a seguinte afirmação:

bhagavati ca harav ananya-ceta
bhrsa-malino ‘pi virajate manusyah
na hi sasa-kalusa-cchabih kadacit
timira-parabhavatam upaiti candrah

O significado é que mesmo que alguém ocupado por completo no serviço
devocional do Senhor, às vezes cometa actos abomináveis, tal atitude deve
ser considerada como as manchas da Lua, que se assemelham à forma de um
coelho. Essas manchas não impedem a difusão do luar. Da mesma forma, o facto
de um devoto acidentalmente sair do caminho do carácter santo, não o torna
abominável.

COMENTÁRIO

Podemos ver que a Lua tem umas marcas que parecem ser as de um coelho, mas
ninguém a critica por ter essas marcas. E o luar refrescante e suavizante
não é obstruído pelas marcas. De igual modo, um devoto que esteja plenamente
ocupado no serviço do Senhor em bem-aventurança transcendental, não é
obstruído por uma queda acidental. Teve uma queda, mas continua plenamente
ocupado no serviço do Senhor. E se lhe apontamos faltas, criamos obstáculos
no nosso próprio caminho.

SIGNIFICADO (continuação)

Por outro lado, não se deve interpretar que um devoto em serviço devocional
transcendental pode agir de todas as maneiras abomináveis; este verso
refere-se apenas a um acidente devido ao forte poder das ligações materiais.

COMENTÁRIO

Por outras palavras, se alguém pensa, “Eu sou um devoto-estou a cantar Hare
Krsna-posso fazer qualquer tolice que não vou sofrer a reacção,” essa é
outra ofensa, nama-aparadha, pecar apoiado no cantar (namno balad yasya hi
pap- buddhir). Um devoto pode ter uma queda acidental mas arrepende-se por
isso. Ele arrepende-se fortemente e determina-se a ter mais cuidado no
futuro. E ele faz tudo o que for necessário para se proteger de uma outra
queda. E tal como Srila Prabhupada explica,mesmo assim ele pode cair de
novo.

SIGNIFICADO (conclusão)

O serviço devocional é mais ou menos uma  declaração de guerra contra a
energia ilusória. Enquanto não se for bastante forte para combater a energia
ilusória, poderá haver quedas acidentais. Mas quando o devoto é
suficientemente forte, ele deixa de se sujeitar a essas quedas, como já se
explicou. Ninguém deve aproveitar-se deste verso para cometer tolices e
achar que continua sendo um devoto. Se, com o serviço devocional, ele não
melhorar o seu carácter, então, deve-se entender que ele não é  um devoto
elevado.

COMENTÁRIO

De novo, existem dois pontos de vista. O devoto que tem uma queda deve
arrepender-se e esforçar-se tudo o que puder para se retificar e evitar mais
quedas. E a pessoa que o observa deve ponderar, “Ele é um santo. Está
ocupado em serviço devocional. O próprio Krsna diz que ele deve ser visto
como um sadhu. Se o menosprezo vou contra a instrução de Krsna e arruino a
minha vida espiritual ao ocupar-me em sadhu-ninda. Menosprezá-lo é
sadhu-ninda, nama-aparadha. Isso é pior que cair na gratificação dos
sentidos.”

No significado, Srila Prabhupada refere-se ao seguinte verso, que vamos ler
agora.

VERSO 31

ksipram bhavati dharmatma
sasvac-chantim nigacchati
kaunteya pratijanihi
na me bhaktah pranasyati

TRADUÇÃO

“Ele rapidamente se torna virtuoso e alcança a paz duradoura. Ó filho de
Kunti, declara ousadamente que o Meu devoto jamais perece.”

SIGNIFICADO de Srila Prabhupada

Ninguém deve distorcer o significado disto. No Sétimo Capítulo, o Senhor diz
que quem se ocupa em actividades perversas não pode tornar-se devoto do
Senhor. Quem não é devoto do Senhor não tem boa qualificação de espécie
alguma. Fica, então, a pergunta. Como pode alguém acidental ou
deliberadamente ocupado em actividades abomináveis ser um devoto puro? É
justo que se levante essa questão.

COMENTÁRIO

Agora chegámos à resposta.

SIGNIFICADO (continuação)

Os malfeitores, como foi declarado no Sétimo Capítulo, que nunca ingressam
no serviço devocional ao Senhor, não têm boas qualificações, como se afirma
no Srimad-Bhagavatam.

COMENTÁRIO

Como está explicado no Srimad-Bhagavatam (5.18.12) harav abhaktasya kuto
mahad-guna: alguém que não seja um devoto não tem boas qualidades. Porquê?
Manorathenasati dhavato bahih: está na plataforma mental-não na plataforma
espiritual-e está obrigado a  atraír-se pela energia externa do Senhor. Por
isso pode cair a qualquer momento. Srila Prabhupada comparou os
especuladores mentais-especialmente os Mayavadis-aos abutres. Os abutres
voam muito alto no céu mas ao verem um pedaço de carne podre no chão, descem
rapidamente para a comerem. De igual modo, os Mayavadis podem voar muito
alto nas suas especulações mentais mas logo que têm uma oportunidade para
gratificar os sentidos, descem rapidamente como os abutres. Portanto, a
posição dos não-devotos, dos infiéis, é diferente da dos devotos-mesmo
daqueles que caem.

SIGNIFICADO (continuação)

Em geral, um devoto que esteja ocupado nos nove tipos de actividades
devocionais, dedica-se ao processo que consiste em tirar do coração, toda a
contaminação material. Ele coloca a Suprema Personalidade de Deus dentro do
seu coração, e todas as contaminações são naturalmente eliminadas.

COMENTÁRIO

Como é que ele coloca a Suprema Personalidade de Deus no coração? Através de
sravanam kirtanam visnoh smaranam, cantar e escutar os santos nomes e
glórias do Senhor Krsna. Quando alguém faz isso, Krsna, na forma de som
transcendental entra no coração e limpa-o da contaminação material.

srnvatam sva-kathah krsnah
punya-sravana-kirtanah
hrdy antah stho hy abhadrani
vidhunoti suhrt satam

“Sri Krsna,a Personalidade de Deus, que é o Paramatma [Superalma] nos
corações de todos e o benfeitor do devoto veraz, limpa o desejo,  pelo
desfrute material, do coração do devoto que desenvolveu um desejo ardente
por escutar as Suas mensagens, que por si só são virtuosas quando
apropriadamente escutadas e cantadas.” (SB 1.2.17)

Escutar krsna-katha (srnvatam sva-kathah krsnah) é por si só uma actividade
piedosa (punya-sravana-kirtanah), e por tal escuta e canto, as coisas sujas
(abhadra) dentro do coração são limpas (vidhunoti). O próprio Krsna actua
limpando o coração do devoto ávido que escuta e canta as Suas mensagens.
Ceto-darpana-marjanam. Através do sri-krsna-sankirtana, o canto das glórias
do Senhor Krsna, o pó é limpo do espelho da mente. Este é o processo.

SIGNIFICADO (continuação)

Ele coloca a Suprema Personalidade de Deus dentro de seu coração, e todas as
contaminações são naturalmente eliminadas. O pensamento contínuo no Senhor
Supremo torna-o puro por natureza.

COMENTÁRIO

O nosso processo é este-sravanam kirtanam visnoh smaranam. Essa é também a
consciência de Krsna, pensar sempre em Krsna. Só por pensar em Krsna o
coração fica limpo e a mente é purificada, porque Krsna é plenamente puro.
Ele é tal com o sol; a Sua presença erradica toda a escuridão.

krsna-surya-sama; maya haya andhakara
yahan krsna, tahan nahi mayara adhikara

“Krsna é comparado com o brilho do sol e maya com a escuridão. Onde haja
brilho solar, não pode haver escuridão. Logo que adoptemos a consciência de
Krsna, a escuridão da ilusão (a influência da energia externa) dissipar-se-á
imediatamente.” (Cc Madhya 22.31)

Krsna é a luz, e maya é a escuridão. Onde quer que haja Krsna-o brilho da
consciência de Krsna-não existe maya-nenhuma escuridão. Portanto, não
precisamos de fazer nenhuma tentativa para afastar maya  separadamente. Só
temos que chamar por Krsna e maya ir-se-á embora automáticamente. Quando o
sol se manifesta, a escuridão desaparece automáticamente. Similarmente,
quando o sol do santo nome de Krsna se manifesta, a escuridão das
actividades pecaminosas, os anarthas, e as ofensas desaparecem.

amhah samharad akhilam sakrd
udayad eva sakala-lokasya
taranir iva timira-jaladhim
jayati jagan-mangalam harer nama

“Assim como o aparecer do sol dissipa imediatamente a escuridão do mundo,
que é tão profunda como um oceano, também o santo nome do Senhor, se cantado
uma só vez sem ofensas, dissipa todas as reacções da vida pecaminosa de um
ser vivo. Todas as glórias ao santo nome do Senhor que é auspicioso para o
mundo inteiro.”  (Padyavali 16, citado no Cc Antya 3.181)

SIGNIFICADO (continuação)

Segundo  os Vedas, há uma certa regulação de que, se alguém cai de uma
posição elevada, deve submeter-se a determinados processos ritualisticos
para se purificar.

COMENTÁRIO

Isto é chamado prayascitta-para um determinado pecado existe uma expiação
especifica. Se cometemos um pecado, devemos executar uma expiação que nos
liberta da reacção.

SIGNIFICADO (continuação)

Mas aqui não se impõe esta condição, pois o processo  purificador já está no
coração do devoto, devido à sua constante lembrança da Suprema Personalidade
de Deus.

COMENTÁRIO

Prayascitta, que está na categoria de karma-kanda, é inferior à bhakti-yoga.
Considera-se uma espécie de queda, se um devoto se ocupa nessa actividade
ritualista. O verdadeiro processo de purificação é sravanam kirtanam visnoh
smaranam. Se o devoto cai acidentalmente, só tem que continuar o processo,
que limpa o coração e liberta o devoto de toda a contaminação.

SIGNIFICADO (conclusão)

Portanto, o canto de Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare
Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, deve continuar sem interrupção. Isso
protegerá o devoto de todas as quedas acidentais. Assim, ele permanecerá
perpetuamente livre de todas as contaminações materiais.

COMENTÁRIO

Este é o nosso processo e se o devoto persevera, deve ser considerado santo
(sadhur eva sa mantavyah). Não devemos menosprezá-lo.

Um tópico que está relacionado com este é kutinati, procurar defeitos, que
por vezes é associado a jiva-himsa, inveja de outros seres vivos. A inveja e
o procurar defeitos vão juntos. Somos invejosos de alguém  e então
encontramos defeitos. Procuramos alguma oportunidade para criticar. E a
natureza de toda a alma condicionada é ser invejosa. Na verdade é a inveja
que nos trouxe  a este mundo material e que nos mantém aqui. Por isso a
inveja deve ser abandonada.

Outras coisas, como a luxúria a ira e a cobiça, podem ser utilizadas no
serviço do Senhor mas não a inveja. A inveja tem que ser descartada. Claro
está,  que o processo de escutar e cantar está feito para limpar o coração
da inveja, mas ao mesmo tempo devemos entender que procurar defeitos está
proibido. Apesar de termos um sentimento invejoso, devemos compreeender que
esse é o nosso defeito; o sentir inveja é um defeito nosso. Devemos
ponderar, “A inveja é como um demónio horrivel que entrou no meu coração.
Tenho que o subjugar por todos os meios.” Devemos evitar procurar defeitos
porque é um anartha e pode levar-nos a cometer ofensas.

Por vezes,  não sabemos o que vai realmente no coração de uma outra pessoa,
se a pessoa em causa está errada ou não. Certa vez, quando havia muita
crítica num templo específico, os devotos informaram Srila Prabhupada que
respondeu contando uma história das escrituras sobre um brahmana e uma
prostituta. De um lado da rua vivia um brahmana e do outro uma prostituta. O
brahmana sentava-se sempre de frente para a sua janela com o Bhagavad-gita
e, do outro lado da rua, a prostituta fazia o seu papel de prostituta.
Devido a uma calamidade, o brahmana e a prostituta morreram simultâneamente,
e tanto os Yamadutas quanto os Visnudutas apareceram no local. Os Visnudutas
vieram buscar a alma da prostituta e os Yamadutas vieram buscar a alma do
brahmana. O brahmana protestou, “Alto lá, vocês estão a cometer um erro.
Vocês vieram para levar a prostituta e os Visnudutas vieram para me levar.
Mas os Yamadutas responderam, “Não, não estamos errados. Todo o tempo que
estiveste sentado com o Bhagavad-gita à tua frente, olhavas pela janela para
a casa da prostituta e pensavas, “Oh, agora chegou um cliente. Agora estão a
fazer isto, e agora aquilo.” Dentro da tua mente, pensavas naquilo que ela
estava a fazer e devido à tua consciência estás apto para ser levado diante
de Yamaraja para seres castigado. A prostituta, apesar de estar ocupada na
sua profissão, olhava pela janela e pensava, “Oh, esse brahmana piedoso está
a ler o Bhagavad-gita. Quem me dera poder passar o meu tempo a ler o
Bhagavad-gita. Deste modo ela pensava em Krsna e Arjuna, na batalha de
Kuruksetra e em todas as maravilhosas instruções que Krsna deu a Arjuna e na
relação amororosa que havia entre eles. Devido a  essa consciência ela está
apta para regressar a Deus.”

Srila Prabhupada contou esta história para ilustrar o facto que nem sempre
podemos aperceber-nos daquilo que vai no coração de outra pessoa, só pelas
aparências externas. Portanto, não devemos encontrar defeitos porque não
sabemos qual é a consciência. Há um ditado que explica que se o Senhor
Nityananda entrar numa taberna, devemos entender que vai lá por serviço.
Podemos pensar, “Oh, entrou numa taberna. Os sadhus não entram nas
tabernas.” Mas se Nityananda Prabhu ou o mestre espiritual entram numa
taberna, devemos entender que é com algum propósito, por algum serviço.

Devido a que estamos em Kali-yuga e as pessoas são caídas e com propensão
para encontrar defeitos, devemos agir de tal maneira que os outros não
tenham oportunidade de encontrar defeitos. Em Bombaim, uma pessoa narrou-me
um incidente relevante. Viram um devoto comer num restaurante cujo alimento
é preparado com cebola. O facto de ele estar a comer no restaurante já era
bastante mau, mas tornou-se ainda pior porque o alimento que comia tinha
cebola. Uma outra pessoa que também lá estava a comer, que se associava
minimamente com a ISKCON, desafiou o devoto, “Porque é que estás a comer
alimento com cebolas?” O devoto respondeu, “Mas tu também estás a fazer o
mesmo.” Ao que o homem respondeu. “É verdade. Eu conheço o padrão e não
consigo lá chegar mas tu apresentas-te como uma autoridade. Tu pregas aos
outros, “Nem cebola nem alhos.” Se tu os comes é diferente.” O ponto que
quero enfatizar aqui é o de, porque somos pregadores,  devemos actuar de uma
forma exemplar e não dar às pessoas oportunidade para criticarem-para o seu
próprio bem.

Contudo, o princípio de que quando o Senhor Nityananda entra numa taberna,
fá-lo com um propósito, deve ser compreendido. Por vezes, Nityananda Prabhu
ou o mestre espiritual têm uma misão a cumprir, e não permitem que sejam
obstruídos ou parados, por temor aos neófitos que podem criticar ou
interpretar erroneamente. Por exemplo, existe uma norma que proíbe os
brahmanas de atravessarem o oceano porque se o fizerem ficarão contaminados.
Nenhum acarya proeminente na nossa tradição, antes de Srila Prabhupada,
cruzou o oceano,  mas ele atravessou-o. E os brahmanas ortodoxos criticaram.
Eles chegaram a criticar Srila Prabhupada. Mesmo nos dias de hoje, os pandas
do templo de Jagannatha, em Puri, por vezes proíbem os devotos da ISKCON,
mesmo os que são de origem indiana, entrarem no templo. Dizem eles que, por
se terem associado com mlecchas e yavanas de fora da India-apesar de serem
Hindus de origem indiana-não podem entrar, porque ficaram contaminados
devido à associação.

O acarya não pode parar a sua missão para agradar às pessoas invejosas ou
rigidas-ou mesmo aos devotos neófitos que não podem compreender ou apreciar
o que ele está a fazer. Portanto, embora actuemos de uma forma exemplar-para
darmos um bom exemplo para que os outros sigam,e para que não tenham
possibilidade de criticar-quando se trata da nossa missão ou serviço,  temos
que continuar,  ainda que por vezes de  maneiras não muito ortodoxas. Como
Srila Prabhupada costumava dizer, “Os cães ladram mas a caravana passa.”
Temos que continuar. Deixem os cães ladrar. Não importa. Vamos continuar
para a frente.  Adoptamos essa attitude não com o intuito de gratificar os
sentidos mas por uma causa superior.

Numa certa altura, respondendo uma questão colocada por mim, Srila
Prabhupada deu o exemplo de Govinda, o servente pessoal de Caitanya
Mahaprabhu em Puri. Por norma, depois de almoçar, Caitanya Mahaprabhu tinha
o costume de se deitar e Govinda aproximava-se para dar massagens às Suas
pernas; depois,  Govinda voltava para aceitar os remanescentes de alimento
deixados por Ele. Uma vez, enquanto o Senhor descansava,  bloqueou a entrada
para o quarto e Govinda ficou sem possibilidade de dar massagens ao Senhor a
não ser que passasse por cima do Senhor. Passado algum tempo, quando
Mahaprabhu acordou, viu Govinda ainda ali sentado e perguntou-lhe, “Porque é
que ficaste aqui tanto tempo? Porque não aceitaste a prasada?” Govinda
respondeu, “Estaveis deitado, bloqueando a porta,  e não consegui sair.” Sri
Caitanya Mahaprabhu perguntou, “Mas, como é que entraste no quarto?” Govinda
pensou, “Para servir ao Senhor pude passar por cima, mas por minha causa
não.” Srila Prabhupada concluiu, “Para servir podemos, algumas vezes,
transgredir uma norma mas não o fazemos para a nossa gratificação dos
sentidos.”

Numa ocasião especifica, podemos sacrificar um principio inferior por um
propósito superior, mas não devemos sacrificar nenhum principio, pequeno ou
grande,  para a nossa gratificação dos sentidos. Pela missão, pela causa,
pelo serviço, podemos. E se pensamos que alguém violou um  principio,
podemos ponderar que talvez tivesse sido por uma causa superior-e assim
abstemo-nos de encontrar defeitos e de criticar.

Hare Krsna.

Querem fazer alguma pergunta ou comentário?

Somaditya Chakraborty: O senhor explicou que temos dois tipos de deveres: Um
é o condicional, e o outro o constitucional. Por vezes, devido às nossas
actividades condicionais tais como trabalhar num emprego ou fazer outra
coisa qualquer, não conseguimos aceitar o que é favorável para o serviço
devocional nem rejeitar o que é desfavorável. Será que o nosso dever
condicional obstrui a nossa rendição a Krsna? Sabemos que aceitar coisas
favoráveis para o serviço devocional e rejeitar o que é desfavorável é parte
integrante da rendição a Krsna.

Giriraj Swami: Não te importas de te apresentares?

Somaditya Chakraborty: Sou o capitão de corveta Somaditya Chakraborty. Estou
na marinha indiana.

Giriraj Swami: Somaditya vem de Calcutá, essa cidade sagrada onde Srila
Prabhupada apareceu, onde Srila  Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura e Srila
Bhaktivinoda Thakura desapareceram, e onde os três caminharam, pregaram e
serviram.

Viver num barco signica, forçosamente, associação com não-devotos e comer
alimento confecionado numa cozinha que não tem padrão Vaisnava. Podemos
falar sobre aceitar o que é favorável e rejeitar o que é desfavorável e como
consequência rejeitar essa associação, rejeitar esse alimento e rejeitar
essa situação. Por outro lado, tens que ganhar a vida e de uma ou outra
maneira encontras-te nessa situação. Por vezes enveredamos por uma carreira
antes de conhecermos sobre a consciência de Krsna e só mais tarde realizamos
que essa carreira tem elementos que são desfavoráveis ao nosso
desenvolvimento espiritual. Para abandonar, ou não, um tipo particular de
trabalho, existem considerações práticas de tempo, lugar e circunstâncias.
Na minha primeira visita a Houston, um devoto muito bom, que ainda não era
iniciado, conduziu-me até ao aeroporto. Ele era dono de um motel e estava
preocupado porque os clientes que ficavam lá, quebravam os principios
regulativos. Ele não tinha restaurante nem vendia carne nem álcool. Mas os
clientes utilizavam o espaço para consumir álcool, carne e para fazer sexo
ilícito. No seu caso deixou aquela situação. Vendeu o motel e entrou no
negóco da joalharia. Claro está, que todo o esforço está coberto por algum
defeito, mas a joalharia é uma ocupação legal que não está directamente
ligada com actividades pecaminosas.

Por vezes, uma pessoa que se encontra numa posição inconveniente pode
pensar, “Estou neste trabalho. Para mim, seria muito dificil começar tudo de
novo noutro tipo de trabalho. Talvez seja melhor continuar a ganhar dinheiro
e depois retirar-me para Mayapur.” [risos] Assim que, é uma questão de saber
o que é mais favorável e o que é o menos desfavorável. Nessa situação em
particular pode ser que seja mais favorável continuar no trabalho, ganhar
bastante dinheiro, obter a reforma mais cedo e depois retirar-se para
Mayapur-e viajar por todo o mundo para pregar. Pode ser pior deixar o
trabalho, começar tudo de novo, esforçar-se árduamente, ficar na dúvida em
como conseguir dinheiro para cumprir com os compromissos e, como resultado,
ter que lutar árduamente o resto da vida para pagar as despesas.

Em principio, o que disseste é verdade-aceitar o que é favorável e rejeitar
o que é desfavorável-mas na prática talvez tenhamos que aceitar os
princípios mais importantes, que são favoráveis e negligenciar aqueles que,
apesar de serem favoráveis,  são menos importantes. Neste mundo, não existe
nenhuma situação que seja completamente favorável. Por exemplo, pregar é
favorável; a pregação é o melhor serviço. Mas para pregar temos que sair às
ruas  e nessa situação vemos cartazes publicitários com homens e mulheres e
outras coisas que são desfavoráveis. Mas se decidirmos, “Bem, eu não sairei
para as ruas porque nessa situação  terei que ver os cartazes publicitários
e isso pode ser desfavorável. Vou ficar aqui mesmo.”Com  essa atitude damos
mais importância a um principio inferior em contraposição a um superior. De
preferência, damos prioridade ao principio mais importante-pregar-mesmo que
seja às custas de principios menos importantes.
Paralelamente temos que avaliar realisticamente quanto risco podemos aceitar
para executar o principio mais elevado que é a pregação. Como Srila
Prabhupada disse, ” Devemos saber como capturar o peixe grande sem nos
molharmos.”

Contudo, os devotos aceitam riscos porque  a pregação é uma actividade muito
importante. Srila Prabhupada disse, “Quando pregamos, aceitamos riscos.”
Atravessar o oceano para vir para o Ocidente foi aceitar riscos. Cada vez
que empreendemos o esforço de sair às ruas para nos aproximarmos das pessoas
para pregar, aceitamos riscos mas isso é compulsório; caso contrário não
podemos pregar. Antes de comprarmos a propriedade de Juhu, quando tinhamos
um apartamento alugado em Warden Road, um dos discipulos de Srila
Prabhupada,  que tinha estado a servir aí,  foi pregar à África do Sul. A
seu devido tempo,  Srila Prabhupada recebeu noticias que o discipulo estava
a ficar enfraquecido devido à falta de associação. De acordo ao relatório,
haviam praias muito bonitas e bom clima na Africa do Sul, e o devoto passava
a maior parte do tempo nas praias. Quando Srila Prabhupada recebeu as
noticias ficou muito preocupado. Disse que sempre que enviava um pregador,
sentia ansiedade porque existia sempre  a possibilidade de o pregador cair.
Porém,  disse que a pregação é tão importante que o próprio Krsna vem ao
mundo material para pregar.

paritranaya sadhunam
vinasaya ca duskrtam
dharma-samsthapanarthaya
sambhavami yuge yuge

[O Senhor Krsna diz:] “Para libertar os piedosos e aniquilar os descrentes,
bem como para restabelecer os princípios da religião, Eu mesmo advenho,
milénio após milénio.” (Bg 4.8)

Se não enviarmos os nossos pregadores, a nossa missão-a missão de Krsna-não
será divulgada. As pessoas não terão a oportunidade de se tornarem
conscientes de Krsna. Prabhupada explicou que porque existem tanto riscos na
pregação, Krsna considera o pregador o Seu servente mais querido. Não existe
ninguém mais querido para Ele, nem sequer no futuro existirá um tão querido.
E Krsna garante, que no final , o pregador irá de volta a casa, de volta a
Deus. Essa é a instrução final de Krsna no Bhagavad-gita.

ya idam paramam guhyam
 mad-bhaktesv abhidhasyati
bhaktim mayi param krtva
 mam evaisyaty asamsayah

“Para aquele que explica aos devotos este segredo supremo, o serviço
devocional puro está garantido, e no final, ele voltará a Mim.” (Bg 18.68)

na ca tasman manusyesu
kascin me priya-krttamah
bhavita na ca me tasmad
anyah priyataro bhuvi

“Não há neste mundo servo que Me seja mais querido do que ele, nem nunca
haverá alguém mais querido.” (Bg 18.69)

E qual é “esse supremo segredo”? É o conhecimento mais confidencial de todo
o Bhagavad-gita:

man-mana bhava mad-bhakto
mad-yaji mam namaskuru
mam evaisyasi satyam te
pratijane priyo ‘si me

“Pensa sempre em Mim e torna-te Meu devoto. Adora-Me e oferece-Me
homenagens. Agindo assim, impreterivelmente virás a Mim. Eu prometo-te isto
porque és Meu amigo muito querido.”  (Bg 18.65)

sarva-dharman parityajya
mam ekam saranam vraja
aham tvam sarva-papebhyo
moksayisyami ma sucah

“Abandona toda as variedades  de religião e simplesmente rende-te a Mim.
Libertar-te-ei de todas as reações pecaminosas. Não temas.”  (Bg 18.66)

Tais instruções são as mais confidenciais. E Srila Prabhupada disse,
“Confidencial significa que as pessoas não gostam delas.”

Por isso aceitamos riscos quando pregamos. Quando pregamos não somos capazes
de seguir estritamente todas as regras e regulações. Por vezes,  nem sequer
conseguimos seguir a nossa dieta. Em casa conseguimos seguir a dieta, mas
por vezes,  quando pregamos, não a conseguimos seguir. Por vezes, pela
pregação, desviamo-nos da nossa dieta estrita mas fazêmo-lo-e dependemos de
Krsna. O que é mais favorável para o serviço devocional, o que satisfaz mais
a Krsna, é a consideração mais importante.

Mahaprabhu dasa: Compreendo a situação deste devoto e também compreendo que
um devoto, mesmo que cometa um erro, não deva ser criticado se está fixo no
serviço devocional. Essa é uma questão diferente. O assunto que quero
abordar relaciona-se com a pergunta do Prabhuji. Prahlada Maharaja afirma
que o que quer que tenhamos que obter, já está destinado. Para quê então
comprometer a nossa vida espiritual, que é a oportunidade que temos somente
nesta forma humana de vida-e que não está disponível noutra forma? A partir
do momento que entendemos o Gita, que nos involvemos com a consciência de
Krsna e que nos esforçamos para ser iniciados, porquê deveríamos comprometer
a nossa vida espiritual? Krsna providenciará. O que tenhamos que conseguir
já está predestinado. E Krsna promete, “Rende-te a Mim que Eu cuido de ti.”
Na me bhaktah pranasyati. Isso é rendição. Quando nos tornamos devotos,
Krsna toma conta de nós. Porque nos deveriamos  preocupar?

Giriraj Swami: Concordo. Primeiro, falaste do destino;  alcançamos o que já
está destinado. Mas talvez o seu destino seja o de tornar-se um capitão da
marinha indiana e ganhar o que lhe estão a dar lá. Até na cultura védica
existem ksatriyas. Outra consideração é que cada esforço está coberto com
alguma falha. Por vezes os ksatriyas saem para matar animais para praticarem
a sua técnica de arqueiros. Alguém tem que defender os cidadãos, a nação.
Ele está a fazê-lo.

saha-jam karma kaunteya
sa-dosam api na tyajet
sarvarambha hi dosena
dhumenagnir ivavrtah

“Todo o empenho está mesclado com algum defeito, assim como o fogo é coberto
pela fumaça. Por isso, ninguém deve abandonar o trabalho nascido de sua
natureza, ó filho de Kunti, mesmo que esse trabalho seja cheio de defeitos.”
(Bg 18.48)

No que se relaciona a Krsna cuidar dos Seus devotos, Ele cuida. Mas isso não
quer dizer que não tenhamos que ganhar a nossa vida. Tomemos por exemplo
alguém que tenha dinheiro suficiente para se reformar e mantenha o dinheiro
no banco, ou noutro investimento qualquer, e viva dos juros. Não precisa de
trabalhar. Está livre para servir a Krsna. Porém, alguém poderá questionar,
“Porque é que tens o dinheiro no banco e em poupanças? Deves entregá-lo à
consciência de Krsna que Krsna cuidará de ti.” Mas pedir a Krsna que cuide
de nós pode ser visto como aceitar serviço  de Krsna-não depender de Krsna
mas aceitar serviço d´Ele. O Bhagavad-gita explica que devemos trabalhar de
acordo às nossas capacidades e depender de Krsna para o resultado-não
devemos ficar inactivos e depender d´Ele. De todos os modos, o factor
principal é a consciência, a intenção, o sentimento de serviço.
Se compararmos com os tempos de outrora, viver agora debaixo de uma árvore e
depender da natureza ou da caridade, não é algo assim tão fácil. Contudo,
também é verdade que se o devoto é muito avançado e está sempre absorto em
consciência de Krsna sem desvios, Krsna cuida dele pessoalmente.

ananyas cintayanto mam
ye janah paryupasate
tesam nityabhiyuktanam
yoga-ksemam vahamy aham

“Mas aqueles que sempre Me adoram com devoção exclusiva, meditando na Minha
forma transcendental-para eles eu trago o que lhes falta e preservo o que
eles têm.” (Bg 9.22)

Mahaprabhu dasa: E se o nosso trabalho nos impede de seguir os quatro
principios reguladores?

Giriraj Swami: Isso é diferente. Se tivermos que vender carne ou bebidas
alcoólicas ou algo semelhante, devemos abandoná-las-como no caso do
proprietário do motel. Isso é verdade.

Nityananda dasa: Guru Maharaja, como  é que podemos minimizar ou diminuir o
sentimento de inveja?

Giriraj Swami: Certa vez, em Surat-a cidade santa de Surat onde Srila
Prabhupada e os seus devotos tiveram a melhor recepção-perguntei a Srila
Prabhupada sobre a inveja. Eu estava a sofrer devido à inveja e isso
perturbava-me, perturbava o meu canto e perturbava o meu relacionamento com
os devotos. Tinha por norma nunca fazer perguntas a Srila Prabhupada se eu
próprio as conseguia responder. A menos que tivesse meditado profundamente
sobre o tema e tivesse tentado obter a resposta por ouros meios-através da
introspeção, da leitura e da consulta com outros devotos-eu não perguntava.
Neste caso da inveja, não obtive nenhuma solução para me livrar dela. Podia
compreender que a inveja era prejudicial para mim, e queria
desenvencilhar-me dela mas não sabia como fazê-lo.

Por isso, fiz a pergunta a Srila Prabhupada: Primeiro ele disse, “Podes
pensar nalgumas razões para não se ser invejoso?” Eu pensei em muitas
razões. Perturbava o meu canto e os meus relacionamentos. Depois também
pensei que se Krsna é ilimitado e o Seu serviço é ilimitado-porquê deveria
ficar invejoso de alguém por ter um serviço particular? Não me vai tirar o
serviço porque o serviço a Krsna é ilimitado. Ele pode ter o seu serviço e
eu o meu. Porquê deveria estar invejoso? Portanto, quando Prabhupada
perguntou, “Podes pensar nalgumas razões para não se ser invejoso?” Eu
disse, “Sim.” Ele continuou, “Muito bem. Estar invejoso quer dizer não
gostar de alguém. Esse não-gostar deve ser dirigido contra os demónios que
criam tanta confusão no mundo. Deve ser dirigido para os não-devotos.”

O nosso problema é que dirigimos o não-gostar contra os devotos. Algumas
vezes escutamos as pessoas dizerem, “Se é assim que actua uma pessoa
consciente de Krsna, então, não quero ser consciente de Krsna.” [risos] Se
isso é o que significa ser um devoto, não quero ser um devoto.” É o oposto.
Porque interagimos mais com  os devotos, pode acontecer sermos magoados com
mais frequência pelos devotos e isso perturba-nos. Mas na prática, a
tendência de não gostar de alguém, de encontrar defeitos ou falar contra
alguém, deve ser direccionada contra os demónios, não contra os devotos. E
se sairmos mais às ruas para pregar, e verificarmos como é que são,
realmente, os não-devotos, apreciaremos mais os devotos. O procurar defeitos
entre devotos, a inveja entre os devotos, apesar de estar em qualquer parte,
é mais comum entre os neófitos que não fazem muita pregação. Mas quando
saímos para pregar e observamos como as pessoas são, apreciaremos mais os
devotos. Mas se estamos só entre devotos, podemos procurar esses defeitos
pequeninos.”Eles fizeram isto. Fizeram aquilo. Não fizeram isto. Não fizeram
aquilo.” Mas quando saímos e vemos como está o mundo e como são as pessoas,
quando voltarmos, apreciaremos os devotos.

Radha-carana dasa: Compreende-se que todas as qualidades têm a sua origem em
Krsna (janma-adi yasya yatah). Temos todas as qualidades de Krsna, e temos a
inveja. Quererá isso dizer que Krsna tem inveja?

Giriraj Swami: Krsna tem todas as qualidades que nós temos mas em quantidade
ilimitada e na perfeição. Portanto, Krsna também tem inveja. Dá-se o exemplo
no Néctar da Devoção que por vezes, quando os vaqueirinhos brincavam na
floresta, Krsna brincava num grupo e Balarama noutro. Quando a equipa de
Balarama derrotava a equipa de Krsna os rapazes queixavam-se, “Se até a
equipa de Balarama nos consegue derrotar, quem neste mundo é mais fraco que
nós?” Este é um exemplo de inveja no mundo espiritual.

Krsna manifesta diferentes tipos de personalidades e uma delas é
dhiroddhata. O Néctar da Devoção (Capítulo 23) afirma que uma pessoa que é
invejosa, orgulhosa, facilmente irritável, inquieta e enfatuada é chamada
dhiroddhata. A mesma passagem continua: “Tais qualidades eram visíveis no
carácter do Senhor Krsna porque, quando estava escrevendo uma carta a
Kalayavana, Krsna chamou-o rã pecaminosa. Em Sua carta Krsna aconselhou a
Kalavayana que tratasse imediatamente de encontrar um poço escuro para nele
viver, porque havia uma serpente negra chamada Krsna que estava muito
ansiosa por devorar todas as rãs pecaminosas dessa espécie. Krsna lembrou
Kalayavana que Ele (Krsna) podia reduzir todos os universos a cinzas pelo
simples facto de olhar para eles.”

“A declaração acima feita por Krsna parece ser, aparentemente, de natureza
invejosa; porém, conforme diferentes passatempos, lugares e ocasiões,
aceita-se esta qualidade como uma grande característica. Aceita-se que as
qualidades dhiroddhata de Krsna são notáveis porque Krsna usa-as apenas para
proteger os Seus devotos. Em outras palavras, até os traços indesejáveis
podem ser usados no intercâmbio do serviço devocional.”

Janardana dasa: Antes, quando o senhor estava aqui, havia mais poder
espiritual. Agora há menos poder espiritual. Porquê?

Giriraj Swami: Porque é que eu perdi o meu poder espiritual? [risos]

Janardana dasa: Exige-se a sua presença aqui-seis meses aqui e seis meses
lá. [aplausos] Enquanto esteve ausente as coisas deterioraram-se. Porquê?

Giriraj Swami: Darei uma resposta filosófica. No Bhagavad-gita (4.7) Krsna
diz,

yada yada hi dharmasya
glanir bhavati bharata
abhyutthanam adharmasya
tadatmanam srjamy aham

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente
de Bharata, e uma ascensão predominante da irreligião-nessa altura Eu
próprio descendo.”

Srila Prabhupada explicou que tudo neste mundo tem uma tendência a
deteriorar-se. Deu o exemplo da construção de uma casa; quando está nova é
muito bonita. Mas a seu devido tempo deteriora-se e eventualmente tem que
ser reconstruída. O mesmo fenómeno acontece com dharma. Apesar de Krsna vir
pessoalmente para estabelecer os principios religiosos
(dharma-samsthapanarthaya), é tal a natureza do mundo que tudo aqui se
deteriora. Existirá um declínio na prática religiosa, e Krsna virá novamente
para restabelecer dharma (dharma-samsthapanarthaya).

Janardana dasa: Quando voltará Maharaja? Passaram-se oito anos desde que
esteve aqui. Este é o seu templo. O templo de Radha-Rasabihari é seu,
Maharaja. Seis meses aqui e seis meses lá. Este é o meu humilde pedido,
Maharaja.

Giriraj Swami: Tentarei.

Kesava dasa: Existem nove formas de bhakti, serviço devocional. Se alguém
diz, “Alcançarei serviço devocional por executar uma delas” e não cantar,
isso é possivel?

Giriraj Swami: Boa pergunta. Existem nove tipos de serviço devocional, e
pode-se alcançar a perfeição por se ocupar num deles perfeitamente. O
Bhakti-rasamrta-sindhu (1.1.11) dá a definição básica de serviço devocional:

anyabhilasita-sunyam
jnana-karmady-anavrtam
anukulyena krsnanu-
silanam bhaktir uttama

Anusilanam significa que tem que ser continuo. Para a maior parte dos
devotos não é possivel a ocupação continua num só dos nove processos.
Maharaja Pariksit alcançou a perfeição por escutar. Ele sentou-se às margens
do Ganges e escutou o Srimad-Bhagavatam por sete dias consecutivos sem comer
nem dormir. Ele alcançou a perfeição. E nós, podemos fazer isso? Sukadeva
Gosvami alcançou a perfeição por recitar o Srimad-Bhagavatam. Ele recitou o
Srimad-Bhagavatam continuamente durante sete dias sem comer nem dormir. É
certo que se a pessoa for capaz de se ocupar continuamente e absorver-se num
só dos processos, pode alcançar a perfeição. Mas ele tem que se ocupar
continuamente, porque essa é a qualificação básica. E se não formos
capazes-alguns poderão ser-teremos que variar as nossas actividades, para
que possamos manter o interesse, para que possamos manter o nosso
entusiasmo. Por isso, Srila Prabhupada deu-nos um programa que inclui todos
os nove processos. Assistimos ao arati, recitamos orações-orações a Nrsimha,
orações a tulasi-regamos a planta tulasi. Todos estes, são diferentes
processos de serviço devocional. Cantamos Hare Krsna. Escutamos o
Srimad-Bhagavatam. Tomamos krsna-prasada. Devemos, por todos os meios,
permanecer ocupados em serviço devocional. Esse é o principio. Podemos
ocupar-nos em um, dois, três ou todos os nove processos. Geralmente
precisamos de variedade e Srila Prabhupada deu-nos um programa que inclui
todos os diferentes processos.

Ajay Jajodia: Um familiar perguntou-me, “Porque é que a tua familia está tão
apegada a ISKCON? O que é que existe de tão especial aí? Apesar de não me
sentir em posição de responder, expliquei-lhe que seguimos um principio que
foi ensinado por Srila Prabhupada. Então ela perguntou-me, “O que é que
existe de tão especial em Srila Prabhupada? Porque é que escolheram seguir
só a ele? Só consegui citar um verso do Srimad-Bhagavatam–tava kathamrtam
tapta-jivanam. É por isso que Srila Prabhupada é tão especial, porque
espalhou o hari-nama por todo o mundo. Isso foi tudo o que pude dizer. O que
é que existe realmente de tão especial em Prabhupada e na ISKCON?

Giriraj Swami: Penso que as tuas respostas foram perfeitas. A primeira
pergunta foi, “Porque é que a tua familia está tão apegada a ISKCON? O que é
que a ISKCON tem de especial? A resposta é Prabhupada. A segunda pergunta
foi, “O que é que existe de tão especial em Srila Prabhupada? E a resposta é
que ele espalhou a consciência de Krsna por todo o mundo. Krsna-sakti vina
nahe tara pravartana-a menos que se tenha poder especial dado por Krsna, não
se pode expandir o movimento de sankirtana por todo o mundo. Kali-kalera
dharma–krsna-nama-sankirtana-este movimento de sankirtana é o yuga-dharma
para a era actual. Deste a resposta correcta. Agora deves sair a pregar.
Passaste o exame. Estás qualificado.

Para sermos capazes de pregar de uma forma sustentada e influenciar
verdadeiramente os corações das pessoas, devemos cantar o santo nome e
seguir os principios reguladores. Caso contrário, não teremos o poder para
pregar. Pregar, não é uma actividade externa ou mundana. Requer força
espiritual. Consegue-se essa força, do cantar das dezasseis voltas, de
seguir os principios reguladores e da ocupação no serviço devocional.

Ajay Jajodia: Tento cantar, mas não consigo fazê-lo apropriadamente. A minha
mente está sempre distraída pelos meus problemas e por aquilo que me rodeia,
e fico sem ânimo.

Giriraj Swami: Mas se pregares, serás forçado a cantar atentamente. Srila
Prabhupada disse que o nosso serviço deve ser um desafio novo que nós,
entusiasticamente, aceitamos de bom grado; e para chegar a esse nivel, nós
cantamos e escutamos com muito entusiasmo e seguimos os princípios
reguladores. Neste momento, a nossa vida é muito confortável. Não importa se
cantamos com atenção ou sem ela. Vamos ter o nosso dal e capatis. Podemos
cantar ou não cantar as nossas voltas, porém, teremos o nosso dal e capatis.
Mas quando estamos na linha da frente a pregar, temos que estar em boa
condição espiritual. Pregar, é declarar guerra contra maya. Temos que estar
em boa forma. Caso contrário, seremos dominados pelas forças do opositor.
Pregar, é um estimulo para tornar-nos espiritualmente fortes.

Ajay Jajodia: Sou capaz de cantar melhor e de fazer todas as coisas melhor,
quando estou perto de si. Quando você está cá, venho regularmente ao templo.
Não haverá possibilidade de você passar mais tempo em Bombaim?

Giriraj Swami: Sim, há essa possibilidade.

Ramai Pandita dasa: Maharaja, saindo um pouco do tema, quando o nosso guru
maharaja está presente neste mundo fisico conseguimos saber se ele está
satisfeito ou não com o nosso serviço. Há sempre a possibilidade de nos
aproximarmos a ele para que nos aconselhe. E quando ele não está fisicamente
presente, como é que sabemos se ele está satisfeito ou não com o serviço, ou
com qualquer outra actividade que possamos estar a fazer?

Giriraj Swami: Existem duas maneiras. Se fores suficientemente puro, podes
saber,  no teu coração,  se ele está satisfeito ou não. Caso contrário,
podes aproximar-te aos devotos que tenham uma percepção daquilo que pode ou
não pode satisfazê-lo. Podes perguntar-lhes e eles dar-te-ão uma ideia se as
actividades dão ou não satisfação. Sadhu, sastra, e guru. Básicamente, tal
como Prabhupada, o teu guru maharaja quer que sejas consciente de Krsna e
divulgues a consciência de Krsna.

Ramai Pandita dasa: Mencionou que a inveja provoca a procura de defeitos,
procurar defeitos nos devotos. Será que devemos cultivar a arte de perdoar
os outros? Se começarmos a perdoar os outros, não precisamos de cair na
inveja nem na busca de defeitos.

Giriraj Swami: Sim. O perdão é de suma importância. É uma das qualidades de
um devoto-perdão (ksama). Não estavas presente quando tivemos a reunião com
os outros discipulos de Sua Santidade Sridhar Swami. Este mesmo tópico do
perdão surgiu. Não vou repetir a conversa na íntegra, mas a conclusão é que
devemos perdoar. Se não perdoamos, significa que temos algo no nosso coração
e se mantemos isso, perturbará a nossa consciência de Krsna. Também pode
perturbar a outra pessoa a quem nós não perdoamos. Causa angústia à outra
pessoa e a nós também. Na verdade, perturbar a outra pessoa incrementa o
nosso pesar. Temos que perdoar. Esta é a qualificação principal de um
brahmana.

ksamaya rocate laksmir
brahmi sauri yatha prabha
ksaminam asu bhagavams
tusyate harir isvarah

“O dever de um brahmana é o de cultivar a qualidade do perdão, que é tão
brilhante como o sol. A Supema Personalidade de Deus, Hari, fica satisfeito
com aqueles que sabem perdoar.” (SB 9.15.40)

O defeito principal de um brahmana é o orgulho, e a principal virtude é  o
perdão. Através de todo o Bhagavad-gita a qualidade do perdão é inaltecida.

Janardana dasa: Maharaja, o senhor deve estar cansado.

Giriraj Swami: Bem, isso faz lembrar-me de uma história. No episódio do
conflito para adquirir a terra de Juhu, alguns dos devotos responsáveis,
nesse tempo, cancelaram o contrato de compra e venda com o Mr. Nair. E
quando as noticias chegaram a Srila Prabhupada, ele disse, “Então, está tudo
perdido.” Passado algum tempo, enquanto Prabhupada estava em Hyderabad, Mr.
Nair concordou em ter uma reunião com ele. Pensando que Srila Prabhupada
poderia utilizar algum poder místico para convencê-lo a fazer algo contra o
seu próprio desejo, levou um sadhu com ele para anular os poderes de
Prabhupada. Estavam todos sentados no quarto de Prabhupada em conversa
amena, quando o sadhu se dirigiu a Prabhupada, “Swamiji, parece que está
cansado. Deve descansar. Podemos falar mais tarde.” Prabhupada respondeu, “É
verdade, estou muito cansado.” E todos sairam do quarto. Mas Prabhupada
sabia que o homem é que estava cansado e que por isso tinha feito a
pergunta. [risos] Uns minutos mais tarde, Prabhupada chamou Tamal Krishna
Goswami, “Quando alguém te perguntar se estás cansado,” disse Prabhupada,
“quer dizer que ele está cansado.” Então Prabhupada disse a Tamal Krishna
Goswami, “Chama o Mr. Nair. Deixa ficar o sadhu a dormir e traz o Nair.”
[risos] Ele veio com o Mr. Nair, e Prabhupada utilizou os seus poderes
misticos [risos], e Mr. Nair assinou o novo contrato. E aqui estamos nós.
Todas as glórias a Srila Prabhupada!
Gita Jayanti ki jaya!
Hare Krsna.

Written by nityananda108

Dezembro 7, 2008 at 11:35 pm

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Govardhana-puja

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 Govardhana-puja

 

 

Giriraj Swami:

 

vande ’ham sri-guroh sri-yuta-pada-kamalam sri-gurun vaisnavams ca

sri-rupam sagrajatam saha-gana-raghunathanvitam tam sa jivam

sadvaitam savadhutam parijana-sahitam krsna-caitanya-devam

sri-radha-krsna-padan saha-gana-lalita-sri-visakhanvitams ca

 

nama om visnu-padaya krsna-presthaya bhu-tale

srimate bhaktivedanta-svamin iti namine

 

namas te sarasvate deve gaura-vani-pracarine

nirvisesa-sunyavadi-pascatya-desa-tarine

 

vancha-kalpatarubhyas ca krpa-sindhubhya eva ca

patitanam pavanebhyo vaisnavebhyo namo namah

 

sri krsna caitanya prabhu nityananda sri advaita

gadadhara srivasadi-gaura-bhakta-vrnda

 

hare krsna hare krsna krsna krsna hare hare

hare rama hare rama rama rama hare hare

 

Damos a todos as boas vindas nesta ocasião mais auspiciosa do Govardhana-puja. Quando fui iniciado por Srila Prabhupada pela primeira vez, em 1969, ele estava em Los Angeles e eu estava em Boston. Ele enviou-me uma carta que dizia, “O teu nome é “Giriraja.” Giriraja é um nome da colina de Govardhana na qual Krsna costumava apascentar as Suas vacas. Em Vrndavana a colina de Govardhana é adorada como uma representação de Krsna. Por vezes os devotos apanham uma pedra da Colina de Govardhana e mantêm-na em casa como uma representação de Krsna e adoram-na com essa consciência.” Sendo um devoto novo—tinha entrado para o templo umas semanas antes—não conhecia nada sobre a Colina de Govardhana ou sobre Govardhana-puja. E a ideia de apanhar uma pedra da colina para a adorar como uma deidade era para mim um conceito muito diferente. Só vinte e cinco anos mais tarde é que comecei a perceber a importância da Colina de Govardhana nos passatempos de Krsna—e nas vidas dos devotos.

 

Depois de ter servido na India por muitos anos, tive um problema com o visto e não pude voltar lá durante algum tempo. E quando finalmente pude voltar, sentia-me como se estivesse em casa. Sentia-me mais em casa—até mesmo no aeroporto—do que no Ocidente. Talvez porque goste do caos. [risos] A atmosfera parecia mais espiritual, até mesmo no aeroporto. Depois, quando cheguei a Vrndavana, senti-me ainda mais em casa. Apercebi-me que “ Esta é verdadeiramente a minha casa.” E naturalmente, em Vrndavana é muito mais fácil cantar e lembrarmo-nos de Krsna—especialmente em Vrndavana. Primeiro, porque Vrndavana é considerada como sendo espiritual. A Vrndavana na terra, Bhauma Vrndavana, é considerada como sendo não diferente da Vrndavana no mundo espiritual, Goloka Vrndavana. Apesar de haver uma fina cobertura de maya para proteger a confidencialidade de Vrndavana, Vrndavana é espiritual. Depois, Vrndavana está cheia de saddhus, de bhaktas, e na associação dos saddhus, aceleramos o nosso avanço espiritual.

 

tasmin mahan-mukharita madhubhic-caritra-

piyusa-sesa-saritah paritah sravanti

ta ye pibanty avitrso nrpa gadha-karnais

tan na sprsanty asana-trd-bhaya-soka-mohah

 

“Se nesse lugar onde vivem os devotos puros, seguindo as regras e regulações, e assim puramente conscientes e ocupados com grande intensidade em ouvir e cantar as glórias da Suprema Personalidade de Deus, tivermos a oportunidade de escutar o seu fluxo constante de néctar, que é exactamente como as ondas de um rio, esqueceremos as necessidades da vida—a saber, fome e sede—e ficaremos imunes a todas as classes de temor, lamentação e ilusão.” (SB 4.29.3940)

 

Por isso Srila Prabhupada criou a ISKCON, para que houvesse uma sociedade de devotos—na qual as pessoas pudessem associar-se com os devotos e avançassem na sua companhia.

 

Em Vrndavana, todos pensam em Krsna. Krsna é o centro de suas vidas. Lá senti-me em casa. Passados alguns dias, fui visitar a Colina de Govardhana. Na realidade, não conhecia muito sobre a Colina de Govardhana, mas fui lá, e sem fazer grandes ginásticas filosóficas, por algum motivo, senti-me ainda mais em casa que em Vrndavana. Naturalmente que sabemos, num sentido mais alargado, que a Colina de Govardhana faz parte de Vrndavana, mas nessa parte específica de Vrndavana—Govardhana—pude sentir-me ainda mais em casa. Gradualmente comecei a aprender sobre a importância da Colina de Govardhana.

 

Hoje em particular, estamos aqui para celebrar Govardhana-puja e dentro de pouco tempo Sua Santidade Radhanatha Swami arrebatará as nossas mentes com a sua descrição sobre a govardhana-lila, mas eu gostaria de falar sobre um tópico que aprendi acerca da Colina de Govardhana.

 

Srimad-Bhagavatam é considerada a suprema evidência da literatura védica. No Sri Tattva-sandarbha, Srila Jiva Gosvami, citando referências de várias escrituras, explica de uma forma lógica e sistemática que o Srimad-Bhagavatam é a suprema evidência das literaturas Védicas. O próprio Bhagavatam explica que é o fruto maduro da árvore do conhecimento Védico.

 

nigama-kalpa-taror galitam phalam

suka-mukhad amrta-drava-samyutam

pibata bhagavatam rasam alayam

muhur aho rasika bhuvi bhavukah

 

“Ó homens hábeis e pensadores, saboreai o Srimad-Bhagavatam, o fruto maduro da árvore dos desejos das literaturas Védicas. Ele emanou dos lábios de Sri Sukadeva Gosvami. Portanto, este fruto tornou-se ainda mais saboroso, apesar do seu sumo nectáreo já ser agradável para todos, inclusivé para as almas liberadas.” (SB 1.1.3)

 

Em princípio, devemos começar a estudar o Srimad-Bhagavatam a partir do Primeiro Canto. O Bhagavatam é comparado à forma do Senhor. Na realidade, o Bhagavatam não é diferente do próprio Senhor. Assim como começamos a nossa meditação a partir dos pés de lótus do Senhor e gradualmente vamos subindo na visualização da forma transcendental do Senhor, do mesmo modo devemos ler o Srimad-Bhagavatam a partir do Primeiro Canto e gradualmente progredirmos até ao Décimo Canto, que é comparado à cara sorridente do Senhor.

 

No Décimo Canto, lemos sobre Krsna e Seus associados eternos em Vrndavana. Entre todos os associados e devotos de Krsna, as donzelas de Vrndavana são consideradas as mais excelsas. E estas jovens vaqueirinhas, as gopis, oraram à Colina de Govardhana. Elas glorificaram a Colina de Govardhana chamando-a hari-dasa-varyah. Hari significa “O Senhor Hari, Krsna” a Suprema Personalidade de Deus, dasa quer dizer “servente” e varyah significa “o melhor.” Elas glorificaram a Colina de Govardhana como sendo o melhor servente do Senhor Hari. Aceita-se que a Colina de Govardhana é o próprio Krsna e na verdade a Colina de Govardhana é o Senhor Krsna. Mas as gopis viram a Colina de Govardhana como o melhor servente de Krsna, porque ele entregou-se completamente ao serviço do Senhor. Ele ofereceu todo o corpo ao serviço do Senhor. Entregou a sua vida para o serviço do Senhor. As suas cavernas foram colocadas à disposição do Senhor para que Ele pudesse refugiar-se nelas. Disponibilizou água para beber, frutas e raízes para comer. Todo o tipo de facilidades foram disponibilizadas para o Senhor e Seus devotos. Está mencionado especificamente, “O Senhor e Seus devotos.”

 

hantayam adrir abala hari-dasa-varyo

yad rama-krsna-carana-sparasa-pramodah

manam tanoti saha-go-ganayos tayor yat

paniya-suyavasa-kandara-kandamulaih

 

“Entre todos os devotos esta Colina de Govardhana é o melhor! Ó minhas amigas, esta colina supre a Krsna e Balarama, juntamente com os Seus bezerros, vacas e vaqueirinhos, todos o tipo de facilidades—água para beber, erva muito suave, cavernas, frutas, flores e vegetais. Deste modo a colina oferece respeitos ao Senhor. Ao ser tocada pelos pés de lótus de Krsna e Balarama, a Colina de Govardhana fica muito jubilante.” (SB 10.21.18)

 

Na verdade o Senhor fica mais satisfeito quando se servem os Seus devotos do que quando se serve somente a Ele, e a Colina de Govardhana tinha compreendido esse segredo. Portanto, hari-dasa-varyah.

 

O exemplo das gopis em glorificar a Colina de Govardhana pode ser entendido desta maneira: devemos aproximar-nos da Colina de Govardhana para que os nossos desejos espirituais possam ser satisfeitos. Sendo devotos, temos desejos espirituais no serviço do Senhor e como é que esses desejos são satisfeitos? Claro que nós temos as nossas práticas espirituais. Cantamos os santos nomes, estudamos as escrituras Védicas, associamo-nos com os devotos, adoramos a deidade, visitamos os templos e os lugares sagrados. Mas depreende-se deste verso, hari-dasa-varyah, que os nossos desejos podem ser satisfeitos pela misericórdia das grandes almas. Entre todas as grandes almas, Govardhana é a melhor. Portanto, se nos aproximar-mos a Govardhana ele satisfará os nossos desejos de servir a Krsna. A Colina de Govardhana é muito importante para os devotos. A Colina de Govardhana pode satisfazer os nossos desejos e aspirações de servir a Krsna. Diz-se que na Colina de Govardhana existe uma deidade chamada Harideva que está perto de Manasi-ganga. Quando se inicia o parikrama à Colina de Govardhana, começa-se com o darsana de Harideva. Mas o que as gopis dizem é que a misericórdia que se adquire de um hari-dasa é maior que a misericórdia que se consegue de Harideva. Por isso, com o pretexto de irem adorar Harideva, elas foram realmente procurar a misericórdia de hari-dasa-varyah, a Colina de Govardhana.

 

Neste contexto, a Colina de Govardhana é como Sri Caitanya Mahaprabhu. De acordo à literatura Védica, ao Srimad-Bhagavatam e outros textos, Sri Caitanya Mahaprabhu é o próprio Krsna mas com o sentimento de um devoto, o sentimento do melhor devoto, Srimati Radharani. O Senhor Caitanya está mais inclinado a dar misericórdia que o próprio Krsna, apesar de ser Krsna. Com o sentimento de um devoto Ele é mais misericordioso do que com o sentimento de Krsna, a Suprema Personalidade de Deus. E o mesmo acontece com a Colina de Govardhana. Alguns dos nossos acaryas comentaram que estes versos falados pelas gopis, e em particular este, hari-dasa-varyah, foi na verdade falado por Srimati Radharani. A criação inteira glorifica Srimati Radharani como sendo o melhor devoto de Krsna e Ela glorifica a Colina de Govardhana como sendo o melhor devoto de Krsna. Existe uma competição mútua e transcendental entre os devotos, para ver quem é que mais consegue glorificar o outro, pois os devotos são humildes por natureza e satisfazem-se muito em glorificar a Krsna e a Seus devotos. Na realidade o Senhor, Krsna, fica mais satisfeito quando os devotos são glorificados do que quando Ele é glorificado diretamente.

 

Numa certa altura, quando fomos pela primeira vez a Bombaim, Srila Prabhupada estava a viajar com as suas deidades de Radha-Krsna de bronze e encontrava-se no seu quarto com Gurudasa Prabhu, um devoto antigo. Gurudasa Prabhu começou a glorificar um outro devoto que estava no nosso pequeno grupo da India quando de repente parou e disse, “Oh Srila Prabhupada, esqueci-me de que não se deve glorificar ninguém diante da deidade, diante de Krsna.” Ao que Srila Prabhupada respondeu, “Krsna já é glorificado. Ele satisfaz-se mais quando os Seus devotos são glorificados.” Portanto, esta é uma parte integrante do Govardhana-puja, glorificar os devotos, glorificar a Colina de Govardhana que é Krsna, mas que também é um devoto de Krsna.

 

Aqui estamos nós no meio de tantos devotos. É um privilégio e uma grande sorte estarmos convosco nesta ocasião tão auspiciosa. Agora pediremos a este grande hari-dasa que está sentado ao meu lado que satisfaça os nossos anseios por escutar hari-katha sobre Harideva e hari-dasa. Hare Krsna. [aplausos]

 

 

Radhanath Swami:

 

nama om visnu-padaya krsna-presthaya bhu-tale

srimate bhaktivedanta-svamin iti namine

 

namas te sarasvate deve gaura-vani-pracarine

nirvisesa-sunyavadi-pascatya-desa-tarine

 

vancha-kalpatarubhyas ca krpa-sindhubhya eva ca

patitanam pavanebhyo vaisnavebhyo namo namah

 

sri krsna caitanya prabhu nityananda sri advaita

gadadhara srivasadi-gaura-bhakta-vrnda

 

hare krsna hare krsna krsna krsna hare hare

hare rama hare rama rama rama hare hare

 

 

Estou muito, muito satisfeito de estar aqui em Nova Govardhana em Govardhana-puja, sentado ao lado de Giriraj Maharaja! [risos e aplausos] E estou muito grato por estar na associação de todos vós. Sripad Giriraj Maharaja explicou, em concordância com o sastra, o princípio divino da Colina de Sri Govardhana como sendo, em simultâneo, Krsna e o supremo servente de Krsna.

 

Srila Prabhupada, o nosso amado Guru Maharaja, quando estava nos seus últimos dias, incapaz de se sentar ou pôr de pé, pediu aos devotos que o levassem em Govardhana parikrama no mês de Kartika. E quando os devotos perguntaram, “De que forma? O senhor não pode andar,” ele disse, “Consigam um carro de bois.” O médico que estava a cuidar de Srila Prabhupada disse, “Se tentar fazer isso, morrerá.” E Srila Prabhupada sorriu. Ele disse, “Existe alguma outra maneira de sair deste mundo melhor que esta, enquanto se faz parikrama a Govardhana? Penso que esta situação durou alguns dias até que os devotos convenceram Prabhupada, “Por favor não faça isso.” Mas esse era o amor que Srila Prabhupada tinha pela Colina de Govardhana.

 

Quando Sri Caitanya Mahaprabhu chegou a Vrndavana e viu pela primeira vez uma pedra da Colina de Govardhana, derramou lágrimas de extâse e abraçou a pedra exclamando, “Esta pedra não é diferente do corpo de Krsna.” Nesse mesmo lugar, Madhavendra Puri, o Seu parama-guru, descobriu Sri Nathji. Rupa Gosvami, Sanatana Gosvami, Jiva Gosvami, Gopala Batta Gosvami, todos eles tiveram os seus bhajana-kutiras (locais de adoração) em Radha-kunda, na Colina de Govardhana.

 

Em Puri, um sannyasi deu ao Senhor Caitanya Mahaprabhu uma pequenina pedra, uma govardhana-sila. Para o Senhor Caitanya essa pequena pedra tinha mais valor que qualquer outra coisa na criação. Ele levava-a sempre à volta de Seu pescoço. Por vezes colocava-a em cima de Sua cabeça. E por vezes colocava-a no Seu coração. Esta govardhana-sila estava sempre molhada com as lágrimas de amor do Senhor Caitanya. Vendo o supremo sacrificio de amor de Raghunatha dasa Gosvami , o Senhor Caitanya presenteou esta pequena govardhana-sila a Raghunatha dasa e até fez arranjos para a bhoga e as oferendas, para ajudar Raghunatha dasa Gosvami na sua adoração. E dasa Gosvami passou a maior parte de seu tempo no sopé da Colina de Govardhana.

 

Bhaktivinoda Thakura, Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, Visvanatha Cakravarti Thakura, todos eles tiveram os seus lugares de adoração na Colina de Govardhana. Foi em Radha-kunda, em Govardhana, que Srila Prabhupada recebeu a instrução de Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura de imprimir e distribuir livros.

 

Porque é que Sri Giriraja é tão importante? A história descrita no Décimo Canto do Srimad-Bhagavatam sobre a Govardhana-puja, é muito profunda e extensa. Podemos tão só tentar descrever uma particula de uma gota desse oceano de significado. Assim que, no mês de Kartika e seguindo a tradição, Nanda Maharaja estava a coordenar uma grandiosa adoração a Indra. Krsna observou isso e convenceu Nanda Maharaja através da argumentação, “Isto não é preciso. Adoras a Indra porque é ele quem dá a chuva? Mas a chuva também cai no oceano. Quem é que o adora no oceano? Se fizeres o bem, e sabe-se que já o fazes, terás bom karma, e a chuva cairá—com Indra ou sem Indra. Na verdade, dependemos das vacas, dos brahmanas e da Colina de Govardhana. Vamos juntar a parafernália para a adoração a Indra, e utilizá-la na adoração às vacas, aos brahmanas e à Colina de Govardhana.”

 

Na verdade esta é uma postura muita forte da parte de Krsna. Ele estava a desprezar as tradições dos ancestrais de Nanda Maharaja. Nanda Maharaja já tinha explicado que, “esta cerimónia de adoração tem sido levada a cabo pelos nossos antepassados desde tempos imemoriais.” Para Nanda Maharaja e para os Vraja-vasis, Indra não era só uma ideia vaga sobre alguém que pode ou não existir. Indra era o senhor dos semideuses. Nesses tempos Indra costumava descer à terra e manifestar-se. Eles conheciam-no. Compreendiam-no. E também conheciam os seus poderes.

 

Krsna estava a exigir um estado de rendição muito profundo. Tal como Krsna disse a Arjuna no Bhagavad-gita. Ele instruiu-o a lutar numa guerra onde até os seus entes queridos e familiares estavam presentes. Todo o Bhagavad-gita foi falado com o intuito de convencer Arjuna a ter fé em Krsna, sarva-dharmam parityajya mam ekam saranam vraja: “Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim.” Krsna está a pedir a Nanda Maharaja a mesma coisa. Fiquem conscientes que os Vraja-vasis conheciam o poder de Indra. Tal como pudemos observar na India as ondas do Tsunami, Indra podia criar uma milhão delas num momento. Ele pode criar um milhão de furacões Katrina num segundo. Indra é poderoso. Nesse momento, Nanda Maharaja pode compreender que não só a sua vida estava em jogo, mas também a da sua familia e a vida de todos. Essa era a fúria de Indra. Ao contrário de Arjuna, eles não tinham armas para lutar. Mas eles aceitaram devido ao seu amor inocente e fé em Krsna. A essência da religião manifestou-se naquele momento. Samsiddhir hari-tosanam. O propósito de tudo o que fazemos na nossa vida espiritual é satisfazer a Deus. Se Krsna estiver satisfeito, a nossa vida torna-se perfeita. Se levarmos a cabo todos os rituais, se protegermos todas as tradições, se executarmos severas austeridades, sacrifícios e mesmo que conquistemos o mundo; se Krsna não está satisfeito, srama eva hi kevalam, perdemos o nosso tempo. Nanda Maharaja e os Vraja-vasis estavam na disposição de aceitar qualquer risco para agradar a Krsna e nem sequer sabiam que Ele era Deus. Tão só o amavam. E não tinham nenhum medo. “Quem é que se importa com Indra? Nós queremos satisfazer Krsna o nosso amigo pastorzinho de sete anos de idade.”

 

E eles utilizaram toda a parafernália de adoração a Indra no serviço da Colina de Govardhana, sob a direcção de Krsna. Fizeram montanhas enormes de bhoga, Annakuta. Utilizaram quase tudo o que tinham. para fazer centenas, centenas e centenas de preparações em grandes quantidades e sob a instrução de Krsna. E os brahmanas executaram yajnas, cantaram mantras, os músicos cantavam e tocavam instrumentos e os Vraja-vasis estavam completamente felizes celebrando a ocasião. Porquê? Porque a felicidade deles ia trazer felicidade a Krsna. A única razão pela qual um Vraja-vasis quer ser feliz é porque Krsna fica feliz ao ver os Seus devotos felizes. Quando nos aproximamos a Radha-Giridhari, devemos dançar, cantar e escutar jubilantemente hari-katha, porque se ficamos felizes ao escutar sobre Krsna, Krsna fica feliz. Essa é a essência de todas as nossas aspirações, tão só servir a Deus.

 

Quando a oferenda foi feita, o pequeno Krsna, que permanecia no meio de todos os gopas e gopis, subitamente manifestou-Se como a Colina de Govardhana. Manifestou uma forma sem precedentes. Era imensa, com braços gigantescos. Ele manifestou a forma da Colina de Govardhana, para mostrar ao mundo que não era diferente da Colina de Govardhana.E o pequenino Krsna estava ali a olhar para Si próprio nessa forma. Ele disse, “Oh, vejam só. Devido a que Giriraja ficou muito satisfeito com a vossa devoção, assumiu esta forma, como uma pessoa, para aceitar as nossas oferendas e para satisfazer todos os nossos desejos.” Então, esta imensa forma com os seus dois braços, comeu todas as montanhas de prasada, e ainda pediu mais. “Aniyora! Tragam mais!” Krsna prostrou-se perante Govardhana e todos os Vraja-vasis fizeram o mesmo.

 

E então, seguindo a instrução de Krsna, todas as vacas, os bezerros, os brahmanas, os gopas e as gopis fizeram parikrama, a primeira circumambulação histórica à Colina de Govardhana. Foi um festival muito jubilante. Todos desfrutaram ilimitadamente à excepção de uma pessoa, Indra. Krsna é muito misericordioso. Indra é um devoto. Ele não é um demónio como Putana ou Aghasura ou Kesi. Indra é um devoto a quem lhe foi confiado pelo Senhor um serviço muito, muito importante. Na verdade, podemos ler no Sri Brhad-bhagavatamrta, no Srimad-Bhagavatam, que quando Indra executa um yajna, o Senhor Narayana vem pessoalmente e manifesta-Se para receber as oferendas desse sacrificio. Nós não temos essa percepção. Nós executamos muitas cerimónias ritualicas e sabemos que o Senhor Narayana vem, mas quando Indra os executa Ele vem pessoalmente montado em Garuda e aceita-as. Indra é uma pessoa muito elevada. Mas existe uma coisa que Krsna não tolera num devoto: falso orgulho. E a Sua misericórdia para com o Seu devoto é fazer com que, por todos os meios necessários, esse orgulho seja esmagado, esse tumor do orgulho cancerígeno seja removido do coração de Seu devoto, porque esse tumor espalha-se de uma forma muito prejudicial e mata as nossas propensões devocionais.

 

Indra ficou muito furioso. Existem muitas histórias onde Krsna utiliza Indra como alvo para nos ensinar este principio. Ele é o rei de Svargaloka, os planetas celestiais. Ele é adorado pelos devatas, as Apsaras, os Gandharvas. A ele dão-se-lhe honras. Ele é glorificado. Ele senta-se em assentos bonitos. Ele tem imensa riqueza, imenso poder, imensa fama. Se tivessemos, ainda que fosse um pequeno vestígio dessas situação, teríamos a tendência a pensar que seríamos melhor que os outros, e quando pensamos que somos melhores que os outros, cometemos aparadha, ofensas. Se ninguém se preocupar demasiado connosco, e se houver alguém que diga alguma coisa sobre nós, não ficamos muito tristes. Mas quanto mais tivermos, mais dói. Essa é a natureza do ego. E isso aconteceu com Indra, “Cada ano, desde séculos, eles executam este puja para mim e este ano, seguindo a lógica de um miudinho falador, de sete anos de idade, substituiram a adoração destinada a mim e deram-na a uma montanha! Uma montanha! Que grande ofensa!” Ele estava furiosíssimo.

 

Ele decidiu destruir toda Vrndavana e aqueles que viviam lá e, para isso, chamou as nuvens Samvartaka. Não existe nenhum exército na terra que se possa comparar com as nuvens Samvartaka. Não são aquelas nuvens que aparecem na época das monções e inundam Bombaim, paralisando tudo num só dia. Também não são aquelas nuvens que são acompanhadas de furacões e tornados e causam devastação numa vila, numa cidade ou num estado. Esta é uma tarefa para as nuvens pequeninas. As nuvens Samvartaka são chamadas especificamente para a destruição do universo no momento da dissolução. Foi a elas que Indra chamou. Ele estava enraivecido. Dirigiu-se a essas nuvens Samvartaka berrando, “Ide a Vrndavana! Destruam tudo e todos! Eles ofenderam-me.”

 

E elas foram. Nuvens pretas e muito espessas começaram a crescer, a crescer, a crescer e instalaram-se em todas as direcções. Trovões, raios, torrentes de chuva. E os Vraja-vasis estavam conscientes do que estava a acontecer. Ofenderam a Indra. Como é que se pode lutar contra uma coisa assim? Todos se aproximaram a Krsna. Os vaqueiros puseram as vacas à sua frente e exclamaram, “Observa, as Tuas vacas estão a sofrer. Tu és Govinda. Tu protegerás as vacas e também a nós. Por favor dá-nos proteção.” Krsna saiu de Sua casa com um sorriso e sem esforço algum, levantou toda a colina de Govardhana tal como uma criança levanta um cogumelo. Nós não comemos cogumelos, mas por vezes levantamos cogumelos. [risos] E com o dedo mindinho de Sua mão esquerda, Ele segurou-a. Sri Sri Radha-Giridhari ki jaya! E Ele dirigiu-se a todos de uma forma muito humoristica, “Venham todos e vejam. A Colina de Govardhana está tão satisfeita convosco que agora tornou-se um guarda-chuva para vos proteger de Indra. Venham agora e tragam tudo o que vos é querido, juntamente com todos os vossos animais, para este vale debaixo da Colina de Govardhana.” Desta maneira todos se aproximaram da Colina de Govardhana.

 

Krsna levantou a Colina de Govardhana de tal maneira, que se escutou um imenso som de trovões que podia ser ouvido em todas as direcções. À medida que Ele a levantava, Giriraja deixou cair de suas extremidades grandes pedaços de terra e pedras para que fosse criada uma barreira no solo. Deste modo, não só se estava protegido desde cima mas a água também não entrava. Krsna levantou a Colina de Govardhana e as nuvens Samvartaka ficaram furiosas. Aquilo não era chuva. Era outra coisa. O Srimad-Bhagavatam descreve que as gotas caíam com tanta impetuosidade que pareciam rios saindo de uma comporta em direcção à Colina de Govardhana. Srila Prabhupada explica que pareciam colunas sólidas de água que caíam com muita força. E todo o céu era atravessado por raios e havia uma trovoada intensa e ventania, ventos muito fortes. Pareciam-se com os nossos tornados mas multiplicados por milhares de vezes. E ali estava Krsna, sorrindo, com a Colina de Govardhana apoiada no Seu dedo mindinho.

 

Este passatempo é muito bonito porque o Senhor Krsna quis estabelecer que Ele é a Suprema Personalidade de Deus, não só como o todo poderoso mas também como o supremo objecto do amor de todos. Srila Prabhupada disse que as pessoas reconhecem que Deus é grande, mas o Srimad-Bhagavatam explica-nos como é que Deus é grande, não só no Seu poder de criar e destruir e executar actividades inconcebíveis, mas no Seu poder de reciprocar com o amor dos Seus devotos. Quando Krsna estava de pé, debaixo da Colina de Govardhana, e os habitantes de Vrndavana estavam todos ali reunidos, Krsna olhava de tal maneira para eles, que cada uma das gopis, cada um dos gopas, cada vaca, bezerro, pavão, macaco, papagaio e todo o ser vivo pensava, “Krsna está a olhar só para mim. Krsna ama-me tanto.” Este é o poder de Krsna. Krsna pode satisfazer plenamente o coração de todos os Seus devotos simultaneamente e reciprocar com o seu amor. Ele estava ali de pé e todos os residentes de Vrndavana glorificavam essa forma de Girivara-dhari, Aquele que ergue Govardhana. O lado esquerdo de Seu corpo estava recto, com o Seu braço levantado, mas o Seu lado direito estava curvado. Ele permanecia de pé com o corpo curvado em três partes, a personificação da essência de toda a beleza, que cativava os corações de todos.

 

Os Vraja-vasis ofereciam a sua profunda gratidão a Indra por lhes ter dado este darsana, o darsana de todos os darsanas. E era 24/7. As cortinas nunca fechavam. [risos] Todos os seus desejos ficaram satisfeitos. Normalmente ao gopis estavam com Krsna durante a noite, mas durante o dia estavam separadas. E durante o dia as vacas estavam com Ele mas à noite estavam separadas. E Nanda, Yasoda e os membros mais velhos, estavam com Ele pela manhã e à noite, mas estavam separados durante o resto do tempo. Mas debaixo da Colina de Govardhana, todos permaneciam ali, com Krsna, a reciprocar constantemente o amor mais doce e extático. Os brahmanas, serviam a Krsna cantando mantras para a Sua protecção, e Ele reciprocava. Os gopas diziam piadas e tinham discussões graciosas com Krsna, para O animar. E Krsna reciprocava com eles. As gopis, a perfeição da vida de todos eles, lançavam olhares e sorrisos para Krsna e ofereciam-Lhe continuamente o amor de seus corações e o Senhor reciprocava com todas e cada uma delas. E os vaqueiros, quando viam Krsna tremer colocavam os paus debaixo da colina. E Krsna sorria para todos eles. Sim, a govardhana-lila é o momento em que Krsna satisfaz todos os devotos da forma mais desejável. É por isso que Deus é grande. Foi um festival de extâse transcendental.

 

Enquanto isto, Indra e as nuvens Samvartaka derramavam chuvadas, ventos e raios. Indra deu a seguinte ordem às nuvens Samvartaka, “Com todo o vosso poder, tirem essa colina do dedo mindinho de Krsna.” Hare Krsna. Mas a Colina de Govardhana não se mexeu. Os dias passaram. A um dado momento, segurando a Colina de Govardhana com a Sua mão esquerda, Krsna agarrou a flauta com a Sua mão direita, colocou-a nos Seus lábios e tocou uma canção muito bonita. O vaqueirinho Madhumangala ficou com muito medo e dirigiu-se a Krsna, “Não toques a Tua flauta, porque já sabemos o que acontece quando tocas a flauta. Se Govardhana Te escutar ao tocares a flauta, pode experimentar uma felicidade tão transcendental, que pode cair do Teu dedo e morreremos aqui todos esmagados. Todos nós conhecemos o poder da Tua flauta. Pode converter pedras em água e água em pedras. Se Govardhana derreter em extâse, ficaremos todos afogados. Por isso, não toques a Tua flauta.” Outro vaqueirinho disse, “Não, não, tu não conheces Govardhana, ele é uma pessoa muito equlibrada e sóbria. Ele sabe controlar-se.”

 

Yasodamayi, no seu amor habitual por Krsna, estava preocupada, “Já se passaram tantas horas e ainda não comeste nada. O Teu corpo suave é como manteiga, como pode o Teu dedo mindinho segurar essa colina gigantesca e não sentir nenhuma dor?” Yasodamayi chorava e orava à Colina de Govardhana, “O que quer que tenha feito em vidas anteriores, todas as minhas austeridades, toda a minha adoração, peço-te Govardhana somente uma benção. Por favor, não causes nenhuma dor ao meu filho Gopala.” Madhumangala disse, “Yasodamayi, porque te preocupas? Através da minha brahma-tejas estou a dar-Lhe poder para que possa segurar a colina. Não te preocupes. Na realidade, este é um festival maravilhoso. Amamos Indra pelo que fez por nós. Por causa de Indra, podemos experimentar este néctar doce do darsana de Krsna nesta forma maravilhosa.” Yasodamayi disse, “Que é que estás para aí a dizer? Não tens coração? Estás a dizer que é doce ver este menino inocente e gentil com esta montanha gigantesca em cima d`Ele? Como te atreves a dizer que é doce? Nanda Maharaja disse, “Yasoda, não fales assim a Madhumangala porque ele está a encorajar Krsna. Krsna está a sorrir com o que ele diz.”

 

Assim, estas relações maravilhosas eram partilhadas debaixo da Colina de Govardhana. Os vaqueiros pensavam que era devido à benção de Madhumangala que Krsna tinha esse poder. E as gopis pensavam que Krsna tinha poder porque Radharani outorgava-Lhe esse poder ao olhar para Ele. Krsna disse a Yasodamayi, “Eu não estou a fazer nada. Govardhana ficou tão feliz com as oferendas que vocês prepararam, que ele está a flutuar. Sou tão só o instrumento que segura.” Yasodamayi disse, “Se o que dizes é verdade, então deixa-o voar no ar sem o Teu dedo. Só então acreditarei em Ti.” Santa-rasa, servidão, afecto parental, a rasa conjugal, todas as rasas estavam a ser intercambiadas continuamente entre Krsna e os Seus devotos, durante os sete dias e sete noites.

 

Enquanto as nuvens, os trovões, os raios, as tempestades e os arco-iris fustigavam Govardhana, debaixo da colina havia uma outra tormenta. Krsna era tal como uma nuvem bonita, as gopis eram como os raios, a pena de pavão de Krsna era como o arco-iris e o Seu amor pelos Seus devotos era uma chuva incessante.

 

Enquanto isso, no cimo da colina, Indra estava descontroladamente frustrado. Dia após dia, após dia, as nuvens Samvartaka com todo o seu poder fustigavam a Colina de Govardhana. Finalmente voltaram a Indra e cairam a seus pés, “Não aguentamos mais.” Indra disse, “Voltem!” Elas ficaram sem água. As nuvens Samvartaka dirigiam-se para os oceanos para conseguir mais água e praticamente secavam-nos. Depois atiravam-na contra a Colina de Govardhana. Durante esses sete dias, Indra e as nuvens e todos os raios, não conseguiram mover nem sequer um só pedacinho de pó, nem mesmo remover uma só folha das centenas e milhares de árvores que estavam na Colina de Govardhana. Debaixo da tempestade violenta, a Colina de Govardhana brilhava. O mesmo aconteceu hoje com Giriraja a receber o seu abhiseka. Ele teve a mesma sensação. Porquê? Porque apesar de todos os raios, trovões e tempestades enormes, Govardhana sentia a parte de cima do dedo mindinho de Krsna por baixo e isso energizava-o com muita felicidade.

 

Finalmente as nuvens Samvartaka chegaram ao ponto de quase morrer, estavam muito exaustas. E Indra também estava assim. Eles foram-se embora. O céu ficou limpo, o sol apareceu e Krsna continuava sorrindo. Ele disse, “Vejam, a chuva parou. Agora está um dia de sol e lá fora está muito agradável e seco. Voltem todos para as vossas casas.” Mas ninguém queria regressar. Este é um princípio muito bonito. Se tivermos fé em Krsna, se nos dedicarmos sinceramente, mesmo ao ponto de aceitar riscos para sermos fieis a Krsna, Krsna ficará feliz. Krsna pode transformar a maior das crises em algo maravilhoso. Isso é rendição. Apesar de não conseguirem tirar os olhos de Krsna, os gopas e as gopis seguindo a ordem de Krsna, sairam debaixo da colina. Os gopas tentavam controlar as vacas mas quando elas viram Krsna voltaram para trás. Não podiam abandonar a Sua associação. O Senhor Govinda, Giridhari, com os Seus olhos dirigiu as vacas de volta para as pastagens. Depois, sem esforço, colocou a Colina de Govardhana no chão, exatamente no mesmo sitio onde estava inicialmente. Quando Krsna saiu debaixo de Govardhana, Balarama abraçou-O, Yasodamayi massajava-Lhe o dedo para aliviá-Lo da dor, as gopis olhavam e sorriam para Ele, os Seus amigos brincavam e dançavam com Ele, os brahmanas recitavam mantras em Sua honra, as suas esposas ofereciam-Lhe presentes, os serventes abanicavam e traziam-Lhe água para beber e Rohini ofereceu-Lhe arati. Foi um festival maravilhoso. Todos estavam felizes à excepção de uma pessoa. Sabem quem era essa pessoa?

 

Devoto: Indra.

 

Ele foi completamente derrotado. Estava intoxicado com o seu poder e fama mas agora estava sóbrio e realizou que tinha cometido uma grande ofensa. O Bhagava-gita informa-nos que ao contemplarmos os objectos dos sentidos, desenvolvemos apego por eles. Do apego, luxúria, quando a luxúria não é satisfeita surge a ira. A ira provoca-nos confusão, perda da memória e da inteligência e depois actuamos de maneiras abomináveis. Indra passou por estas etapas devido aos seus apegos. Mas então realizou, “Nunca ninguém cometeu uma ofensa tão grande como esta. Tentei matar Deus! Tentei assassinar todos os devotos mais intimos e amorosos de Deus. O mesmo quis fazer com as Suas vacas, com todos. Que é que eu fiz?” Estava completamente baralhado e nesse estado aproximou-se a Brhaspati, seu guru, “Que é que devo fazer?” Brhaspati disse-lhe, “Uau! Não há nada que possas fazer mas, se te aproximares a alguém que é amado por Krsna, e essa pessoa pedir perdão em teu nome então Krsna perdoar-te-á, caso contrário, se fores sózinho . . . É que cometeste um pecado muito severo.”

 

Assim sendo, e seguindo a instrução de Brhaspati, Indra foi com Surabhi, a mãe das vacas. É uma cena muito bonita. Tentem imaginar. Eis o rei dos céus com toda a sua indumentária real. Diamantes magnificos, rubis, jóias, safiras, coroas, sedas lindíssimas e a ser conduzido por um elefante magnifico. O próprio Indra é um homem muito bonito, forte e digno de ser visto. E ele está a prostrar-se, desamparadamente, diante dos cascos da mãe vaca, rogando, “Salva-me! Por favor salva-me!” A Mãe Surabhi compadeceu-se muito com Indra e disse-lhe, “Vem comigo.” Aproximaram-se de Krsna e Indra prestou as suas reverências, mas Krsna ignorou-o completamente. Então Mãe Surabhi, que é uma fêmea muito gentil, aproximou-se de Krsna com muito afecto e disse, “Indra arrependeu-se profundamente. Por favor desculpa-o.” E devido ao seu apelo, Krsna perdoou Indra.

 

Existe um lugar no caminho de parikrama de Sri Giriraja que se chama Surabhi-kunda. Este lugar personifica a qualidade do perdão. E este é um principio universal. Os cristãos acreditam que não se pode aproximar a Deus directamente. Se pecamos temos que nos aproximar através de um filho. Os Judeus têm o mesmo conceito. Os Muçulmanos têm o mesmo conceito. E na sua expressão mais completa e substancial, o conceito de não podermos aproximar-nos a Deus directamente encontra-se aqui nesta história. Devemos aproximar-nos ao Senhor através daqueles a quem o Senhor ama. Vancha-kalpatarubhyas ca krpa-sindhubhya eva ca/ patitanam pavanebhyo vaisnavebhyo namo namah. Sem a misericórdia dos devotos do Senhor não temos esperança. Não é uma questão do quanto nós sabemos. Podemos memorizar todas as escrituras, podemos dar discursos eloquentes, podemos cantar docemente, podemos fazer centenas e milhões de seguidores mas se não nos tornamos humildes perante um devoto que ama o Senhor, não podemos, verdadeiramente, aproximar-nos a Deus. Não poderemos receber as bençãos do Senhor na Sua plenitude. Pelas bençãos de Surabhi, Krsna abençoou Indra. Indra prostrou-se, a chorar, e quando Indra chora não é algo insignificante, porque ele tem muitos olhos. Todos os seus olhos choravam de arrependimento. Duas coisas são requeridas: (1) devemos prostrar-nos, tornando-nos humildes perante aqueles que amam o Senhor e (2) devemos ser sinceros, devemos ser genuinos.

 

Indra não estava a representar. O arrependimento vinha-lhe do coração e para ele era mais doloroso que a morte. Ele rogava por misericórdia, e devido à sua sinceridade, tornou-se humilde e Krsna perdoou-o. Indra invocou todos os devatas que executaram uma cerimónia maravilhosa. Indra disse, “Eu sou um Indra pequenino mas tu és o supremo Indra.” Levaram a cabo um abhiseka trazendo o Akasa-ganga com a ajuda de Airavata e então banharam Krsna. Os sábios, os rsis e os devatas estavam presentes ali. E a água desse abhiseka encheu o kunda. Então Indra e os semideuses deram a Krsna o nome “Govinda” porque Ele dá prazer e protecção às vacas, à terra e aos cidadãos. Hoje esse lugar chama-se Govinda-kunda.

 

Depois de se terem ido embora, os vaqueirinhos chegaram ali e viram toda a parafernália, a parafernália magnificente dos semideuses. Eles construiram um trono pequenino mas muito bonito para Krsna, a partir das rochas da Colina de Govardhana, puseram Balarama nesse trono e começaram a fazer os mesmos pujas e a cantar as suas canções bonitas. Os semideuses fizeram todas as cerimónias exactamente como as escrituras prescrevem—o abhiseka, o arati, a puja. Mas os gopas estavam simplesmente a brincar. Imitavam, brincavam e gracejavam. Quando os semideuses viram a maneira como os vaqueirinhos adoravam Krsna, chegaram a uma realização. “Em comparação com eles, não temos nenhum amor por Krsna, nenhum.”

 

Então, Nanda Maharaja, os pastores e Yasodamayi ouviram as crianças cantarem e dançarem e imediatamente dirigiram-se para o lugar, e aí puderam ver toda aquela parafernália maravilhosa. Perguntaram, “Que é isto? Que é que aconteceu aqui?” Quando os vaqueirinhos explicaram, “Querem saber o que aconteceu aqui? Será que devemos contar-vos? Primeiro vimos uma vaca a falar [risos]. Depois vimos um homem com milhares de olhos por todo o corpo, apeando-se de um elefante que tinha muitas trombas, prostrar-se perante Gopala. Depois vimos uma pessoa que tinha cinco cabeças e o cabelo agarrado. Era esse que fazia a puja. E uma outra pessoa antes deste, oferecia o arati.” E nessa altura, Nanda Maharaja, Yasodamayi e todos os habitantes de Vrndavana executaram uma cerimónia de arati muito bonita para celebrar as glórias de Sri Radha-Giridhari.

 

Srila Prabhupada introduziu-nos ao serviço divino amoroso de Sri Sri Radha-Giridhari. Neste dia de Sri Govardhana-puja, se verdadeiramente quisermos agradar Radha-Giridhari, que melhor maneira de o fazer que render-nos aos pés de lótus de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Indra aproximou-se a Surabhi para conseguir a sua misericórdia. Mas foi Srila Prabhupada que se aproximou a nós. Ele aceitou o risco e o desconforto do Jaladuta. Ele viajou pelo mundo uma e outra vez, visitando as cidades e vilas mais importantes chamando-nos de volta ao serviço amoroso de Sri Sri Radha-Giridhari. Portanto, neste dia vamos adorar a Colina de Govardhana. Estamos a proximar-nos dessa pessoa que tanto ama Sri Giridhari.

 

Srila Prabhupada disse-nos, “Podeis demonstrar o amor que tendes por mim colaborando uns com os outros.” Um pai adora ver afecto entre os seus filhos. Pessoalmente nunca tive filhos mas tenho visto e escutado que é muito doloroso para um pai quando vê conflitos entre os seus filhos. E a mãe sofre ainda mais. Portanto, Govardhana-puja não é só um ritual. É uma celebração, e essa celebração ganha substância na maneira como, de uma forma sincera, regamos a raiz da árvore ao satisfazer Sri Sri Radha-Giridhari, através da satisfação de Srila Prabhupada e do serviço aos Vaisnavas e imbuídos desse espirito, cantar os santos nomes: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.

 

Quero agradecer a todos os devotos de San Diego, especialmente aqueles que estão a manter e a servir neste templo muito, muito bonito. Penso que dentro em breve haverá outro templo. Será maravilhoso. Radha-Giridhari quer chamar milhares e milhares de almas afortunadas ao Seu serviço amoroso. Esse era o sonho de Srila Prabhupada, e essa é a nossa vida.

 

Quero agradecer-vos uma e outra vez. [aplauso]

 

 

Outubro 22, 2006

San Diego

 

 

Written by nityananda108

Outubro 28, 2008 at 5:19 pm

Publicado em Uncategorized

Srimati Radharani

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Radhastami

Uma Aula Dada por Giriraj Swami

21 de Setembro, 2004

San Diego

 

 

mahatmanas tu mam partha

 daivim prakrtim asritah

bhajanty ananya-manaso

 jnatva bhutadim avyayam

 

TRADUÇÃO

 

Ó filho de Prtha, aqueles que não se iludem, as grandes almas, estão sob a proteção da natureza divina. Eles ocupam-se completamente em serviço devocional porque sabem que Eu sou a original e inexaurível Suprema Personalidade de Deus. (Bg 9.13)

 

SIGNIFICADO por Srila Prabhupada

 

Este verso descreve com muita clareza o mahatma. O primeiro sinal do mahatma é que ele está situado na natureza divina. A natureza material já não o controla mais. E como é que isso acontece? A explicação está no Sétimo Capítulo: quem se rende à Suprema Personalidade de Deus, Sri Krsna, livra-se imediatamente do controle da natureza material. Esta é a qualificação. A pessoa pode livrar-se do controle da natureza material logo que se entregue, de corpo e alma, à Suprema Personalidade de Deus. Esta é a fórmula preliminar. Sendo potência marginal, logo que se liberta do controle da natureza material, a entidade viva fica sob orientação da natureza espiritual. A orientação da natureza espiritual chama-se daivi prakrti, a natureza divina. Então quando alguém, rendendo-se à Suprema Personalidade de Deus, recebe essa distinção, ele passa a ser uma grande alma, um mahatma.

 

O mahatma não desvia a sua atenção para assuntos alheios a Krsna, porque ele sabe perfeitamente que Krsna é a Pessoa Suprema original, a causa de todas as causas. Quanto a isto não há dúvidas. Tal mahatma, ou grande alma, progride associando-se com outros mahatmas, ou devotos puros. Os devotos puros nem mesmo se sentem atraídos aos outros aspectos de Krsna, tais como o Maha-Visnu de quatro braços, mas apenas à forma de Krsna que apresenta dois braços. Eles não sentem atração por outras caracteristicas de Krsna, nem se interessam por quaisquer formas exibidas por semideuses ou seres humanos. Eles apenas meditam em Krsna em consciência de Krsna e vivem ocupados no inabalável serviço ao Senhor em consciência de Krsna.

 

COMENTÁRIO por Giriraj Swami

 

Alguns anos atrás, quando servíamos Srila Prabhupada em Bombaim, consegui um programa para ele na casa da então familia mais rica da India, os Birla. A senhora Birla queria um título para a palestra de Srila Prabhupada, um título que fosse apelativo para o círculo de amigos dos Birla. Com isso em mente, elaborei uma lista de dez ou doze títulos, e a senhora Birla escolheu “Como ter Sucesso na Vida.” Ela pensou que o tema poderia ser interessante para a sua familia e amigos. Apresentei o título a Srila Prabhupada, e no programa Srila Prabhupada deu uma definição transcendental de sucesso. Ele disse que há duas energias—a inferior, a energia material, e a superior, a energia espiritual. A energia material é personificada como Durga, e a espiritual como Srimati Radharani. Todos estamos sob o controle da energia material.

 

Ele explicou que Durga-devi é descrita como estando montada num leão, e levando armas nas suas dez mãos, para castigar os materialistas. Em particular, ela é conhecida pelo seu tridente, ou trishula, cujas três pontas representam os três tipos de misérias da natureza material que estão sempre a trespassar as almas condicionadas na prisão do mundo material. Portanto, o mundo material é uma prisão, e Durga-devi é a vigilante da prisão. Ela mantém-nos no cativeiro. Para a entidade viva, o sucesso está no abandono da tentativa de desfrutar na prisão. O sucesso repousa justamente no alívio da prisão, e no ser abençoado pela energia espiritual, Srimati Radharani.

 

O verso que acabámos de ler descreve o processo—como é que as grandes almas se situam sob a energia espiritual (daivi prakrtim). Srila Prabhupada explica que as entidades vivas são energia marginal. Krsna é o energético, sakti-man, e as entidades vivas são energia, sakti—especificamente a energia marginal, tatastha-sakti. Sendo energia marginal, não podemos ser independentes. Temos que estar ou sob a influência da potência espiritual, ou sob a influência da potência material. Quando nos rendemos a Krsna, aliviamo-nos da energia material e somos colocados sob a energia espiritual.

 

daivi hy esa guna-mayi

 mama maya duratyaya

mam eva ye prapadyante

 mayam etam taranti te

 

“Esta minha energia divina, que consiste dos três modos da natureza material, é dificil de ser suplantada. Mas aqueles que se renderam a Mim podem fácilmente transpô-la.” (Bg 7.14) Essa é a nossa meta na vida, e esse é o sucesso na vida.

 

O Bhagavad-gita confirma, daivi hy esa guna-mayi mama maya duratyaya: a natureza material que consiste dos três modos é muito dificil de superar. Mas, mam eva ye prapadyante mayam etam taranti te: aqueles que se rendem a Krsna podem facilmente superar maya.

 

O nosso processo é o de rendição a Krsna, refugiarmo-nos em Krsna. E em Kali-yuga o método recomendado é o cantar dos santos nomes de Krsna: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna Hare Hare/ Hare Rama Hare Rama, Rama Rama Hare Hare. Srila Prabhupada explicou, que o cantar do maha-mantra Hare Krsna, é como o choro genuíno de uma criança por sua mãe, a Mãe Hara. (Hare é o vocativo de Hara [Radha], assim como Radhe é o vocativo de Radha.) Quando cantamos o maha-mantra Hare Krsna estamos a implorar a Radharani tal como um filho perdido clama por sua mãe. Nós imploramos a Srimati Radharani, “Por favor salva-nos desta natureza material e ocupa-nos no serviço a Krsna.”

 

Num sentido, Srimati Radharani está muito longe de nós.

 

Apesar de falarmos sobre o alívio da natureza material, na verdade estamos bastante emaranhados nos modos da natureza. Estamos identificados com os nossos corpos e com o que se relaciona com ele—as expansões do corpo, tais como os membros familiares, casa, lar e outras posses que sustentam o corpo. E então, para manter tudo o que sustenta o corpo, temos que trabalhar muito e isso provoca um maior envolvimento com a natureza material. Na verdade, estamos bastante atolados no mundo material.

 

De acordo com esta perspectiva, Srimati Radharani e o serviço a Sri Sri Radha e Krsna em Vrndavana estão muito distantes. Contudo, mesmo quando tentamos à nossa maneira humilde e insignificante servir a Krsna, Srimati Radharani está presente porque o serviço devocional, desde os primeiríssimos estágios, é executado sob a Sua supervisão. Portanto, podemos aperceber-nos da presença de Srimati Radharani através do processo do serviço devocional. Quando cantamos Hare Krsna e nos sentimos felizes, essa felicidade é uma manifestação da hladini-sakti, Srimati Radharani. A satisfação que Krsna sente quando executamos serviço devocional, é hladini-sakti, a potência de prazer, Srimati Radharani—e o prazer que experimentamos no serviço devocional também é uma manifestação da hladini-sakti, ou Srimati Radharani.

 

A melhor maneira de servir a Srimati Radharani e apreciar a Sua presença, é através do serviço aos Seus devotos. Srila Prabhupada sugere de que por servir um mahatma, tornamo-nos um mahatma. Bom, nós temos Srila Prabhupada. Naturalmente que ele é um mahatma, e por servi-lo também desenvolvemos as qualificações de um mahatma. Não nos tornamos Srila Prabhupada, nem sequer iguais a Srila Prabhupada, mas devido a que ele está sob a supervisão de Srimati Radharani, se executamos serviço devocional sob a sua guia, em última instância também estamos sob a supervisão de Srimati Radharani (daivi prakrti) e tornamo-nos qualificados como mahatmas. E porque Srila Prabhupada é muito querido a Srimati Radharani, quando o servimos, Ela fica extremamente feliz.

 

Realmente, não precisamos de esforçar-nos por servir de um modo que está mais além do nosso estágio presente ou capacidade actual. Servimos, isso sim, da maneira que Srila Prabhupada nos ensinou: cantamos o santo nome de Krsna, ouvimos sobre Krsna do Bhagavad-gita e de outras escrituras, e trabalhamos em conjunto para expandir a missão da consciência de Krsna. Por seguir as instruções de Srila Prabhupada—por servi-lo—ficamos sob a sua protecção. E porque ele está sob a protecção da energia divina, de Srimati Radharani, também ficamos sob a protecção de Srimati Radharani. E por servir Srila Prabhupada neste mundo material, de acordo às suas instruções, tornamo-nos capacitados para servi-lo no mundo espiritual onde ele está ocupado no serviço a Radha e Krsna. Deste modo, também nos ocuparemos no serviço de Radha e Krsna, como corrobora a canção que cantámos de Narottama dasa Thakura: radha-krsna prana mora.

 

Num sentido, o nosso serviço aqui e o nosso serviço lá são idênticos: servimos o servente de Sri Radha. Os aspectos externos podem ser diferentes, mas na realidade, as actividades são as mesmas—serviço a Srila Prabhupada. Srila Prabhupada deu o exemplo de que se estamos no Ensino Secundário mas trabalhamos a um nível universitário, podemos ser promovidos a esse nível. Do mesmo modo, enquanto estamos no mundo material, se nos ocuparmos em actividades do mundo espiritual—em serviço devocional—poderemos ser promovidos ao mundo espiritual.

 

Num sentido, é um tipo de ilusão o facto de pensarmos que estamos neste mundo material, porque enquanto aqui, estamos ocupados em actividades espirituais de serviço devocional. Na verdade estamos no mundo espiritual mas não o realizamos. À medida que, progressivamente, cantamos e servimos, realizaremos mais e mais que, na verdade, estamos no mundo espiritual. É só devido à falsa identificação com o corpo e com as expansões do corpo, e com as ansiedades relacionadas ao corpo e às suas expansões, que a consciência e a apreciação da nossa verdadeira identidade e a das pessoas que estão à nossa volta (que também estão ocupadas em serviço devocional) fica toldada.

 

Srila Prabhupada citava regularmente este verso (mahatmanas tu mam partha) para definir um mahatma. Mahatma tornou-se um termo popular, mas nem sempre as pessoas sabem quem é um mahatma. Numa outra altura, quando Srila Prabhupada pregava em Bombaim, um cavalheiro indiano perguntou-lhe, “India é o país dos mahatmas. Neste país nasceram muitos mahatmas, e ainda hoje existem tantos mahatmas. No entanto, temos tantos problemas. Qual é a razão desta situação, quando temos tantos mahatmas?” Srila Prabhupada respondeu, “A causa de tantos problemas é porque não sabemos distinguir entre quem é um mahatma e quem não o é.”

 

A definição aqui dada é importante porque é correcto que, quando nos refugiamos num mahatma, somos aliviados de todos os tipos de problemas. Mahat-sevam dvaram ahur vimuktes: por servir um mahatma, ou grande alma, a porta da liberação é aberta. (SB 5.5.2) Entretanto, temos que ser capazes de reconhecer quem é um mahatma. E a definição de mahatma é dada aqui: ele está sempre sob a protecção da natureza divina, plenamente ocupado em serviço devocional com a mente absorta em Krsna. Para tal, temos o exemplo de Srila Prabhupada. Ao servir Srila Prabhupada desenvolvemos as qualidades de um mahatma. É uma corrente. Ao servir aqueles que se refugiaram nele, de uma forma apropriada, também nos refugiamos nele e, em última instância, através do mesmo processo, refugiamo-nos em Srimati Radharani.

 

O processo é simples. Srila Prabhupada disse que cantar Hare Krsna é muito simples, mas manter a determinação de cantar é que não é tão simples. E portanto, precisamos da associação dos devotos, mahatmas, porque na associação dos devotos torna-se mais fácil. É fácil cantar Hare Krsna com os devotos porque eles cantam Hare Krsna. Mas se abandonamos a associação dos devotos, torna-se dificil, porque ficamos acompanhados de outras pessoas que estão envolvidas em muitas outras coisas, e que quererão que façamos o mesmo. Portanto, o Srimad-Bhagavatam recomenda que mesmo os casados devem passar um mínimo de três horas ao dia a cantar e a ouvir sobre as glórias do Senhor na companhia de devotos. Claro que os membros da familia também podem ser devotos e assim podemos ter a associação de devotos em casa. A ocupação em cantar e ouvir sobre Krsna, na associação dos devotos, é o que se requer. Cantar Hare Krsna e ouvir Krsna-katha—lendo o Bhagavad-gita e o Srimad-Bhagavatam—purificará os nossos corações (cetodarpana-marjanam).

 

É simples porque já estamos a cantar—todos cantam sobre alguma coisa. E quanto ao escutar—estamos sempre a escutar sobre algum tópico. Só temos que mudar o assunto, ou então focalizar-nos mais no tema da consciência de Krsna. Deste modo purificaremos os nossos corações. Então, apesar de estarmos no mundo material, não faremos parte dele. Dá-se o exemplo da flor de lótus. Apesar das raízes da flor de lótus estarem no lodo, e o caule estar na água, a flor em si está por cima da água. Não é tocada pela água. Pode estar no lodo ou na água, mas não faz parte dela. Do mesmo modo, nós podemos estar no mundo (e fisicamente estamos nele) mas não fazer parte dele. Na verdade, podemos estar, através da consciência, com Srila Prabhupada, Sri Sri Gaura-Nitai, Sri Sri Radha-Giridhari, e essa consciência deriva da associação com os devotos, e do escutar e cantar sobre Krsna.

 

E essa situação pode ser criada em toda e qualquer parte: em casa, podemos vir ao templo e estar com os devotos para obter um ânimo ou inspiração especiais, ou podemos convidar os devotos a nossa casa. De uma ou outra maneira, devemos estar sempre ocupados em escutar e cantar e daí surgirá a lembrança (sravanam kirtanam visnoh smaranam). Este verso menciona precisamente isso, a ocupação constante da mente na consciência de Krsna (bhajanty ananya-manaso).

 

Certa vez, Srila Prabhupada contou uma história sobre um jinn, um génio. O génio sai da garrafa e diz ao seu mestre, “Farei tudo o que me disseres, mas tens que me manter sempre ocupado. A partir do momento que não tenha nada para fazer, matar-te-ei.” O mestre disse, “Está bem, podes começar por limpar a cozinha.” O génio limpou a cozinha e voltou. “Muito bem, limpa a sala de estar.” “Certo, limpa o quarto de dormir.” “Limpa a entrada da casa.” “Limpa a cave.” “Limpa o sótão.” Em pouco tempo a casa ficou completamente limpa. “Limpa o pátio.” A partir deste momento o mestre começa a ficar preocupado. Ele está a ficar sem ideias de como ocupar o génio. E começa a entrar em pânico porque sabe que, se não o mantiver ocupado, o génio vai voltar-se contra ele e matá-lo. Ele pensa, “Meu Deus, que é que vou fazer agora?” Nesse momento ele tem uma ideia. Lembra-se que tem umas palmeiras no quintal, e então exclama, “Sobe até ao topo da palmeira; salta para a próxima árvore, desce-a, volta a subir, depois salta para a próxima árvore e faz o mesmo, e mantém-te a subir e a descer. Quando chegares à última árvore, volta para trás, e começa tudo de novo.” Deste modo, o mestre encontra uma ocupação que mantém o génio ocupado, para que o génio não se vire contra ele.

 

Qual é então, a lição que se pode extrair desta história? O génio é a mente. Se não ocuparmos a mente, ela vira-se contra nós e mata-nos. Por isso, temos que manter a mente ocupada. Podemos ocupá-la fazendo diferentes coisas, mas ultimamente precisamos de uma actividade que mantenha a mente sempre ocupada. Este subir e descer—é o nosso japa mala. O subir e descer as árvores é o manusear das nossas contas. Portanto, Srila Prabhupada disse que devemos manter sempre a mente ocupada, e se não existir nenhuma actividade que ocupe a mente em Krsna, então cantamos Hare Krsna. Este canto manterá a mente ocupada,e assim iremos ao encontro da definição neste verso (bhajanty ananya-manaso); tornamo-nos mahatmas, e queridos por Srila Prabhupada e por Srimati Radharani.

 

Hare Krsna.

 

Algumas perguntas ou comentários?

 

Devoto: [inaudível]

 

Giriraj Swami: Ele diz que eu mencionei que Srimati Radharani supervisiona o serviço devocional; e pergunta se Ela é capaz de supervisionar o serviço porque conhece o standard.

 

Sim, é verdade. Ela exemplifica o standard mais elevado de serviço devocional puro a Krsna. Mas não devemos esperar que ela supervisione o nosso serviço pessoalmente. Para tal temos a Srila Prabhupada e os seus representantes. Srila Prabhupada conhece o standard e ensinou-o aos seus estudantes, que o aprenderam dele.

 

Mas é verdade—Srimati Radharani é o emblema do melhor serviço a Krsna. Mas Ela não pensa que é a melhor servente de Krsna. Ela pensa que todos os outros são melhores serventes de Krsna que Ela, e portanto, está sempre a recomendar devotos a Krsna: “Oh, olha para este devoto. É melhor servente que Eu,” ou “Ela é uma devota melhor que eu. Deves aceitá-la.” Srila Prabhupada disse, que é muito dificil aproximarmo-nos a Krsna directamente, porque Ele é a Suprema Personalidade de Deus, por isso os devotos oram a Srimati Radharani, que representa a natureza compassiva de Krsna.

 

Em Vrndavana, os devotos cantam sempre “Radhe Radhe” para alcançar a misericórdia de Radharani. E eles sabem que Krsna gosta muitíssimo de Radharani e que através de cantar “Radhe Radhe” satisfazem mais a Krsna do que se cantarem “Krsna.” Mas por cantar “Krsna Krsna” satisfazemos mais a Radharani, do que se cantarmos “Radhe Radhe,” por isso também cantamos “Krsna Krsna” para satisfazer a Srimati Radharani.

 

Encontrei-me com um devoto, que me falou sobre a sua primeira visita a Vrndavana, há muitos anos atrás. Enquanto caminhava pelas ruas do bazar, escutava regularmente “Radhe Radhe, Radhe Radhe.” Quando se voltou, observou que as pessoas de um riksha, ou de uma bicicleta, não tocavam à campaínha nem buzinavam, como se costuma fazer noutros sitios, mas exclamavam, “Radhe Radhe, Radhe Radhe.” Sempre “Radhe Radhe.” Existe um sadhu em Vraja que pinta em todos os lados—nas paredes, nas árvores—em toda a parte, “Sri Radha. Radhe.” Sempre “Radhe Radhe.”

 

Ao comentar sobre o valor de servir o pó dos pés de lótus dos devotos puros do Senhor, Srila Prabhupada escreve: “Não é através de se tornar um grande erudito nas literaturas védicas que uma pessoa poderá encontrar o Senhor, mas é muito fácil aproximar-se d´Ele através do seu devoto puro. Em Vrndavana, todos os devotos puros oram pela misericórdia de Srimati Radharani, a potência de prazer do Senhor Krsna. Srimati Radharani constitui uma contrapartida feminina compassiva do todo supremo, a qual se assemelha à fase perfeccional da natureza feminina deste mundo. Assim é que os devotos sinceros conseguem obter a misericórdia de Radharani com muita facilidade, e uma vez que Ela recomende um determinado devoto ao Senhor Krsna, o Senhor aceita imediatamente que o devoto venha associar-se com Ele. Portanto, a conclusão é que devemos pensar mais seriamente em tentar conseguir a misericórdia do devoto, que directamente a misericórdia do Senhor, e se fizermos assim, (pela vontade do devoto) a nossa atracção natural pelo serviço ao Senhor, será revivida.” (SB 2.3.23)

 

Mahat-tattva dasa: [inaudível]

 

Giriraj Swami: Ele diz que qualquer pessoa pode argumentar de uma forma provocadora, dizendo que esta adoração a Srimati Radharani é inventada, porque não encontramos referências nos Upanisads, e dificilmente encontramos algumas nos Puranas.

 

Bem, existem referências, mas a principal fonte para conhecermos sobre Srimati Radharani, é através de Caitanya Mahaprabhu e dos Seus seguidores. Nas escrituras, está mencionado que Sri Caitanya Mahaprabhu é o próprio Krsna,  portanto, Ele é a autoridade mais elevada. E Ele falou-nos sobre Srimati Radharani. Aliás, antes d´Ele, Madhavendra Puri foi realmente o primeiro que, verdadeiramente, adorou a Krsna com o sentimento de separação de Srimati Radharani, e de Madhavendra Puri passou para Isvara Puri e para Caitanya Mahaprabhu.

 

São os seguidores de Sri Caitanya Mahaprabhu, que realmente reconhecem a posição especial de Srimati Radharani. Uma vez, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura disse, “ Aquele que adora Visnu é chamado de Vaisnavite, o que adora Krsna é chamado de Krsnite, e aquele que adora Radha é chamado de Gaudiya.”

 

Convidado: Gaudiya?

 

Giriraj Swami: Gaudiya significa aqueles que pertencem à linhagem de Caitanya Mahaprabhu, a Gaudiya-Sampradaya.

 

Temos fé em Caitanya Mahaprabhu. Ele é mencionado nas escrituras. E também temos a nossa vivência pessoal de Radha e Krsna, alcançada através de seguir as instruções d´Ele—instruções que vieram até nós através do Seu servente mais querido, Srila Prabhupada—por Sua divina graça.

 

 

 

 

 

 

Written by nityananda108

Setembro 5, 2008 at 10:53 pm

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Sri Krsna Janmastami

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Sri Krsna Janmastami

Uma Aula Dada por Giriraj Swami

2 de Setembro de 2007

Ojai, California

 

 

Lemos do Srimad-Bhagavatam, Décimo canto, Capítulo Dois: “Orações dos Semideuses ao Senhor Krsna no Ventre.”

 

VERSO 18

 

tato jagan-mangalam acyutamsam

  samahitam sura-sutena devi

dadhara sarvatmakam atma-bhutam

  kastha yathananda-karam manastah

 

SINÓNIMOS

 

tatah—em seguida; jagat-mangalam—ventura para todas as entidades vivas em todos os universos da criação; acyuta-amsam—a Suprema Personalidade de Deus, que nunca está desprovido das seis opulências, todas as quais estão presentes em todas as Suas expansões plenárias; samahitam—transferido com toda a plenitude; sura-sutena—por Vasudeva, o filho de Surasena; devi—Devaki; dadhara—carregava; sarva-atmakam—a Alma Suprema de todos; atma-bhutam—a causa de todas as causas; kastha—o oriente; yatha—assim como; ananda-karam—a bem-aventurada (lua); manastah—estando situado na mente.

 

TRADUÇÃO

 

Em seguida, acompanhado pelas expansões plenárias, a opulentíssima Suprema Personalidade de Deus, que é muito auspicioso para o universo inteiro, foi transferido da mente de Vasudeva para a mente de Devaki. Devaki, sendo assim iniciada por Vasudeva, tornou-se bela ao carregar no âmago de seu coração o Senhor Krsna, a consciência original de todos, a causa de todas as causas, assim como o oriente se torna belo ao abrigar a lua nascente.

 

SIGNIFICADO de Srila Prabhupada

 

Como indica aqui a palavra manastah, a Suprema Personalidade de Deus foi transferido de dentro da mente ou do coração de Vasudeva para dentro do coração de Devaki. Devemos atentar para o facto de que o Senhor não foi transferido a Devaki através do processo humano comum, mas através de diksa, iniciação. Menciona-se aqui, pois, a importância da iniciação. A menos que alguém seja iniciado pela pessoa certa, que sempre conserva no seu coração a Suprema Personalidade de Deus, ele não adquire poder de carregar a Divindade Suprema no âmago do seu próprio coração.

 

A palavra acyutamsam é usada porque a Suprema Personalidade de Deus é sad-aisvarya-purna, pleno das seguintes opulências: riqueza, força, fama, conhecimento, beleza e renúncia. A Divindade Suprema nunca se separa de Suas opulências pessoais. Como se afirma no Brahma-samhita (5.39), ramadi-murtisu kalah-niyamena tisthan: o Senhor sempre se apresenta com todas as Suas expansões plenárias, tais como Rama, Nrsimha e Varaha. Portanto a palavra acyutamsam, é especificamente usada aqui, significando que o Senhor sempre está presente com as Suas expansões plenárias e com as Suas opulências. Ao contrário do que fazem os yogis, não há necessidade de pensar artificialmente no Senhor. Dhyanavasthita-tad-gatena manasa pasyanti yam yoginah (SB 12.13.1). Nas suas mentes, os yogis meditam na Pessoa Suprema. Para o devoto, entretanto, o Senhor está presente, e Sua presença precisa apenas ser despertada através da iniciação concedida pelo mestre espiritual genuíno. O Senhor não precisava viver dentro do ventre de Devaki, pois estando presente no âmago do coração dela, bastava isso para ela levá-Lo consigo. Jamais se deve pensar que Vasudeva gerou Krsna no ventre de Devaki e que ela levava a criança em seu ventre.

 

Ao conservar a forma da Suprema Personalidade de Deus em seu coração, Vasudeva parecia o sol refulgente, cujos raios brilhantes sempre são insuportáveis e estorricantes para o homem comum. A forma do Senhor situada no coração puro e imaculado de Vasudeva não é diferente da forma original de Krsna. O aparecimento da forma de Krsna em qualquer parte, e especificamente no coração, chama-se dhama. Dhama refere-se não apenas à forma de Krsna, mas ao Seu nome, à Sua forma, à Sua qualidade e à Sua parafernália. Tudo se manifesta simultaneamente.

 

Portanto, a forma eterna da Suprema Personalidade de Deus, a qual tinha potências plenas, foi transferida da mente de Vasudeva para a mente de Devaki, assim como os raios do sol poente são transferidos para a lua cheia que surge no oriente.

 

Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, veio do corpo de Vasudeva e entrou no corpo de Devaki. As suas condições são bem diferentes daquelas em que está situada a entidade viva comum. Quando Krsna está presente, é bom que se saiba que todas as Suas expansões plenárias, tais como Narayana, e encarnações como Nrsimha e Varaha, estão com Ele, e elas não estão sujeitas às condições da existência material. Dessa maneira, Devaki tornou-se a residência da Suprema Personalidade de Deus, que, único e inigualável, é a causa de toda a criação. Devaki tornou-se a residência da Verdade Absoluta, porém, como estava na casa de Kamsa, ela parecia um fogo abafado, ou o conhecimento mal-usado. Quando o fogo é coberto pelas paredes de um pote ou é mantido numa jarra, os raios iluminantes do fogo não são muito valorizados. Igualmente, o conhecimento mal-usado, que não beneficia as pessoas em geral, não é muito apreciado. Assim, Devaki foi mantida entre as paredes da prisão do palácio de Kamsa, e ninguém podia ver a sua beleza transcendental, resultante do facto de ela ter concebido a Suprema Personalidade de Deus.

 

Comentando este verso, Srila Viraraghava Acarya escreve: vasudeva-devaki jatharayor hrdayayor bhagavatah sambandhah. O episódio em que o Senhor Supremo vem do coração de Vasudeva e entra no ventre de Devaki foi um relacionamento de coração para coração.

 

COMENTÁRIO por Giriraj Swami

 

Reunimo-nos aqui, aos pés de lótus do Senhor Krsna, para lembrarmos e celebrarmos o Seu aparecimento dentro deste mundo.

 

De acordo com a literatura védica, Krsna é a Suprema Personalidade de Deus (krsnas tu bhagavan svayam). Ele é a Verdade Absoluta, a origem de tudo o que existe. E Ele é realizado em três aspectos, não duais (advaya) com está explicado no Srimad-Bhagavatam (1.2.11):

 

vadanti tat tattva-vidas

  tattvam yaj jnanam advayam

brahmeti paramatmeti

  bhagavan iti sabdyate

 

“Transcendentalistas eruditos que conhecem a Verdade Absoluta, chamam a essa substância não dual Brahman, Paramatma, ou Bhagavan.”

 

Brahman, é a refulgência impessoal que emana da forma transcendental do Senhor, Paramatma é o aspecto localizado do Senhor dentro do coração, e Bhagavan é a Suprema Personalidade de Deus, o próprio Krsna, pleno em seis opulências.

 

A forma de Krsna não é material. Os nossos corpos são materiais, distintos da alma, que é espiritual. O Bhagavad-gita (2.13) explica,

 

dehino ’smin yatha dehe

  kaumaram yauvanam jara

tatha dehantara-praptir

  dhiras tatra na muhyati

 

“Assim como a alma corporificada passa continuamente neste corpo, da infância à juventude e à velhice, de igual modo a alma passa a outro corpo no momento da morte. A pessoa sóbria não se confunde com tal mudança.”

 

A alma é uma partícula de energia espiritual, que não é física nem química, e é a alma que dá vida ao corpo. Enquanto a alma estiver no corpo, dizemos que o corpo está vivo. Na verdade o corpo nunca está vivo; ele é tão só uma máquina. Mas aparenta estar vivo enquanto a alma estiver presente para o animar. E quando a alma abandona o corpo, o corpo deixa de ter capacidade para actuar, para funcionar, e então dizemos que o corpo está morto. Nos seres condicionados, como nós, existe uma diferença entre o corpo, que está feito de energia material, e a alma, que é composta de energia espiritual. Mas, no que respeita a Krsna, não existe diferença entre o Seu corpo e a alma. Sendo absoluto, o Seu corpo e Ele, são a mesma coisa. No nosso caso existe uma diferença entre nós e o corpo, porque a nossa verdadeira identidade é a alma. Se o pai de alguém falece, ele ou ela começará a chorar. “Oh, o meu pai abandonou-me. O meu pai foi-se embora.” Apesar do corpo do pai estar aí, porque é que dizemos “O meu pai foi-se embora”?

Intuitivamente sabemos, especialmente num momento como o da morte, que o corpo que jaz ali no quarto não é a pessoa. O corpo é somente um saco de químicos. A verdadeira pessoa é a alma que abandonou o corpo, e assim as crianças e outros familiares e amigos exclamam, “Oh ele partiu,” porque ele é a alma, não é o corpo.

 

Mas, no caso de Krsna, Ele e o Seu corpo não são diferentes porque Ele é absoluto. Não existe diferença entre o Seu interior e o Seu exterior. Ele é completamente espiritual. O Brahma-samhita diz, isvara parama krsnah sac-cid-ananda-vigraha: “Krsna é o Supremo Deus. Ele tem um corpo espiritual eterno e bem-aventurado.” Anadir adir govindah sarva-karana-karanam: “Ele é a origem de tudo, mas Ele não tem origem. Ele é a causa primordial de todas as causas.” Esse é Krsna.

 

No mundo material, tudo o que vemos tem uma causa. A um nível muito simples podemos dizer, “Tive como origem os meus pais” ou (o meu corpo teve origem nos meus pais). Eles, por sua vez, tiveram origem nos pais deles, e estes tiveram origem nos pais deles. E se continuarmos a investigar mais e mais e mais, chegaremos, eventualmente, à causa original que é Krsna (sarva-karana-karanam). Ele é a causa de tudo—a causa de todas as causas. Mas Ele não tem causa.

 

No estado condicionado é muito dificil termos essa compreensão, porque tudo o que é material tem uma causa. Todas as coisas têm um começo e um fim, mas Krsna não tem começo nem fim. Ele é eterno (sanatana). “Eterno” quer dizer “sem começo nem fim.” Mesmo nós, almas espirituais, também somos eternos. Não temos começo nem fim. A vida num corpo particular tem um começo a que chamamos “nascimento” (ou “concepção”), e tem um fim dentro desse corpo particular, a que chamamos “morte”. Mas nós, como almas espirituais, não temos começo nem fim, porque somos partes integrantes de Krsna. Temos a mesma qualidade de Krsna mas em diferente quantidade. O Senhor diz,

 

mamaivamso jiva-loke

  jiva-bhutah sanatanah

manah-sasthanindriyani

  prakrti-sthani karsati

 

“As entidades vivas neste mundo condicionado são minhas partes fragmentárias. Devido à vida condicionada, elas estão a lutar árduamente com os seis sentidos, os quais incluem a mente.” (Bg 15.7)

 

A entidade viva é uma parte eterna e fragmentária de Krsna. Esta é a filosofia sublime de Sri Caitanya Mahaprabhu chamada acintya-bhedabheda-tattva: a “inconcebível união e diferença, em simultâneo” da entidade viva e o Senhor Supremo. Com o Senhor, somos unos em qualidade mas diferentes em quantidade—Ele é infinito e nós somos infinitesimais. Porque temos as mesmas qualidades, podemos ter um relacionamento com Ele. A menos que haja algo em comum, não se consegue estabelecer uma relação. E devido à diferença em quantidade—Ele é o todo e nós a parte—a nossa relação é de serviço. Para a parte, é uma função natural servir o todo. Por exemplo, a mão é uma parte do corpo, por isso, a função da mão é servir o corpo. Se a mão não servir ao corpo algo de errado está a acontecer; está doente ou morta. De igual modo, a nossa actividade natural é de servir a Krsna (jivera ‘svarupa’ haya—krsnera ‘nitya-dasa’). Nós somos eternos,{}assim como Krsna é eterno, e a nossa relação, o nosso serviço, também é eterno. Nunca acaba.

 

Anteriormente mencionamos os três aspectos da Verdade Absoluta: Brahman, Paramatma e Bhagavan. Existem diferentes transcendentalistas que têm diferentes aspirações espirituais. A maior parte das pessoas são materialistas. Elas nem sequer se interessam pela vida espiritual. Só querem desfrutar do mundo. Entretanto, quando nos tornamos um pouco mais elevados, um pouco mais purificados na consciência, pensamos em incrementar a nossa vida espiritual. E quando nos tornamos suficientemente sérios, adoptamos uma disciplina numa escola de pensamento e prática. Os jñanis são uma categoria de transcendentalistas. A meta deles é submergirem-se e tornarem-se unos com o Brahman, a refulgência que emana do corpo transcendental de Krsna. Superiores aos jñanis, são os yogis. Eles pretendem realizar o aspecto localizado, o Senhor dentro do coração (dhyanavasthita-tad-gatena manasa pasyanti yam yogino). E os mais elevados são os bhaktas. Eles querem estabelecer uma relação amorosa com Bhagavan, Sri Krsna, a Suprema Personalidade de Deus.

 

Num sentido, porque a Verdade Absoluta é não-dual (advaya), todos os transcendentalistas estão na mesma plataforma, contudo, de um ponto de vista analítico ou objectivo, existem graus de realização. Como foi dito anteriormente, Krsna é sac-cid-ananda-vigraha. Sat significa “eterno”, cit quer dizer “consciente,” e ananda significa “bem-aventurado.” Os jñanis  que alcançam o Brahman impessoal realizam somente o aspecto sat, existência eterna. Os yogis que realizam Paramatma têm percepção de sat (eternidade) e cit (conhecimento), porque se apercebem da individualidade do Senhor no coração. E os bhaktas têm uma realização completa de sat, cit e ananda (eternidade, conhecimento e bem-aventurança), porque a verdadeira felicidade emana das relações amorosas. Apesar de se poder dizer que existe alguma bem-aventurança no Brahman impessoal, quando comparada com a felicidade extática do serviço amoroso a Krsna, é insignificante. Existem muitas afirmações no sastra, as escrituras védicas, corroborando que a felicidade experimentada em relação com Krsna é tal e qual um oceano e que, comparativamente, a felicidade de submergir (ou tentar submergir) no Brahman impessoal é como uma poça de água.

 

tvat-saksat-karanahlada-

  visuddhabdhi-sthitasya me

sukhani gospadayante

  brahmany api jagad-guro

 

“Meu querido Senhor, Ó mestre do universo, desde que Vos vi directamente, a minha bem-aventurança transcendental tomou a forma de um grande oceano. Estando situado nesse oceano, agora realizo que todas as outras assim chamadas felicidades, como o prazer derivado do Brahman impessoal, são tal como a água contida na pegada de um bezerro.” (Hari-bhakti-sudhodaya 14.36). Na prática, não existe comparação.

 

Além disso, realizar o Brahman impessoal é muito dificil, especialmente nesta presente era. E mesmo que a pessoa seja êxitosa—ou pense que o seja—existe toda a possibilidade de cair dessa posição.

 

ye ’nye ’ravindaksa vimukta-maninas

  tvayy asta-bhavad avisuddha-buddhayah

aruhya krcchrena param padam tatah

  patanty adho ’nadrta-yusmad-anghrayah

 

“Ó Senhor de olhos de lótus, embora os não-devotos que aceitaram rigorosas austeridades e penitências para atingir a posição mais elevada possam julgar-se liberados, a inteligência deles é impura. Eles caem das suas posições aparentemente superiores, pois não dão importância alguma a Vossos pés de lótus.” (SB 10.2.32)

 

O mais provável, é que eles imaginem que realizaram o Brahman mas, quer eles o tenham realizado de facto ou simplesmente imaginem que o tenham realizado, devido a que negligenciaram o serviço aos pés de lótus de Krsna, caem da sua posição (patanty adhah).

 

Nós, as almas condicionadas, giramos no ciclo da repetição do nascimento e da morte (samsara), e a nossa meta é a de alcançar o alívio desta samsara-cakra. Tal liberação é chamada mukti, ou moksa. O tipo de liberação impessoal, na qual a alma individual submerge na luz espiritual, é muito dificil de alcançar—se porventura alguém a alcançar. Mas mesmo que alguém consiga, não perdura. Portanto, o Bhagavatam diz patanty adhah: eles caem. Porquê? Porque eles não se ocupam no serviço transcendental amoroso ao Senhor.

 

A liberação impessoal é tal como ir dormir. As pessoas inteligentes apercebem-se de que existem dificuldades na existência material, e querem alívio. Este é um factor que pode levar alguém a pensar em vida espiritual. Portanto, a pessoa que tenta alcançar a liberação impessoal, assemelha-se a alguém que sofre e tenta escapar do sofrimento, dormindo—“O mundo é muito dificil.” Bem, temporariamente podes escapar do sofrimento através do sono mas, quanto tempo vais ficar a dormir? A seu devido tempo acordarás e os problemas permanecerão.

 

Ficar suspenso na refulgência do Brahman impessoal pode tornar-se aborrecido. É um alívio—definitivamente é um alívio sair deste mundo material—mas eventualmente pode tornar-se um aborrecimento. Alguém pode viajar num cruzeiro: “Céus, preciso sair deste ambiente. Vou fazer uma viagem de cruzeiro. Quero desfrutar do mar.” Por algum tempo pode ser muito bom mas, eventualmente, fica-se aborrecido—só água, ondas e vento. A seu devido tempo querer-se-á regressar a terra—apesar de ser aquela situação que anteriormente quisemos abandonar. Apesar de haver frustação e dificuldades na terra, pelo menos havia alguns estímulos e alguma variedade.

 

Portanto, os jñanis impersonalistas que desejam submergir e tornarem-se unos com o Brahman, a seu devido tempo caem da sua posição(patanty adhah), porque ficam inquietos. Eles querem actuar, mas como não conhecem as actividades espirituais da consciência de Krsna, o serviço devocional a Krsna, patanty adhah—eles envolvem-se em actividades materiais e de novo sofrem, porque a actividade material resulta em sofrimento material.

 

Assim sendo, porque é que o Senhor descende? Ele é sac-cid-ananda-vigraha. eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurança.Ele vive na Sua morada espiritual, onde tudo é eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurança. E Ele é servido por grandes almas que estão completamente livres da contaminação material, livres dos corpos materiais que causam tanta dor. Então, porque é que o Senhor aparece aqui? O que é que ganha com isso?

 

Para si, Ele não tem nada a ganhar. Mas manifesta-se por Sua misericórdia sem causa, para nos libertar. Compara-se o mundo material a uma prisão e nós, as almas condicionadas, somos os prisioneiros. Estamos restringidos, tal como os prisioneiros. Não nos podemos movimentar livremente, nem sempre que nos apetece.

 

As almas liberadas podem viajar a qualquer parte do universo. Não necessitam de espaçonaves ou qualquer outro meio de locomoção. Podem movimentar-se livremente, mas nós, as almas condicionadas, estamos atadas. Não nos é permitido sair deste planeta muito fácilmente mas, se o conseguirmos fazer, ficamos sem lugar onde permanecer. Portanto, estamos restringidos e ao mesmo tempo temos que sofrer.

 

Anteriormente, mencionei que no corpo existe muito sofrimento. Alguém pode pensar, “Este swami é muito negativo acerca do corpo.” Mas o Bhagavad-gita diz, janma-mrtyu-jara-vyadhi-duhkha-dosanudarsanam: deve-se estar sempre consciente do sofrimento do nascimento, morte, velhice e doença. Pode-se dizer, “Porque é que o swami tem que ser tão negativo? Quero desfrutar do corpo. Quero gozar da vida. Quero gozar aqui e agora”—num certo contexto está correcto—mas se eu perguntar a qualquer um de vocês, “Sinceramente, queres adoecer?” “Não.” “Queres envelhecer?” “Não.” “Queres morrer?” “Não.” Bom, mas isso é o que vem com o corpo. Quando se obtém um corpo material, isso é o que vem na encomenda; é o que se compra juntamente com o corpo. Pode-se pensar, “Mas existe tanta felicidade  no corpo. Posso ir surfar, caminhar, comer gelados, posso beber, comer e desfrutar do corpo. “Bom, está bem, mas na verdade não é o corpo que te permite desfrutar; é a alma dentro do corpo. Todas as partes do corpo podem estar presentes quando a alma se vai embora, mas onde está o desfrute? Para o corpo não existe desfrute depois da alma partir. Podemos pensar que desfrutamos com os sentidos, mas na verdade é devido à presença da alma que somos capazes de desfrutar, trabalhar e viver.

 

O corpo é o meio pelo qual a alma condicionada pode experienciar. Por exemplo, eu tenho estes óculos. Vejo através deles—os óculos em si não veêm. Similarmente, temos estes sentidos—olhos, ouvidos, nariz,língua, pele—e nós percepcionamos através deles. Na verdade os sentidos por si não têm percepção. É a alma que tem a percepção—através dos sentidos do corpo. Na verade, não precisamos do corpo para experimentar felicidade. Com o corpo existe alguma percepção de felicidade—mas com  muito sofrimento.

 

Existem diferentes escolas de filosofia—sad-darsana—e um dos filósofos analisou e concluiu que o corpo está feito para sofrer. Ele dá o exemplo do dedo mindinho. De quantas maneiras o dedo mindinho pode desfrutar? Não muitas. E de quantas pode ele sofrer? Tantas. Até um pequeno corte ou bolha podem ser muito dolorosos. E o dedo pode ser cortado, queimado, esmagado. O corpo é muito vulnerável. Mas não a alma. Como diz o Gita, ela não pode ser cortada, nem queimada, nem molhada, nem pode ser seca—está mais além do alcance dos elementos materiais.

 

nainam chindanti sastrani

  nainam dahati pavakah

na cainam kledayanty apo

  na sosayati marutah

 

“A alma nunca pode ser cortada por arma alguma, nem pode ser queimada pelo fogo, ou humedecida pela água ou definhada pelo vento.” (Bg 2.23) Sem o corpo, a alma pode desfrutar livremente, de todas as maneiras, porém sem dor.

 

E, porque a alma é parte integrante de Krsna, deriva a sua verdadeira felicidade em relação com Krsna. Neste momento, somos como peixes fora da água, por que originalmente viemos de Krsna, da atmosfera espiritual, e entrámos no mundo material para sofrer, numa atmosfera que nos é alheia. Sempre estamos inquietos, ansiosos e temerosos.

 

Portanto, porque é que Krsna vem a este mundo? Ele vem para nos resgatar, os Seus filhos perdidos, para nos levar de volta a casa, de volta para Ele. Esta é a razão da Sua vinda. Não há outra. Para Ele, não existe nada aqui. Ele vem apenas por nossa causa.

 

Apesar de vir a este mundo material, não vem com um corpo físico. Ele vem com a Sua forma espiritual original (sac-cid-ananda-vigraha). Krsna, em particular, vem numa forma que se assemelha à de um ser humano. “O homem é feito à imagem de Deus.” O facto de Krsna vir numa forma semelhante à humana, é muito bom, porque torna-se mais fácil para nós, com corpos humanos, relacionarmo-nos com Ele.

 

anugrahaya bhaktanam

  manusam deham asthitah

bhajate tadrsih krida

  yah srutva tat-paro bhavet

 

“Quando o Senhor assume uma forma semelhante à humana para mostrar misericórdia aos Seus devotos, Ele ocupa-se em passatempos, que atraem aqueles que escutam sobre eles, a dedicarem-se a Ele.” (SB 10.33.36) Ele vem para nos resgatar e libertar, pois somos os Seus filhos e devotos perdidos.

 

E como é que Ele descende? Ele não nasce como os seres humanos comuns, através da descarga seminal. Pelo contrário, Ele manifesta-se, ou aparece.

 

ajo ’pi sann avyayatma

  bhutanam isvaro ’pi san

prakrtim svam adhisthaya

  sambhavamy atma-mayaya

 

“Embora Eu seja não nascido e o Meu corpo transcendental jamais se deteriore, e embora Eu seja o Senhor de todas as entidades vivas, mesmo assim, em cada milénio Eu apareço na Minha forma transcendental original.” (Bg 4.6)

 

E isso foi o que lemos esta tarde. A maneira como o Senhor aparece, é um assunto bastante esotérico. Ele escolhe um devoto completamente purificado, e entra na mente desse devoto completamente purificado. O nome do devoto em cuja mente Krsna entra, é dado aqui—Vasudeva. E o estado que o capacita para receber Krsna dentro da sua mente pura é chamado vasudeva, que significa completamente além dos três modos da natureza material, completamente transcendental—o estado da bondade pura, suddha-sattva. Como se afirma no Srimad-Bhagavatam, sattvam visuddham vasudeva-sabditam: a consciência pura plena é conhecida como vasudeva.

 

sattvam visuddham vasudeva-sabditam

  yad iyate tatra puman apavrtah

sattve ca tasmin bhagavan vasudevo

  hy adhoksajo me manasa vidhiyate

 

“A condição da bondade pura, suddha-sattva, na qual a Suprema Personalidade de Deus é revelada sem nenhuma cobertura, é chamada vasudeva. Nesse estado puro, o Deus Supremo, que está mais além dos sentidos materiais e é conhecido como Vasudeva, é percebido pela minha mente.” (SB 4.3.23, citado no Cc Adi 4.66)

 

Depois de Vasudeva ter recebido Krsna dentro de sua mente, ou coração purificado, ele, através de seu poder espiritual, transferiu-O para o coração purificado de Devaki. Nesta actividade, não houve nenhuma descarga seminal. E o processo pelo qual a Suprema Personalidade de Deus foi transferido do coração de Vasudeva para o coração de Devaki, chama-se diksa. Diksa significa “iniciação espiritual.” Diksa acontece entre o professor, ou guru, e o discípulo. Quando o guru está suficientemente qualificado, pode transportar Krsna dentro de seu coração. E, quando o discípulo está suficientemente qualificado, pode receber Krsna do guru—através de um intercâmbio que se chama diksa.

 

O processo de diksa, é essencial para a realização de Deus (Krsna). Existe uma ciência completa de bhakti-yoga que está descrita no Bhakti-rasamrta-sindhu, de Srila Rupa Gosvami e que começa com este processo, Guru-padasrayas tasmat: “Deve-se aceitar refúgio aos pés de lótus de um mestre espiritual.” Krsna-diksadi-siksanam: “Deve-se aceitar iniciação dele e também receber instrução.” E visrambhena guroh seva: “Deve-se servi-lo com afecto.”

 

Não podemos alcançar Krsna através dos nossos próprios esforços. Devemos receber Krsna de alguém que já O tem. Por isso Srila Bhaktivinoda Thakura, um grande preceptor espiritual, ora ao devoto puro:

 

krsna se tomara, krsna dite paro,

        tomara sakati ache

ami to’ kangala, ‘krsna’ ‘krsna’ boli’,

        dhai tava pache pache

 

“Krsna é teu; tens o poder de O dares a mim. Estou simplesmente correndo atrás de ti, gritando, ‘Krsna! Krsna!’” (Saranagati, “Ohe! Vaisnava Thakura”)

 

Na verdade, este acto de diksa, como está descrito no verso de hoje, é o culminar de um processo gradual. Não é assim tão fácil, a ponto de decidirmos, “Bom, agora vou encontrar um guru que tenha Krsna, e ele vai dá-Lo a mim, e assim não tenho mais nada a fazer.” Temos que estar qualificados para receber Krsna, e o processo para nos tornarmos qualificados desenvolve-se gradualmente. Temos que nos esforçar para chegarmos a esse estágio de pureza em que possamos receber Krsna nos nossos corações—e não só recebê-Lo nos nossos corações, mas realmente vê-Lo cara a cara. Depois  de permanecer por algum tempo no coração de Devaki, Krsna manifestou-se perante ela, e eles puderam ver-se cara a cara. Ela viu-O cara a cara, e Ele também. Esta é a perfeição da consciência de Krsna.

 

Portanto, temos que nos qualificar. Temos que limpar o espelho do coração (ceto-darpana-marjanam).

 

O processo de purificação varia consoante a era. Embora o processo básico seja o mesmo—consciência de Krsna—na era actual, o processo específico recomendado é cantar dos santos nomes do Senhor:

 

harer nama harer nama

  harer namaiva kevalam

kalau nasty eva nasty eva

  nasty eva gatir anyatha

 

“Deve-se cantar o santo nome, cantar o santo nome, cantar o santo nome  do Senhor Hari [Krsna]. Não há outra maneira, não há outra maneira, não há outra maneira para alcançar sucesso nesta era.” (Brhan-naradiya Purana 38.126)

 

Cantar é repetido três vezes para enfatizar. “Deves fazê-lo, deves fazê-lo, deves fazê-lo.” Uma vez, apareceu um cartoon num jornal, que mostrava um senhor idoso sentado em frente a sua esposa. Ela dizia-lhe “Canta [Chant], canta [chant], canta [chant], ao que ele respondia, não posso [can’t], não posso [can’t], não posso [can’t].” Esse é o nosso infortúnio. O sastra, as escrituras dizem-nos, “Canta [Chant], canta [chant], canta [chant] (harer nama harer nama harer nama), e por nenhuma razão aparente—simplesmente devido a uma aversão sem causa—nós dizemos (não necessáriamente verbalizando mas através do nosso comportamento), “Não posso [Can’t], não posso [can’t], não posso [can’t]. “Não posso porque estou muito ocupado.”  “Não posso porque prefiro fazer outras coisas.”  “Não posso porque. . .”—porque, porque, porque. Portanto harer nama harer nama harer nama é enfático: canta, canta, canta. E kalau nasty eva kalau nasty eva kalau nasty eva: não há outra maneira, não há outra maneira, não há outra maneira. Esta frase pode trazer-nos à memória a imagem de um cristão fanático repetindo, “Jesus é o único caminho.”  Mas este nasty eva, “a única maneira” é um pouco diferente. (E também não queremos dar a entender que a frase “Jesus é o único caminho”, esteja errada.) Mas neste contexto , nasty eva “não há outra maneira,” tem um significado especial.

 

Para diferentes eras, diferentes métodos de auto-realização são recomendados—para Satya-yuga é a meditação, para Treta-yuga é a execução de rituais védicos e para Dvapara-yuga é a adoração opulenta no templo. Contudo, nesta presente era, harer nama, o cantar dos santos nomes de Deus, é o método recomendado. Portanto, nasty eva nasty eva nasty eva quer dizer, “não é através da meditação silenciosa, nem através dos rituais védicos elaborados, nem sequer através da adoração ritualistica no templo,” mas sim, através dos santos nomes.

 

Mas os santos nomes não são sectários. Na verdade existem seitas cristãs cujos praticantes repetem constantemente o nome de Jesus. Nós não dizemos que se deve cantar somente o santo nome de Krsna. Pode-se cantar qualquer nome de Deus. Porque Deus é absoluto, qualquer nome de Deus é tão bom como qualquer outro. Mas deve-se cantar algum nome. Também a tradição muçulmana recomenda cantar o nome de Deus, de Allah. No Paquistão vi um livro que se chamava, Os Noventa e Nove Nomes de Allah. Na tradição védica existe o Visnu-sahasra-nama, “Os mil nomes de Visnu.” Portanto, o principio de cantar os nomes de Deus é uma prática corrente mas, invarialvelmente, é neglicenciado. Entretanto, também se pode dizer que, em qualquer tradição a maioria é convencional. Só uma minoria é verdadeiramente mística, ou espiritual. No interior das tradições místicas ou espirituais,aconselha-se o cantar dos santos nomes.

 

O processo de cantar (sankirtana) limpa o coração (ceto-darpana-marjanam) e faz dele um lugar adequado para o Senhor residir. Isso é o que temos que fazer para nos prepararmos para recebê-Lo. Temos que cantar. O cantar é agradável e espero que todos tenham essa experiência. Dá alegria. Esse é outro aspecto: embora os resultados da consciência de Krsna sejam os mais elevados, o processo também é o mais fácil e o mais sublime. Parece demasiado bom para ser verdade, mas é verdade. O cantar é fácil,  traz alegria e ao mesmo tempo limpa o coração (ceto-darpana-marjanam) e faz dele um lugar adequado para o Senhor residir. E esse processo acontece através de diksa, o processo continuado de diksa, que culmina na realização perfeita de Krsna. E então, quando se está completamente purificado e realizado, Krsna não se pode conter dentro do coração. Ele fica tão satisfeito com o serviço da pessoa e tão ansioso de a ver e abraçar, que vem para fora do coração. (Claro que, ao mesmo tempo, Ele permanece lá.) À Sua maneira, Ele sai do coração da pessoa para vê-la, tocá-la, abraçá-la e levá-la pela mão convidando-a para ir com Ele para a Sua morada eterna. 

 

Essa é a perfeição da consciência de Krsna, e é possivel para todos, e cada um de nós. Tão só, temos que fazer o esforço para cantar sem ofensas, e permanecer animado e fixo nesse empreendimento. Para tal, precisamos de associação. Em cada esforço precisamos de associação. Em cada esfera da vida existem associações de pessoas que estão ocupadas na mesma actividade porque, dessa maneira,  encorajam-se mutuamente. Existe a câmara do comércio, a sociedade dos diabéticos, a associação dos observadores de pássaros—existem sociedades para todas as esferas da vida, porque na associação de outras pessoas que têm o mesmo objectivo, animamo-nos a permanecer no mesmo caminho e também aprendemos com os outros, da experiência deles, em como aumentar os nossos esforços e maximizar o  progresso. É algo natural. E a associação é essencial. Quando nos tornamos um pouquinho sérios, quando desenvolvemos um pouco de fé e atracção, o seguinte passo é a associação com devotos (adau sraddha tatah sadhu-sanga). Esta associação vai ajudar-nos.

 

O cantar é simples, mas a verdadeira arte é escutar enquanto cantamos. Qualquer pessoa pode cantar sem ter a mente focada, “Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna. . .” e olhar para as árvores, para a lua, para o jornal, para a televisão, mas esse não é o verdadeiro cantar. O verdadeiro canto ocorre quando escutamos com a mente fixa no som. Isso é meditação. Meditação no mantra, mas isso requer prática. Seremos capazes de manter a mente fixa no som do santo nome, se cantarmos por cinco minutos? É um desafio. Mesmo só por um minuto é um desafio, porque a natureza da mente é inconstante. É inquieta. Adora divagar—como o vento. No Bhagavad-gita Arjuna diz que é tão dificil controlar a mente como controlar o vento.

 

cancalam hi manah krsna

  pramathi balavad drdham

tasyaham nigraham manye

  vayor iva su-duskaram

 

“Ó Krsna, a mente é inquieta, turbulenta, obstinada e muito forte, e controlá-la, parece-me mais difícil do que controlar o vento.” (Bg 6.34)

 

Com é que podemos controlar o vento? Vai sempre para aqui e para acolá. Ninguém pode pará-lo. Do mesmo modo, como é que se pode controlar a mente? Não é possivel. Contudo, o Bhagavad-gita afirma que é possivel—pela prática (abhyasa) e desapego.

 

asamsayam maha-baho

  mano durnigraham calam

abhyasena tu kaunteya

  vairagyena ca grhyate

 

“Indubitavelmente, é muito dificil refrear a mente inquieta, mas é possivel através da prática adequada e do desapego.” (Bg 6.35)

 

Esta é a prática adequada: escutar sobre a consciência de Krsna e depois cantar—e escutar—o nome do Senhor Krsna. Cantamos e escutamos. Praticamos o fixar a nossa mente no som do santo nome do Senhor. Este é o nosso sadhana; esta é a nossa prática. E é um assunto muito sério e que requer muito esforço. Como disse Srila Prabhupada o nosso mestre espiritual, “Cantar é fácil”—todos podem articular os sons do maha-mantra Hare Krsna, Hare Krsna, Hare Krsna—“mas a determinação de cantar[e escutar com atenção] não é assim tão fácil.” Mas isso é o que precisamos. Dessa determinação (drdha-vratah). E essa determinação desenvolve-se na associação de devotos que são sérios no cantar e escutar. Portanto, a associação de devotos é muito valiosa, e é de suma importância manter relações favoráveis com os devotos.

 

Existem diferentes ofensas que devem ser evitadas quando cantamos. A principal ofensa, é estar desatento enquanto cantamos, mas outra, é ofendermos os devotos. Os devotos são os nossos melhores bem-querentes. Dão-nos o santo nome. Dão-nos ânimo nos nossos esforços por cantar. E se os ofendemos, ficamos privados dos nossos melhores bem-querentes, os nossos melhores amigos, o nosso melhor suporte para cantarmos. Ficamos privados da misericórdia que, desesperadamente, precisamos para progredir. Mas se prestamos atenção a estes dois pontos—cantar atentamente e manter relações favoráveis com os devotos—então, gradualmente, podemos chegar à plataforma da perfeição. Leva o seu tempo, mas podemos chegar a esse estágio quando Krsna entrar nos nossos corações. Ele já está lá, mas manifestar-se-á plenamente e, a seu devido tempo, vê-Lo-emos cara a cara. Portanto, devemos sempre, em todo o momento livre, kirtaniyah-sada-harih, cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. O que quer que façamos que não esteja acompanhado pelo canto, deve ser com a ideia de nos posicionarmos de tal modo que possamos cantar. Podemos dizer, “Não posso estar sempre a cantar. Tenho que trabalhar. Tenho que ganhar dinheiro. Tenho que pagar as contas.” Isso está bem, mas qual é o objectivo de todo esse esforço? Qual é a finalidade de ter uma casa? Para que serve o alimento que vamos comer? O objectivo último deve ser o de manter o corpo e a alma juntos para que possamos cantar os santos nomes e realizar Deus. Isso é “Kirtaniyah-sada-harih, “cantar sempre o nome de Deus.” Temos um corpo. Devemos cuidar dele. Devemos tomar banho, vestir, comer e dormir. Devemos executar as necessidades da vida de uma forma completa. Mas, qual é o objectivo de tudo isso? A meta deve ser a de cantar os santos nomes de Krsna e realizar Krsna.

 

Portanto, Krsna vem para nos dar esta mensagem,e se a partir deste dia, Sri Krsna Janmastami, pudermos aceitá—la no nosso coração—será o começo da nossa perfeição. Devemos aceitá-la no nosso coração, praticá-la e repeti-la a outros-repeti—la tanto para o beneficio dos outros, como para o nosso. E os resultados serão gloriosos. O propósito do aparecimento de Krsna será satisfeito, e o nosso, como seres humanos, também será satisfeito. E todos, em conjunto, seremos felizes em consciência de Krsna. Hare Krsna

 

Têm algumas perguntas ou comentários a fazer?

 

Convidado (1): Esta é uma pergunta que sempre me coloco a mim mesmo. Os cristãos acreditam na ressurreição, e os Buddhistas e os Hindus acreditam na reencarnação mas, “Qual é o propósito de começar e acabar algo? Qual o significado de várias ou até muitas vidas, quando poderíamos ficar satisfeitos só com uma? Porque é que temos que nos aperfeiçoar através de muitas vidas?

 

Giriraj Swami: Essa é uma pergunta muito boa. O Miguel diz que os cristãos acreditam na ressurreição, e os Buddhistas e os Hindus acreditam na reencarnação, mas qual é a necessidade de passar por muitas vidas quando podemos realizar a Deus só numa?

 

Concordamos contigo plenamente. Essa é a ideia. Especialmente agora que alcançámos esta forma humana de vida, que se obtém depois de passarmos por muitas vidas; e em particular porque entrámos em contacto com os devotos, que nos falam de Krsna e o processo de bhakti-yoga; podemos e devemos satisfazer o nosso propósito neste mundo, nesta mesma vida.

 

labdhva su-durlabham idam bahu-sambhavante

  manusyam artha-dam anityam apiha dhirah

turnam yateta na pated anu-mrtyu yavan

  nihsreyasaya visayah khalu sarvatah syat

 

“Depois de muitíssimos nascimentos chegamos a esta forma humana que é muito dificil de obter, e, embora seja temporária, permite-nos alcançar a perfeição mais elevada. Portanto, um ser humano sóbrio, deve esforçar-se diligentemente para conseguir essa perfeição última antes que este corpo, que está sempre sujeito à morte, se deteriore. Em última instância, a gratificação dos sentidos está disponível mesmo nas espécies de vida mais abomináveis, enquanto que a consciência de Krsna, só é possível para o ser humano.” (SB 11.9.29)

 

E se cantamos seriamente—cantamos, escutamos e seguimos os principios reguladores que mantêm o cantar e o escutar—podemos alcançar a perfeição completa nesta mesma  vida. E essa deve ser a nossa determinação.

 

Contudo, o Bhagavad-gita explica que, se por acaso, não alcançarmos a perfeição completa, na próxima vida  prosseguiremos a partir do ponto onde deixámos na vida anterior. Não precisamos de começar tudo da estaca zero. Materialmente falando, temos que começar tudo de novo na próxima vida. Nesta vida podemos saber falar sete linguas mas na próxima, depois de nascermos, a única coisa que sabemos dizer é “Ga, Ga, Ga,” e nem sequer conhecemos o ABC. Tudo o que se relaciona com assuntos materiais, é perdido no momento da morte. contudo, na próxima vida, continuaremos do ponto em que chegámos por termos praticado a bhakti-yoga. Suponhamos que nesta vida só completamos 50 por cento; na seguinte vida continuamos a partir dos 51 por cento. Não temos que começar tudo de novo.Agora que temos esta forma humana de vida e a associação com os devotos, porquê correr riscos? Tal como disseste, devemos ter essa determinação para nos tornarmos completamente exitosos nesta vida.

 

Convidado (1): Porque é que viemos parar a este lugar? Porque é que temos que passar por tantas vidas?

 

Giriraj Swami: Na verdade, com se mencionou anteriormente, todos emanámos de Krsna, mas quando Lhe voltamos as costas—quando O esquecemos e queremos desfrutar separados d`Ele—somos controlados por maya e sofremos neste mundo material.

 

krsna-bahirmukha hana bhoga-vancha kare

nikata-stha maya tare japatiya dhare

 

“Quando a entidade viva deseja desfrutar separadamente de Krsna, virando-lhe as costas, a energia ilusória do Senhor, maya, prende imediatamente a alma nas suas garras.” (Prema-vivarta)

 

Mas neste processo, não começamos de baixo; começamos de cima. Começamos sendo um ser elevado num planeta elevado. Portanto, podemos alterar o processo e, a partir dessa posição , voltarmos a Deus. Não começamos sendo um germe ou um organismo unicelular. Mas se nos descuidamos, podemos resvalar até à forma de um organismo unicelular, num corpo de organismo celular. Na realidade, não começamos de baixo, começamos de cima, e se somos atentos e vigilantes, podemos alterar todo o processo numa só vida. Não temos que passar mais do que uma vida, e não precisamos de experimentar mais nenhuma forma inferior de vida.

 

Convidado (1): Pode-se dizer que tudo à nossa volta-no mundo material—é energia? Animais, vegetais, minerais—tudo na vida, mesmo que não tenha própriamente consciência?

 

Giriraj Swami: Bom, isso é verdade—tudo é energia—mas como se afirma no Bhagavad-gita, existem dois tipos de energias. Uma é a energia material, e a outra é a energia espiritual. A energia espiritual é consciente, é viva. E a energia material é inerte, é morta.

 

bhumir apo ’nalo vayuh

  kham mano buddhir eva ca

ahankara itiyam me

  bhinna prakrtir astadha

 

“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego—em conjunto, constituem as minhas energias materiais separadas.” (Bg 7.4)

 

apareyam itas tv anyam

  prakrtim viddhi me param

jiva-bhutam maha-baho

  yayedam dharyate jagat

 

“Além dessas, ó Arjuna de braços poderoso, existe uma outra energia, a Minha energia superior, que consiste das entidades vivas que exploram os recursos desta natureza material inferior.” (Bg 7.5)

 

O que vemos com vida neste mundo material é, na verdade, uma combinação das energias espiritual e material—a centelha espiritual dentro do corpo físico. Enquanto a alma está presente, existe consciência. Mas um objecto inanimado—como por exemplo este pedaço de metal—não tem consciência. Em ultima análise, naturalmente, podemos dizer que existe consciência em toda a parte, porque Krsna está em toda a parte. Ele expande-se dentro dos átomos, e no espaço entre eles, através do universo inteiro (andantara-stha-paramanu-cayantara-stham).

 

Convidado (1): Será que existem outras formas de inteligência noutros planetas no universo, ou só existem neste planeta?

 

Giriraj Swami: Na verdade, existe inteligência ainda mais avançada noutros planetas além da terra. Tudo é a criação de Deus. Não acreditamos que exista algo que tenha surgido por acidente ou casualidade. Deus criou todos estes planetas para fornecer vários ambientes a diferentes tipos de pessoas. Assim como existem diferentes relatividades na terra—Ojai ou Santa Barbara podem ser relativamente mais congeniais do que Alaska ou Antártida—portanto, existe relatividade dentro do unniverso. Alguns planetas são mais celestiais, e outros mais infernais. Considera-se que o planeta Terra está no meio, embora um pouco para o lado inferior. Mas existe vida inteligente em toda a parte—e sofrimento também—e todos estão, em última instância, designados para se tornarem conscientes de Deus e poderem voltar a casa, voltar a Deus.

 

a-brahma-bhuvanal lokah

  punar avartino ‘rjuna

mam upetya tu kaunteya

  punar janma na vidyate

 

[Krsna, o Supremo Senhor, disse:] “Do planeta mais elevado no mundo material, até ao mais baixo, todos são lugares de miséria, onde ocorrem repetidos nascimentos e mortes. Mas quem alcança a Minha morada, ó filho de Kunti, jamais volta a nascer.” (Bg 8.16)

 

Convidado (2): Você disse que a única prática que precisamos fazer é o cantar do santo nome. Parece-me ser pedir a Deus a graça do santo nome. Mas o que é que podemos fazer para nos prepararmos, no nosso dia-a-dia, a melhor compreender e receber essa graça?

 

Giriraj Swami: Sim, existem práticas. Embora o canto seja suficiente, existem disciplinas que podemos executar que nos ajudam a adquirir o beneficio pleno do cantar, a graça completa do Senhor. Existem algumas restrições pessoais. Apesar de no início ser difícil aceitar essas restrições, a beleza do cantar, o próprio processo de cantar,o processo de purificação, torna mais fácil aceitá-las-até ao ponto em que não queremos ocupar—nos mais em tais actividades adversas.

 

A primeira restrição é não comer carne. A segunda é não tomar intoxicantes. A terceira é não praticar sexo ilícito—nenhum sexo fora do matrimónio, nenhum sexo frívolo. A quarta é não praticar jogos de azar. Se formos capazes de seguir estes principios reguladores, o nosso cantar será mais efectivo, e seremos melhores recipientes para a graça de Deus.

 

E também existem outras coisas, tais como levantar cedo pela manhã. “Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer.” As horas matutinas, especialmente as anteriores ao nascer do sol, são consideradas as melhores para as práticas espirituais, portanto, normalmente levantamo-nos cedo. Alguns devotos, quando podem, levantam-se às duas da manhã. Costumam deitar-se às oito e levantar-se às duas. Como regra geral, tentamos levantar-nos às quatro da manhã. Os discipulos iniciados têm uma cota especifica de canto, que leva mais ou menos duas horas a completar. Portanto, eles levantam-se às quatro e entre as cinco e as sete completam a sua cota de voltas, o que lhes deixa o resto do dia por sua conta.

E quanto mais sérios nos tornarmos, mais coisas podemos aprender para melhorar a nossa prática. Mas, se conseguirmos seguir esssas quatro restrições—e levantar cedo—já estamos a começar bem. E se quisermos conhecer mais, temos volumes de livros . . .

 

Convidado (2): Más noticias. Muito obrigado.

 

Giriraj Swami: A uma certa altura, pensei em perguntar-te, antes de te dar a resposta, se estarias preparado para a receber, mas decidi dar-ta porque fizeste a pergunta e pareces uma pessoa sincera.

 

Voltando ao assunto, as boas noticias são que, se cantarmos, tudo o resto se torna mais fácil. Essa é a razão de nós não enfatizarmos as restrições na primeira abordagem, porque sabemos que se as pessoas cantarem, perderão interesse naqueles actos indulgentes, e tornar-se-ão mais e mais desejosos de avançar em consciência de Krsna.

 

Convidado (2): Inshallah.

 

Giriraj Swami: Quando disseste “inshallah”, lembrei-me de um grupo de Muçulmanos Ahmadiyya que costumavam visitar-me no nosso templo em Juhu Beach. Eles disseram—me o mesmo, que as orações oferecidas antes do nascer do sol-à semelhança do que nós dizemos, começando uma hora e meia antes do nascer do sol—são as mais escutadas por Deus, do que aquelas que são oferecidas mais tarde.

 

Inshallah, ou insha’Allah, quer dizer “se Allah desejar.” Allah é um nome de Deus, portanto insha’Allah significa “desejo de Deus.” Naturalmente que também aceitamos o nome de Allah. Allah e Krsna não são diferentes. Mas os nossos devotos no Paquistão, em vez de dizerem “insha’Allah” costumavam dizer, “insha Krsna”, querendo dizer a mesma coisa—“O desejo de Deus.”

 

Krsna Bamani dasi: Maharaja, ia precisamente agora dar um exemplo. No principio algumas pessoas pensam, “Oh, tenho que me tornar vegetariano” quando escutam falar sobre todas as restrições negativas. Mas o processo da vida espiritual é tão agradável, que eles experimentam um gosto superior. Na verdade eles preferem o nosso alimento, prasada, às outras coisas que costumam comer. E o mesmo acontece com as outras aparentes restrições. À medida que cantamos e nos associamos com os devotos, provamos um gosto superior.

 

Giriraj Swami: É um bom ponto.

 

Krsna Bamani dasi: Queria dizer algo mais. Você já o explicou. No mundo moderno, os fanáticos Muçulmanos, ou os fanáticos de qualquer outra religião— podem estar a cantar os nomes de Deus, enquanto se produz tanta violência. Por exemplo, eles podem cantar, “Allah, Allah,” e ainda assim ocuparem-se em tanta actividade violenta. Eles são “os guerreiros de Deus”, por assim dizer. Portanto, você já explicou que existem métodos para se cantar os nomes de Deus apropriadamente.

 

Giriraj Swami: Certo. Devemos evitar essa ofensa de ofender os devotos, e existem devotos em todas as tradições. Podemos adoptar o nome de Deus da nossa tradição, mas se criamos inimizade com os outros devotos das outras tradições, isso é uma ofensa, não só contra os devotos em si, mas também contra o santo nome. E se cometemos ofensas contra o santo nome, não derivamos o beneficio. Na verdade, está explicado que quando ofendemos os devotos, o santo nome fica ofendido e retrai a sua misericórdia. Portanto, apesar desses fanáticos pronunciarem o nome de Deus, para eles Deus está quase ausente. Para eles, Ele retraiu a Sua misericórdia, porque são ofensivos.

 

Naturalmente que ofender os devotos é o pior, mas ofender a qualquer ser—causar dor a qualquer entidade viva—está proibido. Esse é o mandamento completo. E essa é uma das razões pelas quais nós não matamos animais ou comemos carne.

 

Portanto, não chega pronunciarmos somente os nomes de Deus. Devemos ter a consciência apropriada, a mentalidade adequada de serviço a Deus e aos devotos de Deus—em qualquer tradição, cultura ou comunidade a que pertençamos. Devemos respeitar e apreciar todos os devotos genuínos, serventes de Deus, encorajar os devotos e cantar os nomes de Deus. Essa atitude levar-nos-á ao sucesso completo, e um dia o santo nome revelar-se-á a nós e veremos Krsna cara a cara. 

 

prabhu kahe,—“vaisnava-seva, nama-sankirtana

dui kara, sighra pabe sri-krsna-carana”

 

O Senhor [Sri Krsna Caitanya Mahaprabhu] disse, “Devemos ocupar-nos no serviço dos serventes de Krsna, e cantarmos o santo nome de Krsna. Se fizermos essas duas coisas, muito em breve alcançaremos refúgio aos pés de lótus de Krsna.” (Cc Madhya 16.70)

 

Hare Krsna!

 

 

 

Written by nityananda108

Agosto 24, 2008 at 3:01 am

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Dia de Balarama

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O Dia do Aparecimento do Senhor Balarama

Aula Dada por Giriraj Swami

14 de Agosto, 2000

Chicago

 

 

Para glorificar Deus, a Pessoa Suprema, para auto purificação e para aumentar a satisfação dos devotos, vamos ler agora do Sri Caitanya-caritamrta, Adi-lila, quinto capítulo, “As glórias do Senhor Nityananda-Balarama”:

 

Este capítulo está principalmente direccionado para a descrição da natureza essencial e das glórias de Sri Nityananda Prabhu. O Senhor Sri Krsna é a Personalidade de Deus absoluta e a Sua primeira expansão para passatempos, é a forma de Sri Balarama.

 

VERSO 1

 

vande ’nantadbhutaisvaryam

  sri-nityanandam isvaram

yasyecchaya tat-svarupam

  ajnenapi nirupyate

 

TRADUÇÃO

 

Deixai-me oferecer as minhas reverências ao Senhor Sri Nityananda, a Suprema Personalidade de Deus, cuja opulência é maravilhosa e ilimitada. Por sua vontade, mesmo um tolo pode compreender a Sua identidade.

 

VERSO 2

 

jaya jaya sri-caitanya jaya nityananda

jayadvaita-candra jaya gaura-bhakta-vrnda

 

TRADUÇÃO

 

Todas as glórias a Sri Caitanya Mahaprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityananda! Todas as glórias a Advaita Acarya! E todas as glórias a todos os devotos do Senhor Caitanya Mahaprabhu!

 

VERSO 4

 

sarva-avatari krsna svayam bhagavan

tanhara dvitiya deha sri-balarama

 

TRADUÇÃO

 

A Suprema Personalidade de Deus, Krsna, é o manancial de todas as encarnações. O Senhor Balarama é o Seu segundo corpo.

 

SIGNIFICADO dado por Srila Prabhupada

 

O Senhor Sri Krsna, a absoluta Personalidade de Deus, é o Senhor primordial, a forma original de Deus, e a Sua primeira expansão é Sri Balarama. A Personalidade de Deus pode expandir-se em formas inumeráveis. As formas que têm energia ilimitada chamam-se svamsa, e as formas que têm energias limitadas (as entidades vivas) chamam-se vibhinnamsa.

 

VERSO 5

 

eka-i svarupa donhe, bhinna-matra kaya

adya kaya-vyuha, krsna-lilara sahaya

 

TRADUÇÃO

 

Ambos, têm a mesma identidade. Diferem apenas em forma. O Senhor Balarama é a primeira expansão corpórea de Krsna, e ajuda nos passatempos transcendentais de Krsna.

 

SIGNIFICADO

 

Balarama é uma expansão svamsa do Senhor e, por isso, não há diferença em potência entre Krsna e Balarama. A única diferença está na estrutura corpórea d`Eles. Sendo a primeira expansão da Divindade, Balarama é a Deidade principal entre as primeiras expansões quádruplas, e Ele é o principal assistente de Sri Krsna em Suas actividades transcendentais.

 

COMENTÁRIO de Giriraj Swami

 

No começo do Srimad-Bhagavatam, Srila Prabhupada explica a diferença entre o conceito de Verdade Absoluta e o conceito de Deus. Deus (isvara, em sânscrito) significa “controlador.” Mas a Verdade Absoluta, como se define no Vedanta-sutra e se explica no Srimad-Bhagavatam, é “Aquele de onde tudo emana.” Alguém pode ser Deus, criador e controlador de um cosmos inteiro, mas não necessáriamente tem que ser a origem de todas as coisas. Portanto, o conceito de Verdade Absoluta vai mais além do conceito de Deus como controlador. Janmady asya yatah. Om namo bhagavate vasudevaya, janmady asya yatah: O Senhor Krsna é a Verdade Absoluta. Ele é a origem de tudo, tanto material quanto espiritual.

 

O Senhor Balarama é a primeira expansão do Senhor Krsna. O Brahma-samhita dá um exemplo: a partir de uma vela pode-se acender uma segunda vela, da segunda pode-se acender uma terceira, da terceira uma quarta, etc. Todas têm a mesma energia enquanto velas, mas só há uma vela original. Da mesma maneira, o Senhor Krsna expande-se em inumeráveis porções plenárias e porções das porções plenárias, mas Krsna é a Verdade Absoluta original, a Personalidade de Deus original. E Balarama é a primeira expansão, a primeira vela a ser acendida pela vela original. 

 

Aqui, Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami e Srila Prabhupada explicam que, a nível de potência, não existe diferença entre Krsna e Balarama; a única diferença é a constituição física. Uma vez, durante a Kumbha-mela, em Allahabad, surgiu um argumento entre dois devotos, precisamente sobre este mesmo  ponto. Um devoto, Madhudvisa Prabhu disse, “Não existe diferença entre Krsna e Balarama. A única diferença é que Krsna é negro e Balarama é branco.” Porém a Mataji Yamuna não concordou. “Não,” assegurou ela. “Existe uma outra diferença, Krsna é o único desfrutador de Radharani.” Assim,  os dois continuaram argumentando até que Sua Santidade Tamal Krishna Maharaja, que era nessa altura o secretário de Srila Prabhupada para a India, levou o assunto a Srila Prabhupada. Ele disse, “Srila Prabhupada, Madhudvisa Prabhu diz que a única diferença entre Krsna e Balarama é a cor-Krsna é negro e Balarama é branco.” Srila Prabhupada respondeu, “Ele tem razão.” Entretanto Tamal Krishna Goswami continuou, “Mas a Mataji Yamuna diz que existe uma outra diferença, porque Krsna é o único desfrutador de Srimati Radharani.” E Srila Prabhupada respondeu, “Ela tem razão.” Então Tamal Krishna Goswami sugeriu, “Srila Prabhupada eles estão a dizer coisas diferentes. Não podem ter os dois razão. Ao que Srila Prabhupada respondeu, “ Tens razão.” Então Tamal Krishna Goswami perguntou, “Então quem é que tem razão?” Srila Prabhupada respondeu, “Decide tu.”

 

VERSO 6

 

sei krsna—navadvipe sri-caitanya-candra

sei balarama—sange sri-nityananda

 

TRADUÇÃO

 

Esse Senhor Krsna original apareceu em Navadvipa como o Senhor Caitanya, e Balarama apareceu com Ele como o Senhor Nityananda.

 

COMENTÁRIO

 

Houve outro incidente acerca de um tema semelhante. Srila Prabhupada perguntou, “Quem é mais forte, Krsna ou Balarama?” Embora ambos, como svamsa, têm potências iguais, pode ser que haja alguma diferença. Portanto, Srila Prabhupada perguntou, “Quem é o mais forte?” E eu também farei a todos a mesma pergunta.

 

Devoto (1): Krsna é mais forte, porque Balarama recebe a Sua força de Krsna.

 

Giriraj Swami: Bem, é verdade. Tens razão.

 

Murari Caitanya: Krsna é  mais forte, porque Krsna é completo em todas as opulências, e uma delas é a força.

 

Giriraj Swami: Sim.

 

Devoto (2): Balarama é mais forte, porque é o irmão mais velho de Krsna.

 

Giriraj Swami: Srila Prabhupada respondeu, “Krsna é mais forte,”mas a evidência que deu é diferente daquelas sugeridas por todos vós. A evidência que Srila Prabhupada ofereceu não vem dos livros. Srila Prabhupada explicou, “Krsna é mais forte porque a Deidade de Balarama repousa o seu braço no ombro de Krsna.”

 

Agora vamos entrar nos passatempos.

 

VERSO 149

 

nityananda-svarupa purve ha-iya laksmana

laghu-bhrata haiya kare ramera sevana

 

TRADUÇÃO

 

Anteriormente, o Senhor Nityananda Svarupa apareceu como Laksmana e serviu o Senhor Ramacandra como o Seu irmão mais novo.

 

SIGNIFICADO

 

Entre os sannyasis da Sankara-sampradaya, há diferentes nomes para brahmacaris. Cada sannyasi tem alguns auxiliares, conhecidos como brahmacaris, que recebem diferentes nomes segundo os nomes do sannyasi. Entre tais brahmacaris há quatro nomes: Svarupa, Ananda, Prakasa e Caitanya. Nityananda Prabhu manteve-se como brahmacari: Ele jamais tomou sannyasa. Como brahmacari, Seu nome era Nityananda Svarupa e por isso, o sannyasi com quem Ele vivia deve ter sido dos tirthas ou asramas, porque o brahmacari auxiliar de tal sannyasi chama-se Nityananda Svarupa

 

VERSO 150

 

ramera caritra saba,—duhkhera karana

svatantra lilaya duhkha sahena laksmana

 

TRADUÇÃO

 

As actividades do Senhor Rama estavam repletas de sofrimento, porém, Laksmana tolerava esse sofrimento voluntariamente.

 

VERSO 151

 

nisedha karite nare, yate chota bhai

mauna dhari’ rahe laksmana mane duhkha pai’

 

TRADUÇÃO

 

Ele não podia contrariar a resolução do Senhor Rama, por ser Seu irmão mais novo, e assim permanecia calado, embora mentalmente infeliz.

 

COMENTÁRIO

 

Assim como Krsna apareceu como o Senhor Ramacandra, Balarama apareceu como Laksmana. Se analizarmos em termos do ciclo de eras, o Senhor Ramacandra apareceu anteriormente, em Treta-yuga, e o Senhor Krsna apareceu posteriormente, em Dvapara-yuga. Os passatempos do Senhor Ramacandra estavam cheios de sofrimento. Rama e Laksmana eram os filhos mais qualificados do rei Dasaratha, e todos esperavam que o Senhor Rama fosse coroado como o rei de Ayodhya. No último momento, no entanto, a Rainha Kaikeyi lembrou a Dasaratha que ele lhe tinha concedido dois desejos, em reconhecida retribuição pelo seu serviço, quando ele se encontrava em grande perigo. No momento em que Dasaratha lhe concedeu estes dois pedidos, Kaikeyi disse que não os aceitaria no momento, mas mais tarde reclama-los-ia. Por várias razões, Kaikeyi queria que o seu filho Bharata se tornasse rei em lugar do Senhor Rama, por isso ela fez esse pedido ao rei. Devido a que o rei Dasaratha lhe tinha dado a sua palavra,  sentia-se na obrigação de mantê-la. Ela também pediu que o Senhor Rama fosse enviado para o exílio por um período de catorze anos, para que Bharata pudesse desfrutar do trono sem perturbações.

 

O Ramayana está repleto de exemplos perfeitos. O Senhor Rama é o rei ideal, o filho ideal, o enteado ideal, o marido ideal; Sita é a esposa ideal, Laksmana é o irmão ideal. O Senhor Ramacandra, o filho ideal, vendo o quão perturbado estava o seu pai, quando foi obrigado a pedir-lhe para abandonar o trono e partir para a floresta, voluntáriamente disse, “Sim, eu ficarei feliz por partir. Não se preocupe.” Quando o Senhor Rama decidiu partir, Laksmana declarou, “Não podes ir para a floresta sózinho. Eu também irei contigo.” O Senhor Rama aceitou. Então, Sitadevi salientou, “Eu sou a tua esposa e devo acompanhar-te em todas as circunstâncias.” Na verdade, quase todos os habitantes de Ayodhya queriam acompanhar Rama. No entanto, o Senhor Ramacandra disse-lhes: “Se todos vocês me acompanharem, não ficará ninguém em Ayodhya. Por isso, fiquem aqui.

 

Na floresta, o Senhor Ramacandra passou por muitas dificuldades. No Srimad-Bhagavatam existe um belo verso que descreve como os suaves pés de lótus de Ramacandra tiveram que atravessar o solo da selva, que estava cheio de pedras, calhaus e espinhos. As gopis também costumavam chorar, ao pensarem que os pés de lótus de Krsna seriam picados e espetados pelas pedras e espinhos. Assim como os devotos de Krsna consideram os Seus passatempos em Vrndavana os mais agradáveis, por causa da sua doçura e intimidade, os devotos do Senhor Rama consideram os Seus passatempos na floresta como os mais doces e os mais saborosos. No entanto, externamente, o Senhor sofreu na floresta, e Laksmana não pode fazer nada para impedir que isso acontecesse.

 

Krsnadasa Kaviraja Gosvami explica maravilhosamente no Caitanya-caritamrta que todos-desde o Senhor Balarama, a primeira expansão, até às outras expansões de Krsna-possuem o sentimento de servidão para com o Senhor Krsna, e mesmo as outras expansões de Krsna sentem prazer em servir Krsna. Por outras palavras, sentem-se felizes quando Krsna está feliz. Laksmana não conseguia tolerar todo o sofrimento pelo qual o Senhor Rama passou, mas porque Ele era o irmão mais novo, não podia impedir o Senhor Rama de agir. Houveram outros momentos em que Ele se sentiu na mesma posição desconfortável.

 

Por exemplo, quando Ravana foi morto e Sitadevi foi libertada, Laksmana foi obrigado a fazer algo muito doloroso. O Senhor Ramacandra declarou que Ele não levaria Sita consigo. Sita respondeu, “Se não me vais levar contigo, qual foi a finalidade desta guerra-de tanto derramar de sangue e de tantas mortes?” Rama respondeu, “ Não lutámos nesta guerra para te recuperar. Lutámos para mostrar a força da nossa dinastia, para que o mundo não julgue que somos fracos. Passaste a noite com outro homem, e por isso não posso levar-te comigo.”Então o Senhor Rama disse a Laksmana, “Agora deves agarrar em Sita e colocá-la no fogo.” A Mãe Sita era a deidade adorável de Laksmana. Como poderia Ele colocá-la no fogo? No entanto, sendo o irmão mais novo, não tinha outra escolha.

 

Assim, Laksmana teve de executar muitas actividades que lhe causavam dor, porque, em última instância, causavam dor a Sita-Rama, e ele não podia fazer nada por causa da Sua posição subalterna. Por isso, Ele fez o voto de que, no futuro, nunca mais apareceria como o irmão mais novo do Senhor Supremo. Dessa forma, podemos constatar que em krsna-lila Ele aparece como o irmão mais velho, Balarama, e em gaura-lila Ele também aparece como o irmão mais velho, Nityananda.

 

VERSO 152

 

krsna-avatare jyestha haila sevara karana

krsnake karaila nana sukha asvadana

 

TRADUÇÃO

 

Quando o Senhor Krsna apareceu, Ele [Balarama] tornou-se Seu irmão mais velho para servi-Lo como desejava e fazê-Lo desfrutar de todas as espécies de felicidade.

 

VERSO 153

 

rama-laksmana—krsna-ramera amsa-visesa

avatara-kale donhe donhate pravesa

 

TRADUÇÃO

 

Sri Rama e Sri Laksmana, que são porções plenárias do Senhor Krsna e do Senhor Balarama, entraram n`Eles na época do aparecimento de Krsna e Balarama.

 

SIGNIFICADO

 

Citando o Visnu-dharmottara, o Laghu-bagavatamrta explica que Rama é uma encarnação de Vasudeva, Laksmana é uma encarnação de Sankarsana, Bharata é uma encarnação de Pradyumna e Satrughna é uma encarnação de Anirudha. O Padma Purana descreve que Ramacandra é Narayana e Laksmana, Bharata e Satrughna, são respectivamente, Sesa, Cakra e Sankha (o búzio na mão de Narayana). No Rama-gita do Skanda Purana, Laksmana, Bharata e Satrughna são descritos como os três auxiliares do Senhor Rama.

 

VERSO 154

 

sei amsa lana jyestha-kanisthabhimana

amsamsi-rupe sastre karaye vyakhyana

 

TRADUÇÃO

 

Krsna e Balarama apresentaram-se como irmão mais velho ou mais novo, porém, nas escrituras, descrevem-se-Os como a Suprema Personalidade de Deus original e Sua expansão.

 

VERSO 155

 

ramadi-murtisu kala-niyamena tisthan

  nanavataram akarod bhuvanesu kintu

krsnah svayam samabhavat paramah puman yo

  govindam adi-purusam tam aham bhajami

 

TRADUÇÃO

 

“Adoro Govinda, o Senhor primordial, que, mediante Suas diversas porções plenárias, apareceu no mundo sob diferentes formas e encarnações, tais como o Senhor Rama, mas que pessoalmente aparece sob Sua suprema forma original como o Senhor Krsna.”

 

SIGNIFICADO

 

Esta é uma citação do Brahma-samhita (5.39).

 

VERSO 156

 

sri-caitanya—sei krsna, nityananda—rama

nityananda purna kare caitanyera kama

 

TRADUÇÃO

 

O Senhor Caitanya é o mesmo Senhor Krsna, e o Senhor Nityananda é o Senhor Balarama. O Senhor Nityananda satisfaz todos os desejos do Senhor Caitanya.

 

VERSO 157

 

nityananda-mahima-sindhu ananta, apara

eka kana sparsi matra,—se krpa tanhara

 

TRADUÇÃO

 

O oceano das glórias do Senhor Nityananda é infinito e insondável. Apenas por Sua misericórdia posso tocar uma só gota deste oceano.

 

VERSO 134

 

ei-rupe nityananda ‘ananta’-prakasa

sei-bhave—kahe muni caitanyera dasa

 

TRADUÇÃO

 

Dessa maneira o Senhor Nityananda tem ilimitadas encarnações. Com emoção transcendental, Ele diz-se servo do Senhor Caitanya.

 

VERSO 135

 

kabhu guru, kabhu sakha, kabhu bhrtya-lila

purve yena tina-bhave vraje kaila khela

 

TRADUÇÃO

 

Às vezes, Ele serve o Senhor Caitanya como guru, às vezes, como Seu amigo e, às vezes, como Seu servo, assim como o Senhor Balarama brincava com o Senhor Krsna nestes três diferentes sentimentos em Vraja.

 

COMENTÁRIO

 

“Por vezes Ele serve o Senhor Caitanya como Seu guru” significa que ele presta serviço no papel de irmão mais velho, como professor. O Senhor Balarama, sendo o irmão mais velho do Senhor Krsna, encontrava-se na posição de professor e autoridade para o Senhor Krsna, e por isso Ele serviu o Senhor com alguma vatsalya-rasa. Vatsa em Sânscrito significa “bezerro” ou “filho querido”, pois a vaca é também uma das nossas mães. Assim, a afeição maternal ou paternal é vatsalya-rasa. Assim como o irmão mais velho é solicitado para cuidar do irmão mais novo, o Senhor Balarama em Vrndavana, serviu algumas vezes o Senhor Krsna em vatsalya-rasa. Ele prestava serviço a Krsna como guru, e, por vezes, também servia a Krsna como amigo, ou em igualdade, em sakhya-rasa, e por vezes também como Seu servente, em dasya-rasa. O Senhor Nityananda serve o Senhor Caitanya com os mesmos três sentimentos.

 

 

VERSO 136

 

vrsa hana krsna-sane matha-mathi rana

kabhu krsna kare tanra pada-samvahana

 

TRADUÇÃO

 

Actuando como um touro, o Senhor Balarama luta com Krsna, cabeça a cabeça. E às vezes o Senhor Krsna massaja os pés do Senhor Balarama.

 

COMENTÁRIO

 

Certa vez, depois da Ardha-kumbha-mela em 1971, íamos de comboio com Srila Prabhupada, e alguns de nós estávamos com Srila Prabhupada no seu compartimento. Srila Prabhupada pediu a um devoto para ler do livro de Krsna. O devoto perguntou, “Devo ler de alguma parte em particular?” Srila Prabhupada respondeu, “Não, tudo é néctar.” Assim, o devoto abriu o livro na história de Dhenukasura, o demónio asno que foi morto por Balarama. No principio da história os vaqueirinhos aproximaram-se ao Senhor Krsna dizendo, “Da floresta de Talavana vem um aroma a frutas muito doces, mas não as podemos desfrutar devido aos demónios que vivem lá.” Depois do devoto ter lido essa passagem, Srila Prabhupada abriu muito os olhos e exclamou, “Vejam só como os vaqueirinhos tentaram ocupar o Senhor Krsna na gratificação dos seus sentidos!” Depois de ler por algum tempo mais, o devoto mostrou a todos a pintura do passatempo. Ao vê-la, Srila Prabhupada ficou muito agradado e disse, “Os artistas fizeram um grande serviço; o seu serviço não foi em vão.”

 

No quarto de Srila Prabhupada, em Juhu, havia uma pintura muito bonita do Senhor Balarama deitado debaixo de uma árvore, enquanto o Senhor Krsna  lhe massajava os pés de lótus. Isto é mencionado aqui: Ás vezes Krsna massajava os pés de lótus de Balarama, assim como um discípulo serve o guru, ou como um filho serve o seu pai.

 

VERSO 137

 

apanake bhrtya kari’ krsne prabhu jane

krsnera kalara kala apanake mane

 

TRADUÇÃO

 

Ele considera-se um servo e sabe que Krsna é Seu amo. Assim, Ele considera-se um fragmento de Sua porção plenária.

 

COMENTÁRIO

 

Até mesmo o Senhor Balarama deseja servir Krsna, considerando-Se muito insignificante em comparação. Embora, na verdade, ele seja a primeira expansão do Senhor com as mesmas potências de Krsna, Ele considera-se apenas um fragremento de um fragmento de Krsna (kalara kala). Por outras palavras, Ele é humilde. O sentimento de serviço e o sentimento de humildade caminham juntos. Quando eu me considero muito pequeno, naturalmente quero servir quem é grande. O Senhor Balarama é o mestre espiritual original, por isso devemos aprender com ele a como nos sentir humildes e insignificantes, e assim desenvolver o sentimento de querer servir quem é grande, o Supremo.

 

VERSO 138

 

vrsayamanau nardantau

  yuyudhate parasparam

anukrtya rutair jantums

  ceratuh prakrtau yatha

 

TRADUÇÃO

 

“Agindo como meninos comuns,  Eles faziam o papel de touros mugindo, enquanto lutavam um com o outro, e imitavam os gritos de diversos animais.”

 

SIGNIFICADO

 

Esta e as citações seguintes são do Bhagavatam (10.11.40) e (10.15.14).

 

COMENTÁRIO

 

Krsna, Balarama, e os vaqueirinhos brincam tal e qual como os amigos comuns.

 

VERSO 139

 

kvacit krida-parisrantam

  gopotsangopabarhanam

svayam visramayaty aryam

  pada-samvahanadibhih

 

TRADUÇÃO

 

“Às vezes, quando o Senhor Balarama, o irmão mais velho do Senhor Krsna, Se sentia cansado após brincar e deitava a Sua mão no colo de um vaqueirinho, o próprio Senhor Krsna servia-O, massajando-lhe os pés.”

 

VERSO 140

 

keyam va kuta ayata

  daivi va nary utasuri

prayo mayastu me bhartur

  nanya me ’pi vimohini

 

TRADUÇÃO

 

“Quem é esta mística poderosa, e de onde vem ela? Será uma semideusa ou uma demónia? Deve ser a energia ilusória de Meu amo, o Senhor Krsna, pois quem mais Me pode confundir?”

 

SIGNIFICADO

 

Os passatempos brincalhões do Senhor causaram suspeitas na mente do Senhor Brahma, que por isso roubou todas as vacas e vaqueirinhos do Senhor com o seu próprio poder místico, com o intuito de testar a omnipotência de Krsna. No entanto, Sri Krsna respondeu substituindo todas as vacas e meninos no campo. Os pensamentos de espanto do Senhor Balarama ao presenciar tão maravilhosa vingança são registados neste verso (SB. 10.13.37).

 

COMENTÁRIO

 

O Senhor Brahma ficou maravilhado ao ver como os habitantes de Vrndavana sentiam tanta afeição por Krsna. Assim, para poder ver mais passatempos gloriosos de Krsna, ele roubou os vaqueirinhos e os bezerros através do seu poder místico. Então, o Senhor Krsna, através de Seu poder místico superior, expandiu-Se em vários duplicados que se assemelhavam exactamente aos vaqueirinhos e aos bezerros. Durante um ano os vaqueirinhos e os bezerros eram, na verdade, expansões directas do Senhor Krsna. Muitos acontecimentos fora de série se passaram durante esse ano, e o Senhor Balarama suspeitava que algo estava diferente-embora Ele não soubesse dizer o quê. Então pensou, “Como foi possível Eu ter ficado iludido? Como foi possível Eu ter ficado confuso?” Concluiu, “Somente pelas potências do Senhor Krsna, foi possível Eu ter ficado confundido.”Dessa forma, Ele glorifica a potência do Senhor Krsna.

 

VERSO 141

 

yasyanghri-pankaja-rajo ’khila-loka-palair

  mauly-uttamair dhrtam upasita-tirtha-tirtham

brahma bhavo ’ham api yasya kalah kalayah

  sris codvahema ciram asya nrpasanam kva

 

“Qual é o valor de um trono para o Senhor Krsna? Os senhores dos diversos sistemas planetários aceitam a poeira de Seus pés de lótus em suas cabeças coroadas. Essa poeira faz os locais santos, sagrados, e mesmo o Senhor Brahma, o Senhor Siva, Laksmi, e Eu próprio, que somos todos porções de Sua porção plenária, transportamos eternamente essa poeira sobre nossas cabeças.”

 

SIGNIFICADO

 

Quando os Kauravas, para lisonjear Baladeva de modo a que Ele se tornasse aliado deles, falaram mal de Sri Krsna, o Senhor Baladeva irritou-se e falou este verso (SB 10.68.37).

 

COMENTÁRIO

 

Como Srila Prabhupada afirmou aqui, os Kauravas queriam convencer o Senhor Balarama a tornar-se seu aliado, contra Krsna e o Seu grupo, por isso acusaram o Senhor Krsna de ser arrogante e impudente. O Senhor Balarama, no entanto, defendeu o Senhor Krsna e declarou, “Qual é o valor de um trono para o Senhor Krsna? Os senhores de vários sistemas planetários aceitam a poeira dos Seus pés de lótus nas suas cabeças coroadas. Eles são os reis do universo, mas em vez das suas coroas de valor inestimável, preferem aceitar em suas cabeças a poeira dos pés de lótus do Senhor Krsna. Assim sendo, qual é o valor de um trono qualquer para o Senhor Krsna?” O Senhor Balarama declara-se como kalah kalayah, a porção da porção, ou o fragmento do fragmento do Senhor Krsna, assim como Krsnadasa Kaviraja também menciona  (kalara kala).

 

Nesta passagem podemos ver o quão humilde o Senhor Balarama é, o quanto Ele aprecia o Senhor Krsna, e também o quão leal Ele é. A caracteristica da politica é criar divisões, fazer com que um grupo enfraqueça, dividindo-o. (Portanto Srila Prabhupada disse, que a única coisa que pode destruir ISKCON é lutarmos entre nós. Desde o exterior nada pode destruir ISKCON.) Aqui vemos o quão fiel o Senhor Balarama era ao Senhor Krsna.

 

Por vezes, podemos escutar falar mal de um devoto e podemos pensar que uma boa maneira de fazer amizade com a pessoa que está a criticar, é concordar com ele, ou ela. Mas, se alinharmos nessa critica, especialmente na ausência do devoto que está a ser criticado, e sem a intenção de o ajudar, fragilizamos a nossa posição espiritual, e também enfraquecemos a missão de Srila Prabhupada.

 

Srila Prabhupada citava regularmente, “Existe força na união.” Ele comentou a história de um pai que queria que os seus filhos colaborassem entre si. Primeiro, o pai deu a cada um dos filhos um pau fininho e pediu-lhes para que o partissem, e cada um partiu o seu pau muito fácilmente. Então, apanhou um molho de paus da mesma espessura e, atando-os todos, pediu para que os filhos os partissem. Porque os paus estavam todos atados, nenhum dos filhos pode parti-los. Assim, o pai disse-lhes, “Do mesmo modo, se permanecerem unidos, niguém será capaz de vos derrotar. Mas se permanecerem sózinhos, cada um de vós pode ser derrotado. Sózinho, cada um de vocês pode ser partido.” Srila Prabhupada queria que permanecessemos unidos. Da união, surge a força-com Srila Prabhupada, Sri Caitanya Mahaprabhu e o Senhor Krsna no centro.

 

Srila Prabhupada deu um outro exemplo de um pai e os seus filhos. O pai estava doente e precisava que os seus filhos o massajassem mas, entre eles, começaram a lutar para decidir quem iria massajar as diferentes partes do corpo do pai. Um irmão massajava a cabeça, mas o irmão que estava a massajar os pés disse, “Eu quero massajar a cabeça-tu massajas os pés.” Outro irmão, que massajava o braço esquerdo, começou a argumentar com o irmão que massajava o braço direito: “Eu massajo o braço direito-tu, o braço esquerdo.” Ficaram tão envolvidos em argumentar entre si sobre quem iria massajar que parte do corpo, que o pai acabou por morrer. “Portanto,” Srila Prabhupada concluiu, “Deveis cooperar no serviço do vosso pai, não fiquem tão absortos sobre quem vai fazer que tipo de serviço a ele, que se esquecem completamente do pai.” 

 

Aqui está um muito bom exemplo do Senhor Balarama para nós seguirmos: como nos tornármos um servente humilde, como sermos fiéis e destemidos. Balarama não tinha medo de expressar a Sua devoção pelo Senhor Krsna, de proclamar as glórias do Senhor Krsna-até aos inimigos de Krsna. Devemos aprender isto do Senhor Balarama. Devemos rogar pela Sua misericórdia, para que Ele nos ensine essa atitude de serviço humilde, e também o sentimento de devoção fiel, de defesa de Krsna sem temor, de pregar as glórias de Krsna destemidamente.

 

Os versos anteriores descrevem um contraste muito interessante. Um verso explica como o Senhor Krsna massajava os pés de lótus do Senhor Balarama e o seguinte explica como o Senhor Balarama considera o Senhor Krsna Seu mestre. Também podemos ter sentimentos similares quando nos associamos, porque também nós somos irmãos e irmãs-irmãos e irmãs espirituais-e cada um de nós deve ter esse sentimento de serviço para com os outros. Por isso Srila Prabhupada disse que, entre nós, devemos dirigir-nos como prabhu, porque prabhu significa “mestre.” Nós somos os serventes, e os nossos prabhus são os nossos mestres-apesar de, também eles, serem serventes. Por vezes Balarama massajava os pés de lótus de Krsna e, algumas vezes Krsna massajava os pés de lótus de Balarama. Cada um estava imbuido do sentimento de dar prazer ao outro, por isso o Seu relacionamento era tão doce e sublime. Também nós, devemos ter essa predisposição de serviço.

 

Uma vez, em Mayapur, logo depois de ter tomado prasada, Srila Prabhupada ouviu gritos vindos do quarto ao lado. Ele enviou o seu servente, Hari-sauri prabhu, averiguar sobre a razão de tanta gritaria. Hari-sauri voltou e explicou, “Srila Prabhupada, os seus secretários envolveram-se numa discussão.” Então, Srila Prabhupada chamou-os e perguntou-lhes, “Qual é a dificuldade?”

 

Um secretário respondeu, “Srila Prabhupada, eu estou doente e o único alimento que eu realmente posso comer são os seus remanescentes, por isso quis ficar com eles.”

 

O outro secretário contra-argumentou, “Srila Prabhupada, sinto que todos os seus discipulos devem obter um pouco dos seus remanescentes, não somente um.

 

Então Srila Prabhupada respondeu: “Ele está doente, e se tudo o que pode comer e digerir são os meus remanescentes, deverias ter-lhos dado.” Srila Prabhupada explicou, “Não é suficiente ser o servente do mestre espiritual; também deves ser o servente dos outros serventes do mestre espiritual.” Srila Prabhupada disse que, por desenvolver essa atitude humilde de ser servente do servente, o devoto pode avançar maravilhosamente. Ele deu o exemplo de que na Bengala, sempre que uma pessoa santa visitava uma aldeia os aldeãos aproximavam-se a ele querendo obter um pouco de pó de seus pés, e convidavam-no a suas casas para o alimentar e servir. Todos eles pensavam, “Oh, ele é uma pessoa tão santa. Quero obter o pó de seus pés e servi-lo.” E a pessoa santa pensava, “Porque será que querem o pó de meus pés? Porque é que me querem servir? Sou apenas uma pessoa comum.” Srila Prabhupada disse, “Porque todos eram humildes, avançavam maravilhosamente.”

 

Entre nós, tal como Krsna e Balarama, devemos pensar que o outro é meu prabhu: “Quero servir o meu prabhu.” Deste modo todos avançaremos maravilhosamente e os nossos relacionamentos serão doces e puros e sublimes. As pessoas ficarão atraídas. Não somente se atrairão mas, de uma forma natural, quererão trazer outras pessoas também.

 

Numa tarde anterior, celebrámos Jhulana-yatra em Santa Barbara. Houve uma palestra e, naturalmente, também o balançar de Radha e Krsna mas sobretudo fazíamos kirtana. Havia uma atmosfera muito agradável. Tive o desejo de ir para a rua e dizer às pessoas, “Isto é algo tão agradável. Venham e experimentem.” Mas, depois de ter sentido esse desejo espontâneo de sair e chamar as pessoas para que elas também pudessem experimentar a doçura da consciência de Krsna, pensei, “Por vezes, não sinto esse desejo de convidar as pessoas para o templo, porque não sei o que experimentarão quando forem lá.” Estou seguro que aqui em Chicago é diferente e, provavelmente, é devido à minha natureza caída que sinto tais reservas, mas sei que nem sempre tenho a mesma confiança que senti na outra tarde em Santa Barbara. À medida que eu e os outros devotos presentes desfrutávamos do kirtana e do festival do baloiço, realizei que o processo da consciência de Krsna na sua essência-o processo de cantar os santos nomes em conjunto com outros devotos-é naturalmente doce, bem-aventurado e agradável. E quando sentimos esse prazer, queremos, de uma forma natural, convidar outros: “Venham, é algo tão maravilhoso. Venham e experimentem.”

 

Também pude realizar a razão de nós não sentirmos constantemente esse prazer, e porque é que enfrentamos tantas perturbações que minam o nosso desejo espontâneo e entusiasta de sair à rua para trazer outros que também possam experimentar essa satisfação. Qual é a razão? Realizei que é a maneira como muitas vezes lidamos uns com os outros, especialmente a maneira como lutamos entre nós e nos criticamos. Isso é o que polui toda a atmosfera. Isso é o que cobre a beleza pura, natural e o esplendor e prazer de cantar os santos nomes na associação de devotos, que é, verdadeiramente, o nosso único interesse e meta. Se pudessemos relacionar-nos da maneira como Krsna e Balarama lidavam entre si, não teríamos tal problema. Não faz nenhuma diferença o facto de Eles serem grandes e nós pequenos. O ponto é que, no relacionamento entre Eles, cada um é humilde e quer servir e agradar o outro. Por vezes Krsna faz o papel de mestre  e Balarama serve-O; por vezes acontece o oposto e Krsna serve Balarama. E é assim que deve ser entre nós-nenhuma politica, só serviço humilde e fiel. Naturalmente que não quero simplificar demasiado os problemas, mas estes são alguns dos meus pensamentos.

Agora chegámos ao famoso verso:

 

VERSO 142

 

ekale isvara krsna, ara saba bhrtya

yare yaiche nacaya, se taiche kare nrtya

 

TRADUÇÃO

 

O Senhor Krsna é o único controlador supremo, e todos os outros são Seus servos. Eles dançam como Ele os faz dançar.

 

VERSOS 143145

 

ei mata caitanya-gosani ekale isvara

ara saba parisada, keha va kinkara

 

guru-varga,—nityananda, advaita acarya

srivasadi, ara yata-laghu, sama, arya

 

sabe parisada, sabe lilara sahaya

saba lana nija-karya sadhe gaura-raya

 

TRADUÇÃO

 

Assim o Senhor Caitanya é também o único controlador. Todos os outros são Seus associados ou servos. Associados mais velhos que Ele, tais como o Senhor Nityananda, Advaita Acarya e Srivasa Thakura, bem como Seus outros devotos-sejam eles mais novos que Ele, iguais ou superiores-todos eles O ajudam em Seus passatempos. O Senhor Gauranga cumpre os Seus objectivos com a ajuda deles.

 

COMENTÁRIO

 

Alguém pode actuar como mais velho, outro pode actuar como igual, e outro como mais novo, mas a atitude de todos é a de servir o Supremo Senhor e de quererem satisfazer os desejos do Supremo Senhor. Também nos nossos relacionamentos, porque existem diferenças de avanço e idade, alguém pode actuar como mais velho, outro como igual, e outro como mais novo. Contudo, independentemente do papel que tenhamos, a nossa atitude interna deve ser sempre a de servir os outros devotos, ajudá-los em consciência de Krsna e no serviço devocional, e fazê-los felizes. Quando adoptarmos essa atitude, Srila Prabhupada ficará feliz, Sri Sri Gaura-Nitai ficarão felizes, Sri Sri Krsna-Balarama ficarão felizes e, automaticamente, nós também ficaremos felizes.

 

Bala significa “força,” e rama quer dizer “prazer.” O Senhor Balarama é a fonte da força espiritual dos devotos. Ele é o mestre espiritual original e d´Ele podemos conseguir força espiritual. Uma vez, Srila Prabhupada comentou, “Força significa inteligência.” Portanto, podemos orar ao Senhor Balarama por força espiritual e inteligência para que possamos ser serventes fieis do nosso mestre espiritual, de Srila Prabhupada, dos outros serventes seus, e de todas as entidades vivas-porque na verdade, a missão de Srila Prabhupada é a de libertar todas as entidades vivas para a consciência de Krsna. Naturalmente que fazemos amizade com os devotos, mas também somos misericordiosos com os inocentes, tentando animá-los em consciência de Krsna. Tentamos encorajar os nossos superiores no seu serviço em consciência de Krsna, tentamos animar os nossos amigos na consciência de Krsna, e tentamos animar os mais novos em consciência de Krsna. Por tal serviço-dando, encorajando, e ajudando os outros-o Senhor Balarama pode ficar satisfeito.

Hare Krsna.

 

Têm algumas perguntas ou comentários?

 

Devoto: [inaudível]

 

Giriraja Swami: Estivemos a ler sobre o passatempo em que Brahma rouba os vaqueirinhos e os bezerros ao Senhor Krsna. Este foi o último capitulo do Srimad-Bhagavatam  que Srila Prabhupada traduziu enquanto jazia na sua cama, em Vrndavana. Ele estava muito débil. Os seus discipulos tinham que segurar o ditafone e colocá-lo perto de sua boca; tinhamos muitas dificuldades em ouvir o que ele dizia. E um dos últimos significados que ele ditou foi, “Devemos analisar o SrimadBhagavatam diáriamente, tanto quanto possível, e então tudo se tornará claro. Quanto mais lemos o Srimad-Bhagavatam, mais o seu conhecimento se tornará claro. Todos e cada um dos versos são transcendentais.” (SB 10.13.54 significado)

 

Portanto, um método de chegar a uma conclusão sobre um tema controverso é analisá-lo. Srila Prabhupada disse que devemos reunir-nos e analisar o assunto exaustivamente. Se não houver motivações pessoais, e se discutirmos com o propósito de chegarmos à conclusão apropriada, então-por escutar as ideias dos outros e clarificar as nossas, através da discussão-obtemos respostas, pela misericórdia do Senhor dentro dos corações dos devotos que sinceramente expõem o Seu serviço.

 

Mas por vezes-devido a que a consciência de Krsna é inconcebível-dois pontos de vista opostos podem estar certos. Uma coisa pode ser boa para uma pessoa mas não para outra, e é um sinal de maturidade apreciar tais diferenças e não estabelecer um braço de ferro por causa delas. Uma vez, logo depois de me ter unido aos devotos, viajava no carro do templo. Lembro-me que um devoto dizia que tínhamos que seguir um certo caminho para chegar ao nosso destino e outro dizia que deveríamos ir por outro. Ness altura, um devoto sábio e consciente de Krsna disse, “Ambos estão correctos porque os dois querem servir a Krsna da melhor maneira.”

 

Por vezes, não podemos dizer claramente qual é o melhor caminho. Pode haver um caminho mais curto que vai pela parte mais degradada da cidade, e outro mais extenso que é mais agradável à vista. Ou pode haver um caminho mais curto que gaste menos gasolina,e um caminho mais longo que seja mais rápido porque a estrada é melhor. Portanto, em termos absolutos, não podemos dizer qual o melhor: dependendo das circunstâncias, uma pessoa pode valorizar mais o seu tempo, e outra pode valorizar mais o seu dinheiro.

 

Assim que, é um sinal de imaturidade argumentar fortemente sobre um tema como se fosse absoluto quando na realidade não o é. Absoluto, é o desejo de servir a Krsna. Contudo, podem haver diferentes maneiras de O servir. Não necessáriamente um caminho tem que ser melhor que outro-pelo contrário, pode ser melhor para uma pessoa ou numa circunstância específica.

 

A minha própria conclusão é de que Srila Prabhupada tinha tanto amor pelas entidades vivas, e tanta energia, que conseguia fazer coisas que nunca ninguém conseguiu fazer. Mesmo a maior parte de seus irmãos espirituais não conseguiam sondar a sua grandeza. Por isso, eles aplicaram-lhe normas comuns, mas um critério assim, não era, na verdade, apropriado-porque ele era inconcevívelmente poderoso. (Ao mesmo tempo, Srila Prabhupada disse que não queria que a ISKCON se tornasse num culto de personalidade. Ele estava a ensinar uma ciência e queria que nós a conhecêssemos e a seguissemos.) Portanto, temos  que apreciar a grandeza de Srila Prabhupada. Pessoalmente sinto que, qualquer coisa que eu queira em consciência de Krsna, posso consegui-la de Srila Prabhupada. Não sinto que tenha que ir a outro sitio qualquer para a conseguir. Não sinto que falte alguma coisa naquilo que Srila Prabhupada nos deu.

 

Por vezes Krsna massajava os pés de lótus de Balarama, e algumas vezes Balarama massajava os pés de lótus de Krsna. Deste modo, algumas vezes Krsna era superior, outras um igual ou amigo, e ainda outras um júnior. Em qualquer posição fomos feitos para servir, e todo o serviço é absoluto. Numa carta, Srila Prabhupada escreveu a um discípulo: “A prática de servir os nossos irmãos espirituais é muito boa. O mestre espiritual nunca está sem os seus seguidores, portanto servir o mestre espiritual também significa servir os seus discípulos. Quando se serve o rei também se deve servir os seus ministros, os seus secretários, e todos os que o servem. E o rei pode ficar mais satisfeito se servimos os seus serventes do que se o servimos pessoalmente. Portanto o mestre espiritual não se encontra sózinho. Sempre está com o seu séquito. Não somos impersonalistas. Queremos servir a cada parte do todo, assim como cuidamos do chapéu e dos sapatos. Ambos são importantes para a manutenção do corpo.”

 

Uma vez, um irmão spiritual comentou que nós queremos Srila Prabhupada no centro, e os ritviks querem Srila Prabhupada no centro, mas a diferença é que eles querem Srila Prabhupada sem os associados enquanto que nós queremos Srila Prabhupada com os associados. Esse era o sentimento de Prabhupada e essa é a diferença entre um devoto neófito e um mais avançado. O devoto neófito só conhece a Krsna e o seu guru. Um devoto mais avançado pode reconhecer outros devotos e apreciar o relacionamento deles com Krsna e com o guru e ele, ou ela, também quer servi-los.

 

Na verdade, é inconcebível: inconcebivelmente uno e diferente. O sol e os raios do sol são a mesma coisa contudo, simultaneamente, não são  a mesma coisa. Ainda assim eles formam um todo completo. Portanto, Krsna com os Seus devotos são um todo completo, e servir Krsna sem servir os Seus devotos não é completo. De igual modo, Srila Prabhupada com os seus devotos é um todo completo e, só servir Srila Prabhupada sem servir os seus devotos não satisfará Srila Prabhupada tão completamente como se o servirmos com os seus outros serventes. Portanto, lutar por supremacia-supremacia filosófica, supremacia politica-não é a atitude que queremos ou necessitamos.

 

Mas existem outros que também queriam falar. Eles poderão dizer algo mais.

 

Murari Caitanya: [inaudível]

 

Giriraja Swami: Quando Murari Prabhu iniciou a sua pergunta, eu pensei na primeira vez que Tamal Krishna Goswami e Brahmananda Prabhu visitaram Boston. Naquela altura eles eram ídolos. Brahmananda disse algo que me tocou. Foi algo muito simples. Ele disse, “Todos queremos amor. Portanto, se tão só dermos a cada um o amor que queremos para nós próprios, ficaremos todos satisfeitos.”

 

Também sinto que precisamos de escutar e cantar mais sobre Krsna porque, só por nos sentarmos e cantarmos o maha-mantra Hare Krsna, o coração abre. Muitos problemas desaparecem simplesmente por cantar. Em 1977, Srila Prabhupada estabeleceu um programa aos Domingos, em Juhu, que consistia em cantar todo o dia no templo, desde as nove da manhã, até às nove da noite. Eu era o presidente do templo e estavamos com problemas (sempre existem problemas no mundo material), mas lembro-me, que a partir de quinta-feira, não lidava com eles porque sabia que no Domingo conseguia todas as soluções. E era sempre assim. Só por cantar, obtinha muitas respostas. A mesma situação ocorreu durante o pada-yatra. Quando estava com dificuldades com o visto e não podia entrar na India, fizemos pada-yatra nas Mauricias desde Radhastami de 1984, até Gaura Purnima em 1986 e aconteceu a mesma coisa: com a minha mente e inteligência, não conseguia descobrir as soluções para tantos problemas mas, simplesmente por cantar durante horas-caminhando e cantando-obtive muitas respostas. Num sentido, ISKCON é um veículo que transporta a consciência de Krsna mas, o verdadeiro meio, é o escutar, cantar e lembrar de Krsna.

 

Devoto: [inaudível]

 

Giriraja Swami: Ista-gosthi: ista quer dizer “desejável,” e gosthi significa “associação.” Portanto, é esse o significado. Devemos juntar-nos e falar sobre Krsna e o serviço a Krsna. Não quis sugerir que, como cantamos juntos, não precisamos de dialogar uns com os outros. Pelo contrário, quis dizer que, cantando juntos podemos criar um bom sentimento dentro de nós e entre nós para que, quando tenhamos que falar, seja mais espiritual e agradável. Até os assuntos mais práticos Srila Prabhupada tinha por costume discuti-los durante muitas horas. Por exemplo, uma vez Gargamuni fez uma importação de umas carrinhas Mercedes para o sankirtan viajante, mas nessa altura o governo indiano era muito estrito: ou pagava-se um imposto muito grande para o veículo entrar no país, ou então tinha que se tirar o veículo para fora do país no prazo de seis meses e mantê-lo fora por, pelo menos, mais seis meses. Assim, Gargamuni tinha feito esta importação e o tempo estava a aproximar-se para o desalfandegamento; de outro modo ele teria que pagar o imposto que era de 220% sobre o custo original. Foi um tema muito importante. Gargamuni perguntou a Srila Prabhupada, “O que devo fazer com as carrinhas? Devo levá-las para o Nepal e fico por lá a pregar durante seis meses e depois trago-as de volta ou devo enviá-las de volta para a Europa?” Literalmente, Srila Prabhupada passou horas com ele. Haviam tantas alternativas e tantos prós e contras.

 

Também no projecto de Juhu, Srila Prabhupada ficava connosco até altas horas da noite tentando descobrir o que fazer. É impessoal pensar, “Oh, eu só quero cantar o santo nome. Não me interessa nada deste mundo. Não quero falar nem fazer nada; só quero fundir-me no Brahman.” Não posso dizer quantas horas Srila Prabhupada dispendia tentando ajudar os devotos a encontrar soluções para os seus problemas. Sentia-se que ele estava connosco.

 

Mas, por vezes, ele também nos dizia que não o importunássemos tanto. Lembro-me que uma vez nós exagerámos. Íamos a ele com todo o tipo de perguntas práticas e administrativas que tivessemos e, finalmente, depois de se ter disponibilizado tão generosamente, bem como ao seu tempo, disse, “O guru não é uma máquina de perguntas-respostas.” Então disse, “Fulano de tal deve ser o vice-presidente e acabaram-se os argumentos. Agora tenho que traduzir os meus livros.”

 

Mas, sim, precisamos de dialogar. Em qualquer relacionamento, devemos ser capazes de dialogar.

 

Damodar Pandit: [inaudível]

 

Giriraja Swami: Muito obrigado por essa descrição emocionante. Recentemente, também passei por uma agitação. Depois, enquanto folheava o Bhagavad-gita deparei com o verso, api cet su-duracaro bhajante mam ananya-bhak sadhur eva sa mantavya: “Mesmo que alguém cometa acções das mais abomináveis, se estiver ocupado no serviço devocional, deve ser considerado santo, porque está devidamente ocupado em sua determinação.” “Devidamente ocupado” quer dizer ocupado em serviço devocional-mesmo se a pessoa comete a acção mais abominável.

 

Estava a ler o Bhagavad-gita juntamente com o livro que se intitula Surrender Unto Me, escrito por Bhurijana Prabhu. Bhurijana Prabhu inclui alguns comentários de acaryas anteriores e, num lugar, Srila Visvanatha Cakravarti Thakura desenvolve o diálogo entre Krsna e Arjuna, onde Krsna diz, “Declara abertamente que o Meu devoto jamais perece,” Srila Visvanatha Cakravarti Thakura parafraseia, “Ó Kaunteya, declara com tambores e címbalos, que meu devoto jamais perece.” Então Sri Visvanatha introduz um hipotético questionador. Quando Krsna diz que, mesmo se o devoto comete a acção mais abominável “ainda é considerado santo,” este questionador faz uma objecção, “Sim, ele pode ser considerado santo até ao ponto em que ele está ocupado em serviço devocional puro,” à qual o Senhor Krsna responde, “Não. Ainda que ele não esteja ocupado a cem por cento, deve ser considerado santo.” Então o questionador hipotético pergunta, “Mas, e se o devoto fracassa em abandonar o seu mau comportamento durante toda a vida?” Krsna responde, “Eu, Krsna, sou o Supremo Senhor e, mesmo que um devoto fracasse, jamais perecerá. Pelo contrário, na certeza que terá sucesso.”

 

Bom, quando eu li isso (e eu, nessa altura, sentia-me muito caído), tive uma realização semelhante aquela que acabas de descrever. (Penso que o que experimentei foi o extremo daquilo que tu experimentaste, porque eu tinha acabado de passar por uma cirurgia de coração aberto, e pensava, “Que falhado que sou! Nem sequer consigo executar a função mais básica de manter o corpo e a alma juntos. Sou um fracasso completo!”)  Entretanto quando li essa afirmação enfática e misericordiosa, realizei que, aos olhos de Krsna, pela graça dos acaryas, ainda sou considerado um devoto.

 

A outra realização que vivenciei nessa altura foi que, apesar de ser um devoto, também sou um indivíduo. Não existe um esteriótipo de como deve ser um devoto. Assim como não existem dois indivíduos iguais, também não existem dois devotos iguais. E o facto de eu não ser exactamente o mesmo que outra pessoa, que é um melhor devoto, não significa que eu não sou um devoto. Sendo um devoto, o meu ponto de vista é intrínsecamente válido porque, de uma ou outra forma sou um devoto-apesar de não ser tão influente ou exitoso ou erudito como outro devoto possa ser. Assim, penso que o que tu dizes está correcto: temos que aceitar a nossa própria individualidade para depois aceitar a individualidade dos outros. De outro modo, se tentarmos fazer uma estimativa de nós próprios em relação a uma fasquia artificial ou impossível de chegar e não aceitarmos a nossa própria individualidade, então, também faremos uma estimativa dos outros com a mesma fasquia artificial e observaremos que nós fracassamos, eles fracassam, todos fracassam e, como consequência, todo o processo torna-se deprimente.

 

Muitíssimo obrigado. Todas as glórias a Srila Prabhupada! Sri Balarama Prabhu ki jaya!

 

 

 

 

 

 

 

 

Written by nityananda108

Agosto 15, 2008 at 12:00 am

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Guru Purnima

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Guru-purnima

 

Uma Aula Dada por Giriraja Swami

29 de Julho, 2007

Dallas

 

 

om ajnana-timirandhasya jnananjana-salakaya

caksur unmilitam yena tasmai sri-gurave namah

 

sri-caitanya-mano ’bhistam sthapitam yena bhutale

svayam rupah kada mahyam dadati sva-padantikam

 

nama om visnu-padaya krsna-presthaya bhu-tale

srimate bhaktivedanta-svamin iti namine

 

namas te sarasvate deve gaura-vani-pracarine

nirvisesa-sunyavadi-pascatya-desa-tarine

 

vancha-kalpatarubhyas ca krpa-sindhubhya eva ca

patitanam pavanebhyo vaisnavebhyo namo namah

 

sri krsna caitanya prabhu nityananda sri advaita

gadadhara srivasadi-gaura-bhakta-vrnda

 

hare krsna hare krsna krsna krsna hare hare

hare rama hare rama rama rama hare hare

 

 

Hoje é Guru Purnima. Srila Prabhupada explicou que o sistema de honrar o mestre spiritual é comum em todas as secções dos seguidores védicos. Nas seitas Mayavadis (impersonalistas), os discípulos oferecem respeitos ao mestre espiritual uma vez por ano, em Guru-purnima. Na sampradaya Gaudiya Vaisnava, os discípulos oferecem homenagem anualmente, no dia do aparecimento do mestre espiritual; este dia é chamado Vyasa-puja porque o mestre espiritual representa Vedavyasa, a manifestação de Krsna com poderes excepcionais, que compilou as literaturas védicas e, o mestre espiritual fidedigno, apresenta o mesmo conhecimento através da sucessão discipular. Apesar de Guru-purnima ser geralmente celebrado pelos grupos Mayavadis, vamos aproveitar-nos desta oportunidade para falar sobre o princípio do guru-e glorificar o acaryasampradaya, porque hoje é o dia de Guru-purnima.

 

Guru é um assunto profundo. Nós cantamos, vande´ham sri-guroh sri-yuta-pada-kamalam sri-gurun vaisnavams ca. Oferecemos respeitos ao mestre espiritual, no singular, aos mestres espirituais, no plural, e a todos os Vaisnavas. O mestre espiritual, no singular, é o mestre espiritual pessoal, os mestres espirituais, no plural, são os acaryas predecessores, e os Vaisnavas são os seguidores do mestre espiritual. Oferecemos respeitos a todos eles, porque vêm na mesma linha, na sucessão discipular (parampara) que começa com o próprio Krsna.

 

Srila Prabhupada explica, “Oferecer respeitos ao mestre espiritual significa oferecer respeitos a todos os acaryas anteriores. Gurun encontra-se no plural. Os acaryas não são diferentes entre si, porque todos pertencem à sucessão discipular que começa com o mestre espiritual original e, portanto, não têm pontos de vista diferentes.” Deste modo oferecemos respeitos aos predecessores.

 

Similarmente, oferecemos respeitos aos seguidores. Srila Prabhupada continua a explicar, “Mestre espiritual significa alguém que deve ter muitos seguidores, que, por sua vez, são todos Vaisnavas. São chamados prabhus, e o mestre espiritual é chamado Prabhupada porque, a seus pés de lótus, estão muitos prabhus. Pada significa “pé de lótus.” Todos estes Vaisnavas são prabhus. A eles também se lhes oferece reverências-não somente ao mestre espiritual , mas também aos seus associados. E estes associados, os seus discípulos, são todos Vaisnavas. Portanto também a eles se lhes deve oferecer respeitosas reverências.” (Comentário de SP ao Mangalacarana, 8 de Janeiro, 1969)

 

Para nós, na ISKCON, Srila Prabhupada é o guru mais importante; ele é o acarya-fundador. Mas ele também tem os seus associados—Srila Gour Govinda Swami Maharaja, Srila Tamal Krishna Goswami Maharaja, Srila Sridhar Swami, Srila Bhakti Tirtha Swami, Srila Bhaktisvarupa Damodara Swami—isto para enumerar alguns que já partiram. Naturalmente que Srila Prabhupada está a ser servido, no presente, por tantos outros aos quais podemos servir e com os quais podemos aprender.

 

“Aquele que ensina pode ser tratado como mestre espiritual. . . . Todos os irmãos espirituais mais velhos podem ser tratados por gurus, porque nos instruem. Não há nenhum problema. Na verdade, assim como só temos um pai, também só temos um guru, que é aquele que nos inicia. Mas todos os Vaisnavas devem ser tratados por prabhu, mestre, superior a mim e, neste sentido, se eu aprendo dele, posso aceitá-lo como guru.” (Carta de SP datada de 20 de Novembro, 1971)

 

O guru original é Krsna. Ele fala o conhecimento do Bhagavad-gita e estabelece os princípios da religião. Dharmam tu saksad bhagavat-pranitam: os princípios de dharma-bhagavata-dharma, prema-dharma-são estabelecidos por Deus, a Pessoa Suprema. Não podemos manufacturar o dharma. Na verdade, dharma quer dizer “as leis de Deus” ou “as ordens de Deus.” Portanto, dharmam tu saksad bhagavat-pranitam: os princípios da religião são estabelecidos pelo próprio Senhor. Assim como não podemos fazer as nossas próprias leis, também não podemos inventar os princípios religiosos. Srila Prabhupada dá o exemplo de uns amigos que se reunem para fazerem as suas próprias leis. “Bom, agora penso que devemos legalizar a marijuana. Estão todos de acordo? Muito bem. Está aprovada.” A lei tem que, obrigatóriamente, ser estabelecida pelo governo, pelo parlamento ou pela legislatura. Do mesmo modo dharma é estabelecido por Deus.

 

dharmam tu saksad bhagavat-pranitam

 na vai vidur rsayo napi devah

na siddha-mukhya asura manusyah

 kuto nu vidyadhara-caranadayah

 

“Os verdadeiros princípios religiosos são decretados pela Suprema Personalidade de Deus. Embora plenamente situados no modo da bondade, nem mesmo os grandes rsis que ocupam os planetas mais elevados podem definir os verdadeiros princípios religiosos, tampouco o podem os semideuses ou os líderes de Siddhaloka, e isto para não mencionar os asuras, os seres humanos comuns, os Vidyadharas e os Caranas.” (SB 6.3.19)

 

A conclusão do Bhagavad-gita é sarva-dharma parityajya mam ekam saranam vraja-abandonarmos todas as variedades de dharmas e simplesmente rendermo-nos a Krsna. Para compreendermos estas verdades confidenciais sobre os princípios religiosos e o conhecimento do Bhagavad-gita, precisamos da ajuda dos mahajanas, as autoridades na consciência de Krsna—gurus.

 

svayambhur naradah sambhuh

 kumarah kapilo manuh

prahlado janako bhismo

 balir vaiyasakir vayam

 

dvadasaite vijanimo

 dharmam bhagavatam bhatah

guhyam visuddham durbodham

 yam jnatvamrtam asnute

 

“O Senhor Brahma, Bhagavan Narada, o Senhor Siva, os quatro Kumaras, o Senhor Kapila[o filho de Devahuti], Svayambhuva Manu, Prahlada Maharaja, Janaka Maharaja, o avô Bhisma, Bali Maharaja, Sukadeva Gosvami e eu próprio [Yamaraja] conhecemos o verdadeiro princípio religioso. Meus queridos serventes, este princípio religioso transcendental, conhecido como bhagavata-dharma, ou rendição ao Senhor Supremo e amor a Ele, não está contaminado pelos modos materiais da natureza. Ele é muito confidencial e difícil de ser entendido pelos seres humanos comuns mas se, por acaso, alguém tem a boa fortuna de compreendê-lo, liberta-se de imediato, e assim retorna ao lar, retorna ao Supremo.” (SB 6.3.20–21)

 

Este conhecimento confidencial é dado por Deus nas escrituras e transmitido através da sucessão discipular (evam parampara-praptam) às grandes almas, que por sua vez, transmitem-no aos seus seguidores entusiastas. De todas as escrituras, o Srimad-Bhagavatam é considerada a mais importante, o fruto maduro da árvore do conhecimento védico.

 

nigama-kalpa-taror galitam phalam

 suka-mukhad amrta-drava-samyutam

pibata bhagavatam rasam alayam

 muhur aho rasika bhuvi bhavukah

 

“Ó homens sábios e pensativos, saboreai o SrimadBhagavatam, o fruto maduro da árvore dos desejos das literaturas védicas. Ele emanou dos lábios de Sukadeva Gosvami. Portanto este fruto tornou-se ainda mais saboroso, apesar do seu sumo nectáreo já ser agradável para todos, até mesmo para as almas liberadas.” (SB 1.1.3)

 

Este fruto néctareo é-nos transmitido através da sucessão discipular. Ao comentar sobre este verso, Srila Visvanatha Cakravarti Thakura dá o exemplo de uma árvore de mangas. Para apanhar uma manga madura que esteja no cimo da árvore, vários rapazes sobem para diferentes ramos. O rapaz que está no cimo da árvore apanha a fruta e dá-a ao rapaz que está no ramo mais abaixo, que, por sua vez, a dá a outro que está no outro ramo e assim vai, até que chega finalmente àquele que está no chão-na mesma condição perfeita como quando estava no cimo da árvore. Foi passada intacta, tal como estava antes, sem ser machucada nem aberta.

 

No cimo da árvore está Krsna e Ele transmite o conhecimento a Brahma. Brahma transmite-o a Narada que por sua vez o transmite a Vyasa. (Hoje também se chama Vyasa Purnima porque Vyasadeva, que compilou a literatura védica, apareceu nesta data.) Vyasa transmite-o a Madhvacarya, etc—Caitanya Mahaprabhu, os Seis Gosvamis e mais tarde, Srila Bhaktivinoda Thakura, Srila Gaurakisora dasa Babaji Maharaja, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura e Srila Prabhupada. E agora os seguidores de Srila Prabhupada apresentam o mesmo conhecimento. Os mesmos ensinamentos são apresentados e seguidos por eles—essa é a sua única qualificação.

 

Srila Prabhupada escreveu sobre Vedavyasa: “Vyasadeva foi uma pessoa que existiu e é aceite por todas as autoridades e qualquer pessoa pode realizar o quão maravilhoso foi, por ter compilado as literaturas védicas. Portanto ele conhecido como Mahamuni. Muni significa “pensador” ou “grande pensador” ou “grande poeta” e maha significa ainda maior. Não existe nenhuma comparação entre Vyasadeva e qualquer outro escritor ou pensador ou filósofo. Ninguém pode estimar a importância académica de Srila Vyasadeva. Ele compôs muitos milhões de versos em sânscrito e nós, através de nossos esforços diminutos, tentamos receber um fragmento que seja desse conhecimento que existe neles. Portanto, Srila Vyasadeva sumarizou todo o conhecimento védico no Srimad-Bhagavatam, que é conhecido como o fruto maduro da árvore dos desejos do conhecimento védico. O fruto maduro é recebido de mão em mão através da sucessão discipular e qualquer pessoa que execute este trabalho em sucessão discipular a partir de Srila Vyasadeva, é considerado um representante de Vyasadeva, e como tal, o dia do aparecimento do mestre espiritual fidedigno é adorado como Vyasa-puja.” (Carta de Srila Prabhupada datada de 25 de Agosto de 1970)

 

Hoje, é não só Vyasa Purnima, o dia de aparecimento de Vedavyasa, mas é também o dia de desaparecimento de Srila Sanatana Gosvami, o mais sénior dos Seis Gosvamis de Vrndavana. O seu livro, Brhad-Bhagavatamrta, foi o primeiro trabalho literário importante dos Seis Gosvamis. Sanatana Gosvami também aparece na sucessão discipular a partir do Senhor Krsna e que passa por Brahma, mas ele é uma figura especialmente importante porque é um seguidor directo de Sri Caitanya Mahaprabhu, que é o próprio Krsna. Porque o Senhor Caitanya é Krsna, pode criar a sua própria sucessão discipular mas, porque actuava como um devoto, escolheu aceitar iniciação na sucessão discipular que começa com Krsna e Brahma. Contudo Ele é Deus e o processo que utilizou para impartir conhecimento aos Seus seguidores imediatos-Rupa e Sanatana Gosvamis-é comparado à forma como o Senhor Krsna impartiu conhecimento ao Senhor Brahma. No seu Caitanya-caritamrta Srila Krsnadasa Kaviraja Gosvami escreve sobre Rupa, o irmão mais novo de Sanatana Gosvami.

 

vrndavaniyam rasa-keli-vartam

 kalena luptam nija-saktim utkah

sancarya rupe vyatanot punah sa

 prabhur vidhau prag iva loka-srstim

 

“Antes que esta manifestação cósmica fosse criada, o Senhor iluminou o coração do Senhor Brahma, fornecendo-lhe os pormenores da criação, e manifestou-lhe o conhecimento védico. Da mesmíssima maneira, o Senhor, desejando ardentemente reviver os passatempos do Senhor Krsna em Vrndavana,imbuiu o coração de Rupa Gosvami de potência espiritual. Por meio desta potência, Srila Rupa Gosvami pode reviver as actividades de Krsna em Vrndavana, as quais estavam quase que completamente esquecidas. Dessa maneira, Ele propagou a consciência de Krsna por todo o mundo.” (Cc Madhya 19.1) O Senhor Caitanya outorgou-lhe poder para que escrevesse livros sobre a bhakti-yoga, e o mesmo pode ser dito acerca de Sanatana Gosvami.

 

Nós somos seguidores dos Seis Gosvamis—seguidores dos seus seguidores. Srila Narottama dasa Thakura ora,

 

ei chaya gosai yara-mui tara dasa

tan’-sabara pada-renu mora panca-grasa

 

“Eu sou o servente dessa pessoa que é um servente dos Seis Gosvamis. A poeira dos seus pés de lótus são os meus cinco tipos de alimento.”

 

E:

 

tandera carana sevi-bhakta-sane vasa

janame janame hoy ei abhilasa

 

“O meu desejo é que, nascimento após nascimento, eu possa viver com aqueles devotos que servem os pés de lótus dos Seis Gosvamis.”

 

Fomos muito afortunados em ter recebido em Santa Bárbara, há umas semanas atrás, quatro devotos provenientes de Dallas, díscípulos de Tamal Krishna Goswami—Dharma Prabhu e a sua esposa, a irmã desta, Saibya e a Mataji Padma. Nessa mesma altura também estava connosco Mayapur dasa, que foi o servente pessoal de Sridhar Swami durante muitos anos. Pensámos ser uma boa ocasião para glorificar esses dois serventes corajosos de Srila Prabhupada, esses dois pregadores poderosos, Tamal Krishna Goswami e Sridhar Swami. Foi muito inspirador e purificante. Todos os devotos falaram de uma forma muito bonita—cada um deles—na verdade podia-se perceber a presença de Tamal Krishna Goswami e de Sridhar Swami e verdadeiramente sentir essa união com Srila Prabhupada e os seus associados. Sua Santidade Niranjana Swami liderou o kirtana e também falou de uma forma muito bonita.

 

Na verdade sinto que estes líderes do movimento . . . Apesar de sermos todos irmãos espirituais, na medida em que fomos todos iniciados por Srila Prabhupada, existem alguns seguidores de Srila Prabhupada que foram—e são—verdadeiramente líderes do movimento e estão a mostrar o caminho para os outros seguirem. Certamente que Sua Santidade Tamal Krishna Goswami foi um grande pioneiro bem como Sua Santidade Sridhara Swami e os outros que eu mencionei. Mesmo agora os devotos continuam a seguir Srila Prabhupada e, ao liderar-nos, mostram-nos o caminho. Também nós estamos a tentar dar o nosso pequeno contributo, contudo, existem alguns que estão à nossa frente, mostrando-nos o caminho e tornando-o mais fácil, para que o possamos seguir. E isso é natural. Sempre haverá esta situação.                                       

 

Ao mesmo tempo, é algo muito pessoal e individual—quem é que Krsna utiliza para falar com esta ou aquela pessoa. Nem todos têm que seguir uma pessoa em particular. Krsna pode manifestar-Se—Srila Prabhupada pode manifestar-se—através de diferentes serventes, diferentes Vaisnavas, e devemos estar receptivos a esse fluir de misericórdia, não nos importando como chega até nós, ou quem a transporta. Não é algo esteriotipado, ou fixo, ou rígido. Essa misericórdia pode chegar de diferentes maneiras e devemos estar receptivos a ela. Na verdade, este é o princípio de guru: as instruções de Krsna chegam até nós através de algum servente de Krsna, algum representante de Krsna—e não está limitado a uma única pessoa. Krsna pode falar connosco através de muitas bocas, de muitas personalidades, e devemos estar com o coração aberto a essa guia. Devemos colocar as Suas instrucções sobre a nossa cabeça e segui-las. É desta maneira que Krsna guia as almas condicionadas de volta a casa, de volta ao Supremo. Ele pode ocupar diferentes serventes para nos ajudarem;e Deus sabe que precisamos de toda a ajuda possível. Portanto, não devemos ser sectários. Não nos devemos fechar ao fluxo de misericórdia que possa chegar até nós pelo arranjo do Supremo, pelo arranjo de Srila Prabhupada, ou pelo arranjo de qualquer um de nossos mestres espirituais.

 

Eu medito sempre no exemplo de Raghunatha dasa Gosvami, porque teve muitos gurus. Naturalmente que era um associado directo do próprio Senhor Caitanya mas, mesmo assim, ele foi ajudado por muitos bem-querentes e guias. Primeiro, foi iniciado por Yadunandana Acarya, o mestre espiritual da família de Raghunatha. O próprio Yadunandana Acarya era um Vaisnava muito importante, um discípulo iniciado de Advaita Acarya e um estudante íntimo de Vasudeva Datta. Balarama Acarya, um associado muito querido de Haridasa Thakura, era o sacerdote da família de Raghunatha. Raghunatha também aprendeu dele. Balarama Acarya e Yadunandana Acarya eram ambos amigos e costumavam hospedar Haridasa Thakura em suas casas. Durante algum tempo, Balarama Acarya disponibilizou a Haridasa uma cabana de palha e prasada,e simultaneamente,enquanto estudante, Raghunatha visitava Haridasa Thakura diáriamente; está dito que devido à misericórdia que recebeu de Haridasa, Raghunatha alcançou a misericórdia de Sri Caitanya Mahaprabhu. Certa vez, Balarama Acarya convidou Haridasa Thakura para palestrar na assembleia da família de Raghunatha, os Majumdars, e assim Raghunatha pode escutá-lo novamente acerca das glórias do santo nome.

 

A seu devido tempo, Raghunatha dasa encontrou-se com Nityananda Prabhu em Panihati, onde recebeu a Sua benção de que se libertaria de todos os obstáculos e alcançaria refúgio aos pés de lótus de Sri Caitanya Mahaparabhu. Em breve Raghunatha fugiu de casa, viajou a pé para Puri, e alcançou o refúgio misericordioso de Sri Caitanya Mahaprabhu—pela misericórdia de Nityananda Prabhu. Então, Caitanya Mahaprabhu confiou Raghunatha dasa a Svarupa Damodara Gosvami: “Eu confio-te Raghunatha. Por favor aceita-o como teu filho ou servente.” Raghunatha ainda era muito jovem; tinha mais ou menos vinte e dois anos. Então, o Senhor agarrou na mão de Raghunatha e, pessoalmente, colocou-o aos cuidados de Svarupa Damodara Gosvami. Deste modo, Raghunatha tornou-se o assistente de Svarupa Damodara. Svarupa Damodara era o secretário de Sri Caitanya Mahaprabhu e Raghunatha dasa tornou-se, na prática, o secretário assistente.

 

Depois de Caitanya Mahaprabhu ter abandonado este mundo, seguido por Svarupa Damodara e por quase todos os outros associados íntimos, Raghunatha dasa sentiu-se vazio: “Estou completamente sózinho. Não existe nenhuma razão para eu continuar a viver. Como posso eu viver sem os meus prabhus, sem todos os meus mestres?”

 

Raghunatha dasa sentiu tanta saudade, que decidiu ir a Vrndavana ver os pés de lótus de Rupa e Sanatana e depois abandonar a sua vida saltando da Colina de Govardhana. Entretanto os dois irmãos não lhe permitiram morrer. Eles convenceram-no a permanecer com eles e falar sobre os últimos passatempos de Mahaprabhu. “Não deves desistir de viver.” disseram-lhe eles. “Estiveste com Sri Caitanya Mahaprabhu em Puri onde foste testemunha de muitos de Seus passatempos íntimos. Deves permanecer connosco para contar-nos acerca das tuas vivências com Ele.” E eles aceitaram-no como o seu terceiro irmão. 

 

Sanatana Gosvami, em particular, deu-lhe refúgio e cuidou dele. Nos primeiros dias, em Radha Kunda, quando Raghunatha dasa Gosvami fazia o seu bhajana, nao tinha nenhum lugar onde residir. E enquanto fazia o seu bhajana estava completamente alheio ao que acontecia à sua volta. Ele recitava mas tornava-se muito difícil porque entrava em transe. Contudo, ele recitava no minimo cem mil nomes. Por vezes, acontecia que ele recitava um nome e entrava em transe profundo enquanto os passatempos de Krsna se manifestavam em sua mente. Um dia, enquanto o sol escaldante brilhava sobre a sua cabeça, ele estava a recitar o nome de Krsna e a lembrar-se dos passatempos de Krsna. Sem o seu conhecimento, porque estava meditando profundamente, Srimati Radharani aproximou-se com um tecido e colocou-o sobre a sua cabeça. Ao aperceber-se disto, Sanatana Gosvami construiu, pessoalmente, um bhajana-kutir para Raghunatha dasa Gosvami. Ele cuidou de Raghunatha dasa em todos os aspectos.

No seu livro Vilapa-kusumanjali, Raghunatha dasa Gosvami começa por oferecer os seus respeitos aos seus gurus. Na literatura devocional escrita em sânscrito, os seus autores começam por oferecer respeitos aos seus gurus e às suas Deidades adoráveis. Por isso, no principio, ele oferece os seus respeitos a Sanatana Gosvami.

 

vairagya-yug-bhakti-rasam prayatnair

  apayayan mam anabhipsum andham

krpambudhir yah para-duhkha-duhkhi

 sanatanas tam prabhum asrayami

 

“Eu estava pouco disposto a beber o néctar do serviço devocional impregnado de renúncia, mas Sanatana Gosvami, devido à sua misericórdia sem causa, obrigou-me a bebê-lo apesar de, por minha conta, não ser capaz de o beber. Portanto, ele é um oceano de misericórdia. Ele é muito compassivo para com as almas caídas do meu calibre e por isso é meu dever prestar as minhas respeitosas reverências a seus pés de lótus.” (Vilapa-kusumanjali 6)

 

Neste verso, Raghunatha dasa Gosvami descreve Sanatana Gosvami com uma frase que Srila Prabhupada citou frequentemente (para todos os Vaisnavas compassivos): para-dukha-dukhi—“ele sentia tristeza na tristeza dos outros.” Raghunatha dasa diz, vairagya-yug-bhakti-rasam prayatnair—ele deu-me o néctar do serviço devocional enriquecido com renúncia; anabhipsum andham—mas eu não estava disposto (anabhipsum) a bebê-lo, porque eu estava cego (andham) ao meu bem-estar espiritual; portanto apayayan mam—ele obrigou-me a bebê-lo. Sanatana Gosvami é um oceano de misericórdia (krpambudhi), e, portanto, eu presto-lhe as minhas respeitosas reverências. Refugio-me nele, meu mestre (prabhum asrayami).

 

Srila Prabhupada parafraseou este verso quando compôs um outro em honra de seu sannyasa-guru, Srila Bhaktiprajnana Kesava Gosvami Maharaja. Ele usou quase as mesmas palavras. A ideia que transmite o verso, é de que é muito difícil abandonar as algemas da vida familiar. Naturalmente que se pode ser um devoto puro no grhastaasrama-isso é outra coisa-mas para a pregação, aconselha-se a sannyasa.

 

Como descreve Srila Prabhupada, ele tinha uns sonhos-na linguagem moderna de psicologia pode-se falar de pesadelos sucessivos-em que seu guru maharaja lhe pedia para que o seguisse e pregasse. Ele costumava despertar-se horrorizado. Assim descreveu Prabhupada a experiência: “Como posso aceitar sannyasa e tornar-me um mendigo? Como vou eu abandonar a minha esposa e filhos? O que é que vai acontecer no futuro?” É uma longa história mas eventualmente Prabhupada aceitou vanaprastha. Ele foi para Jhansi e aí estabeleceu a Liga dos Devotos. Mas houveram algumas intrigas. A esposa do governador queria a propriedade que Srila Prabhupada estava a usar para a Liga dos Devotos. Ela fez todo o possível para conseguir esta propriedade para uns programas com senhoras e, devido a que era muito influente, Prabhupada decidiu não lutar contra ela. Ele então decidiu ir para Mathura, e permanecer na matha de seu irmão espiritual Bhaktiprajnana Kesava Gosvami Maharaja. E Kesava Maharaja insistia, “Deves aceitar sannyasa.” Para aceitar plenamente a ordem do mestre espiritual e pregar, o devoto deve aceitar a ordem renunciada de vida. Foi o que fez Prabhupada. Aceitou sannyasa.

 

Então, em 1968—os primeiros dias do movimento no Ocidente—em Seatle, Srila Prabhupada recebeu a notícia que Sua Santidade Kesava Maharaja tinha falecido. Nessa altura, convocou uma reunião com os seus discipulos para falar sobre a história de como seu guru maharaja e o seu irmão espiritual o “forçaram” a aceitar sannyasa: “O meu irmão espiritual insistiu. Na verdade ele não insistiu-foi o meu mestre espiritual que insistiu através dele: `Tens que aceitar.´ Ele queria que eu me tornasse um pregador, assim que ele forçou-me através do meu irmão espiritual: `Tens de aceitar.´ Foi assim que, contra a minha vontade, eu aceitei.”

 

Srila Prabhupada apercebeu-se que o seu mestre espiritual actuou através do seu irmão espiritual, falando através dele—também um vaisnava—e assim ele compôs este verso, muito semelhante áquele composto por Raghunatha dasa a Sanatana Goswami—mas para Kesava Maharaja. Apayayan mam anabhipsum andham. “Eu não queria tomar o medicamento de Bhakti com desapego, porque me encontrava cego. Não podia antever o meu futuro, que a vida espiritual é o futuro mais brilhante. Então, os vaisnavas, o mestre espiritual, forçaram-me: “Deves tomar este medicamento.” Sri-kesava-bhakti-prajnana-nama krpambudhir yas tam aham prapadye: “Sri Bhaktiprajnana Kesava é um oceano de misericórdia, e eu ofereço-lhe as minhas respeitosas reverências.”

 

Em Vrndavana, Sanatana Gosvami era um grande refúgio para os Vaisnavas. Ele era não só inteligente—todos os Gosvamis eram muito inteligentes—mas também era muito perspicaz, ou esperto. Ele compreendia a diplomacia e a política. Está dito que Rupa Gosvami era muito simples, mas Sanata Gosvami era muito astuto; ele era capaz de compreender as motivações e intenções das pessoas. Assim, ele era capaz de proteger os devotos na mais práctica das formas, porque ele tinha esse tipo de inteligência. E ele protegeu Raghunatha das Gosvami a todos os níveis.

 

Então, no dia de Guru-purnima, devido a que Sanatana Gosvami era o mais velho de todos os Gosvamis e o siksa-guru de praticamente todos os habitantes de Vrndavana, os Vaisnavas foram até Govardhana para lhe prestar respeitos. Ao chegarem ao seu bhajana-kutira em Manasi-ganga, observaram que ele estava em transe. Práticamente não se movia. Então eles esperaram. Não queriam perturbá-lo.

 

A seu devido tempo, eles compreenderam que Sanatana tinha abandonado o corpo, e ficaram dominados por sentimentos de separação. Eles levaram-no em parikrama à Colina de Govardhana. Sanatana Gosvami executava fielmente parikrama da Colina de Govardhana todos os dias. No entanto, eles não tinham a certeza acerca do local onde deveriam depositar o seu corpo. Então, Jiva Gosvami, que era o líder depois de Sanatana, decidiu que deveriam trazê-lo de volta a Vrndavana, para perto do templo da deidade de Madana-mohana, que ele tanto adorava. Tudo isto aconteceu no dia de Guru-purnima.

 

Podemos observar como os devotos se ajudavam uns aos outros. Todos se entreajudavam. No Sri Caitanya-caritamrta, encontramos que os Vaisnavas estavam sempre a ajudar-se entre si. Devemos aprender com o seu exemplo. Devemos desenvolver esse sentimento. Obviamente, a ajuda pode manifestar-se de formas diversas. Por vezes manifesta-se em termos de instrução, outras vezes manifesta-se de maneiras mais prácticas, como aconteceu com Sanatana Gosvami ao construir um bhajana-kutira para Raghunatha dasa Gosvami. Estes devotos excelsos estavam sempre a servir uns aos outros—a servir Sri Caitanya Mahaprabhu e a servirem-se mutuamente. Esse deve ser o nosso sentimento: servirmos uns aos outros, ajudarmos verdadeiramente uns aos outros—e aprendermos uns com os outros.

 

No décimo-primeiro canto do Srimad-Bhagavatam, escutamos como um avadhuta brahmana aceitou lições dos outros, dos vinte e quatro siksa-gurus: dos elementos da matéria, dos fenómenos naturais, plantas, animais—até de uma prostituta. Através da sua inteligência, ele aprendeu de todos eles, e aceitou-os a todos como gurus. Por exemplo, da montanha ele aprendeu que uma pessoa santa deve dedicar todos os seus esforços ao serviço dos outros, fazendo do seu bem-estar a única razão de sua existência (assim como aprendemos com a colina de Govardhana). Da cobra python ele aprendeu que se deve abandonar o esforço material e aceitar aquilo que vem por si mesmo—deve-se permanecer pacífico e fixo, indiferente ao ganho material, mas sempre alerta para a auto-realização. Até com Pingala, a prostituta, ele aprendeu. Porque ela não tinha outra fonte de rendimento, estava muito ansiosa pela chegada dos clientes. Uma noite ela esperou, esperou, esperou, e aínda assim, não apareceu nenhum cliente. Finalmente, na calada da noite, ela sentiu-se angustiada com a sua situação e desapegou-se dela. Com Pingala ele aprendeu o desapego—e o apego à Suprema Personalidade de Deus, que ela aceitou como o seu refúgio último e objecto de amor.

 

Assim sendo, podemos aprender com tudo e com todos. Se estivermos sinceramente a tentar servir Krsna e a tentar compreender qual a melhor forma de servi-Lo, o Senhor no coração dar-nos-á a inteligência com a qual podemos aprender com os outros—até mesmo com as árvores e a erva. Caitanya Mahaprabhu glorificou as árvores e a erva, porque com elas aprendemos a ser tolerantes e humildes. Assim, podemos aprender com tudo e com todos.

 

Podemos aprender até com os demónios—e estamos cercados por eles. Grandes homens de negócios, são muito espertos com a sua propaganda e outras estratégias. Devemos ser assim, muito perspicazes e espertos para Krsna. Os líderes materialistas planeiam como  atraír as pessoas às suas redes, encurralando-as e prendendo-as. Podemos aprender com tais materialistas poderosos como atrair as pessoas e mantê-las, para Krsna-podemos aprender a ser organizados e inteligentes, para Krsna. Se os nossos sentimentos forem os correctos, tudo nos recordará o serviço devocional, e tudo poderá ser usado para Krsna. Todos podem ser um siksa-guru, se estivermos absortos no serviço a Krsna, se estivermos fixos em consciência de Krsna.

 

Mas em particular, e especialmente em ocasiões como a de hoje, devemos oferecer as nossas humildes reverências aos nossos diksa- e siksa-gurus, na sucessão discipular que se ínicia com Krsna, a Brahma, a Narada, a Vyasa, a Caitanya Mahaprabhu, a Sanantana Gosvami, e de Srila Prabhupada para os seus seguidores, que inclui todos vós.

 

Muito obrigado.

 

Hare Krsna.

 

 

 

 

 

Written by nityananda108

Agosto 5, 2008 at 1:14 pm

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